BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Jangada: revista literaria mensal

por Maria Ione Caser da Costa
A Jangada: revista literaria mensal, foi editada em Fortaleza, capital do estado do Ceará, iniciando sua publicação no dia 21 de abril de 1909[*]. Da coleção preservada na Biblioteca Nacional, que pode ser consultada pela Hemeroteca Digital, não fazem parte os exemplares de lançamento.

Constam na coleção 14 fascículos, publicados entre os anos de 1909 e 1912. De 1909, apenas o número 4, publicado em 31 de julho.  O número 9, foi erroneamente datado como sendo de fevereiro de 1909, mas a publicação é de fevereiro de 1910, como pode ser comprovado nas matérias a seguir:  o primeiro artigo do exemplar, com o título “Um patrício eminente”, discorre sobre a “perda com o desapparecimento do preclaro brasileiro Joaquim Nabuco”, que faleceu em 17 de janeiro de 1910. Outra notícia publicada nesse exemplar foi: “ainda não estavam apagadas as impressões pesarosas que aquella morte nos causara, e uma outra noticia nos chega, tambem de morte e agora no mundo medico, a do Dr. Barata Ribeiro.” O falecimento do referido médico ocorreu a 10 de fevereiro de 1910.

Além desses exemplares, constam também preservados os seguintes fascículos: os números de 11 a 15, de 1910, 18 ao 21, publicados em 1911, e, os números 22 até o 24, publicados em 1912.

Uma nota no expediente da revista, informa que “A Jangada publicar se-á em dias indeterminados do mez”, portanto não havia regularidade nas datas de publicação.

Compunham o corpo redacional de A Jangada: Liberato Nogueira, Mario Romulo Linhares (1889-1965), Ozorio Gomes, Ulysses Bezerra (1865-1920), Junqueira Guarany, Genuino de Castro (1883-1937), Jayme de Alencar, Elcias Lopes, José Gil Amora (1855-1888), Moreira de Azevedo e José de Aguiar.

Medindo 21cm x 30cm, a partir do número 18, o exemplar diminui para 17,5cm x 25cm. Foi impresso nas oficinas da Escola de Aprendizes Artífices do Ceará. Todas as capas de 1909 e 1910 são estampadas com a pintura de uma jangada a vela, em meio ao mar, com o perfil de alguns jangadeiros e, ao final, o sol se pondo. A assinatura da pintura pode ser “A. Reiz”, entretanto, nada foi encontrado sobre o desenho ou seu autor.

Além dos redatores, A Jangada publicou também os escritos de Alba Valdez (pseudônimo de Maria Rodrigues, 1874-1962), Antônio Drumond (1882-1930), Luiz Delfino, Cruz Filho, Cyrilino Pimenta, Genuino de Castro, Leonardo Motta, Manoel G. dos Santos, Papi Junior (Antônio Papi Junior, 1854-1934), Livio Barreto (1870-1895), dentre vários outros nomes da literatura, consagrados ou não. A seguir, o soneto “Último desejo”, de Livio Barreto, publicado na capa do exemplar número 4, como homenagem póstuma. Lívio Barreto foi membro da Padaria Espiritual.

Ultimo desejo

Quando vier a Morte, ouve-me, escuta
A minha triste e ultima vontade:
Ella resume a minha mocidade
Que crepuscúla e pallida se enluta.

Trago no seio muita dôr occulta
Muita tortura, muita ansiedade:
Esta – filha do amor e da saudade,
- Nascida aquella da passada luta.

Quero porem, a Dens, livre de penas,
Subir, alar-me ás regiões serenas.
Ouve-me pois: não tremas nem descores...

Respeita a minha campa humida e fria,
Não n’a ultrage tua hypocrisia:
- Sim! Em nome das Lagrimas, não chores!

 

[*] Conferir editorial do dia 21 de abril de 1910 http://memoria.bn.gov.br/DocReader/259535/24

Parceiros