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Maria Peregrina de Souza

por Maria do Sameiro Fangueiro
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Maria Peregrina de Souza nasceu no Porto, Portugal, em 13 de fevereiro de 1809, e morreu nesta mesma cidade, em 16 de novembro de 1894. Foi poetisa, romancista e folclorista. Era filha de António Ventura de Azevedo e de Maria Margarida de Souza Neves.


Jovem já demonstrava inclinação para a escrita literária. Sua primeira oportunidade surgiu quando teve um de seus poemas impresso no jornal lisboeta Archivo pitoresco: semanário ilustrado, editado por Castro Irmão e Ca. Ltda, publicação existente entre 1857-1868. Utilizava pseudônimos como Mariposa, as iniciais D.M.P. e Uma obscura portuense.


Maria Peregrina teve sua obra divulgada em diversas revistas e jornais em seu país.  Citamos O Arquivo popular, Revista universal Lisbonense, Aurora, O Lidador, Bardo, Pobres do Porto, Grinalda e Miscelânea poética. A revista Iris, do Rio de Janeiro, imprimiu em suas páginas, quatro de seus poemas: Amoura de Lissibone, Ricardo e Margarida, e Bernardo Del Carpio, que aparecem no v.1, de 1848, nestes, a autora assina como D. Maria Peregrina de Souza Monteiro. No v.2 desta mesma revista, e sob o pseudônimo de Mariposa, escreveu, O passeio do cimeterio em vão. Publica também na revista Os Collegas, assinando como Maria Peregrina de Souza.


Dentre os livros escritos figuram os romances Retalho do mundo: romance, (1859), Henriqueta (1863), Roberto (1864), Maria Isabel (1866. Este último, publicado inicialmente como folhetim na revista Esperança, em 1865. Existe, ainda, registrado como de sua autoria dois romances sem data: Chácara e Tradições populares do Minho.


Seu talento foi definitivamente consagrado por António Feliciano de Castilho (1800-1875), escritor português, que estimulou seu trabalho, dando-lhe apoio sempre. Foi ele que escreveu sua biografia, publicada no terceiro tomo da Revista Contemporânea de Portugal e Brazil, no ano de 1861. Mais adiante, em 1935, foi biografada por Adolfo Farias de Castro (1904-19-- ?).


Apresentamos a seguir um trecho de Bernardo de Carpio, escrito na revista Iris, e o poema completo Tristeza e consolação, publicado em Os Collegas. A originalidade da linguagem que utiliza faz com que lembremos ao leitor que a grafia que aparece aqui, copia sem alterações o original.



 Bernardo de Carpio.


              I.

Sentada n’um escabello,
Elvira Sanches fiava.
Já lhe-incanece o cabello;
Sua pelle se-inrugava.
Isto foi... há mil janeiros,
No tempo dos cavalleiros.

Grande tropel de corcéis
Chama d’Elvira a attenção:
Cavalleiros e donzeis
Transitando as ruas vão.
Marcha, na testa, em primeiro,
Formosissimo guerreiro.

Era Bernardo Del Carpio,
Este ladim gentil,
Que affouto seguia a fera,
Até dentro do covil.
O astuto mouro o-temia,
Que ellevencêl’-o sohia.

(...)

Em: Iris: periódico de religião, bellas-artes. Anno1,n.1, tomo 1,1848

 

Tristeza e consolação                


 Alma trista, pobre alma,
Porque olhas o passado.
Com saudade e com remorso.
E o presente sem agrado?!

Vês sem gosto quanto abarcas,
Ouves tudo sem prazer;
O que já te deu contentos,
Hoje só te faz soffrer.

Saudades do que perdeste...
(Amarguras tão sentidas!...)
De mistura com pezares!
De tantas horas perdidas!...

Illusões da mocidade,
Gostos do mundo falaz.
São bolinhas de sabão,
Que leve sopro desfaz.

Alma triste, pobre alma,
Lança a vista ao teu porvir;
A vida consoladora
Pódes cedo possuir.

Em: Os collegas. Anno1,n.2, nov.1881

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