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O Pirralho: orgam dos alunos do Instituto Universitario

por Maria Ione Caser da Costa
O Pirralho: orgam dos alumnos do Instituto Universitario foi lançado em Manaus, capital do estado do Amazonas, em 5 de outubro de 1915. O diretor foi Raimundo Azevedo Souza tendo como redatores os discentes Leopoldo Peres, Manoel da Rocha Barros, Oswaldo Cruz Saldanha, Augusto Maués, Arnaldo Peres, Humberto Vianna e José Baptista, conforme relação apresentada logo abaixo do cabeçalho. A partir do número 7, de março de 1916, passa a publicação passa a ter Manoel da Rocha Barros na função de diretor. Todos os colaboradores foram alunos do Instituto Universitário.

O número avulso foi vendido por 200 réis. As assinaturas mensal e trimestral valiam $500 e 1$500, respectivamente. Toda correspondência referente à publicação deveria ser encaminhada para a rua Dr. Moreira, nº 36.

O editorial, com o título “A nossa conducta”, relata com educação e prudência o que desejam seus editores. Eis um excerto:

Producto dos esforços incançaveis de uma pleiade de jovens, alumnos do Instituto Universitario Amazonense, surge hoje modesto jornalzinho, no que o velho Portugal, cheio de tradições, a nossa patria co-irmã, commemora a instituição do regimen democratico – sonho dourado de Theophilo Braga, Guerra Junqueiro e tantos outros, cujos nomes aureolados ficarão nas paginas brilhantissimas da historia portugueza.
O PIRRALHO, que apparecendo na arena do jornalismo indigena constitue o exito de bellas aspirações e de um fim ha muito almejado, jamais se deixara arrastar nas malhas da politicagem e evitará sempre que fôr possível terçar armas com os seus collegas, e muito especialmente com aquelles que não trepidam usar de linguagem de viella para ferir os seus adversários.
O nosso fito principal no seio da mocidade amazonense, é discutir em linguagem polida assumptos litterarios, procurando desenvolver o cyclo das lettras entre os nossos jovens patricios, despresando a critica offensiva e o vocabulario de baixo calão. [...]
Eis a nossa conducta!
O Instituto Universitário Amazonense foi o primeiro educandário do estado do Amazonas. Fundado em 11 de abril de 1909 sob a direção de Alberto Correa. Mais tarde assume a direção do Instituto o alagoano José Chevalier Carneiro de Almeida (1882-1940). Apesar do nome fazer menção a uma instituição universitária, era uma escola de ensino fundamental e médio. Funcionou em um imóvel que ainda existe na rua Dr. Moreira, esquina com a rua Quintino Bocaiuva.

O exemplar número 6 de O Pirralho, publicado em fevereiro de 1916, estampa a fachada do Instituto Universitário. Em pesquisa recente na web foi possível vê-lo em foto de fevereiro de 1965, no acervo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A última página de quase todos os exemplares apresenta a propaganda do Instituto Universitário: “querendo V. Exc. colocar um filho ou protegido numa casa de educação, em Manáos, faça primeiro uma visita ao Instituto Univesitario, primeiro educandário para meninos do Estado”. E acrescentava: “ensino primário, secundário e artístico. Educação intellectual, physica, moral e cívica”.

O Pirralho publicou contos, poesias, charadas, concursos, enigmas e notícias da sociedade estudantil. A seguir um soneto de Fontoura Xavier que homenageia a vitória-régia, planta típica da região Amazônica.

Imperator et rex

No oitavo dia Deus disse-lhe: Tu agora
Serás o rei dos reis no teu proprio elemento
Os teus dominios vão d’aqui n’um comprimento
De mais de sete mil kilometros mar fora.

Sejas tu o habitat do que a fauna e a flora
Conceberem de extranho: ouro fosco-carrento
Sejam-te o throno e o leito; ouro, o teu firmamento,
E a tua vida de ouro auriperenne aurora!

Calou-se. Poz-lhe á fronte a corôa dos Andes;
Poz-lhe o manto imperial, de umas dobras tão grandes
Que alagaram n’um mar, cobrindo quatro zonas!

E saltou no seu curso, erguida a fronte egregia,
Ostentando no seio a gran Victoria Regia,
O majestoso rio e mar das Amazonas.

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