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Boa nova: revista mensal illustrada

por Maria Ione Caser da Costa
Lançada em julho de 1933 no Rio de Janeiro, então Capital Federal, e dirigida por Samuel Lima Rocha, a publicação recebeu o título de Bôa nova: revista mensal illustrada, que na grafia original, a primeira palavra recebia acentuação tônica. Propriedade da Empreza Graphica “Bôa Nova”, sua redação estava situada na avenida Mem de Sá, 261.

O segundo exemplar preservado no acervo da Biblioteca Nacional é o número 4, lançado em outubro de 1933. Nesse período já havia sido promulgado o Decreto nº 23.028, de 2 de agosto de 1933, que tornou obrigatória a nova ortografia. A partir de então, a primeira palavra do título da revista perde a acentuação tônica.

O número avulso de Boa nova foi vendido por 500 réis, e a assinatura anual valia 5$000, valor que deveria ser enviado “à Gerencia de “Bôa nova”. Os editores aceitavam colaboração “expontanea” de “contos, novelas, versos ou que nos fôr chegando, enviada pelos leitores”, e informam também que “será aproveitada, sempre que tiver merito litterario ou artístico”, afirmando entretanto, que “os originais inaproveitados não serão devolvidos”.

Publicação com todas as primeiras e quartas capas ilustradas com desenhos em cores fores e vibrantes, em sua maioria o rosto de mulheres ou cenas comemorativas. A partir do número 57, de abril de 1938, as capas passam a ser ilustradas com modelos vivos, não mais pinturas. As folhas internas também apresentam muitas ilustrações, mas nem todas são coloridas.

“Marcando rumo” grafado em letras vermelhas, diagramado no centro da primeira página, é o título do editorial, onde os responsáveis apresentam aos leitores suas pretensões e apresentam seus propósitos.

 
A “BÔA NOVA” não vem preencher uma lacuna, como é de estylo dizer, nos preambulos de apresentação.

Qualquer publicação em lettra de fôrma, quando não seja coisa de alta monta, terá o merito de despertar a curiosidade da leitura aos que a ella são, por indole ou por habito, avessos.

É portanto, a revista tambem um poderoso instrumento de instrucção ou melhor ainda de alphabetisação das massas.

Por este aspecto a “BÔA NOVA” não é uma inutilidade...

Seremos e queremos ser um “magazine” eminentemente popular. Sómente isto. O indice da tiragem da “BÔA NOVA”, podemos affirmar, sem temer contradicta, attinge a proporções jamais alcançadas por publicações congeneres.

O presente numero, que é o inaugural, circulará com 60 mil exemplares levando 44 paginas de texto; em Julho ainda com 60 mil. Em Agosto e Setembro com 75 mil. Em Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro a tiragem será, e tudo está assentado para que assim aconteça, de 100 mil exemplares.

Batemos, indubitavelmente, de uma maneira impressionante, o “record” da circulação no Brasil, até a data presente, no gênero revista. [...]

Nós somos uma perfeita empreza jornalistica. Os processos é que mudam. Cobrando um quasi nada pelo custo da revista, em verdade quem paga é a propaganda. A “BÔA NOVA”, sem ares pretenciosos está certa de que agradará.

O presente numero vem repleto de leitura amena e variada. E, assim, se seguirão os outros, para o que contamos, em primeira linha, com a bôa acolhida do leitor amável...

Boa nova se apresentou com requinte e ótima diagramação. Como afirmado em seu editorial, a publicação seria uma “revista moderna, de 40 a 60 paginas, com capa a cores, ilustrações originaes, texto amplo e sellecionado”.

Ainda de acordo com os responsáveis pela publicação, em suas páginas podem ser encontrados “contos, novelas, secções de informações, de modas e bordados, vasto noticiário sobre a vida intellectual brasileira, concursos de producções literárias, palavras cruzadas, desportos, etc.”

Toda a coleção que está preservada na Biblioteca Nacional pode ser consultada na Hemeroteca Digital. O último número é o 82 que corresponde aos meses de julho a outubro de 1940. Foi o sétimo ano de publicação que, tendo iniciado com fascículos mensais, percebe-se que em determinados períodos, os meses foram aglutinados em um único número.

A coleção se manteve com o mesmo formato, número de páginas de acordo com a proposta inicial. Vários colaboradores são encontrados em suas páginas, alguns anônimos, outros já consagrados. Para ilustrar, escolhemos o poema “Vasio”, de Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), que se afirmou como poeta da segunda geração do Modernismo no Brasil.

 

Vasio

A poesia fugiu do mundo...

O amor fugiu do mundo...

Restam sómente as casas,

Os bondes, os automoveis, as pessoas,

Os fios telegraphicos estendidos,

No céo, os annuncios luminosos.

 

A poesia fugiu do mundo,

O amor fugiu do mundo.

Restam sómente os homens,

Pequeninos, apressados, egoistas e inuteis.

Resta a vida que é preciso viver.

Resta a volupia que é preciso matar.

Resta a necessidade de poesia que é preciso contentar.

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