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Horácio Campos

por Maria do Sameiro Fangueiro
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Horácio Mendes Campos nasceu no Rio de Janeiro em 1902 e morreu na mesma cidade em 1964.  Além de jornalista, foi compositor, poeta e libretista de teatro de revista. Seu talento como violonista era conhecido. É de sua autoria a canção “A voz do violão” composta em 1928, para a peça teatral Não é isso que eu procuro, encenada pela Companhia Trololó, de Jardel Jércolis.


A música inicialmente não teve o êxito esperado. Foi Francisco Alves (1898-1952), cantor de inúmeros sucessos, que através de Jércolis, conheceu a música de Horácio Campos, vindo a gravá-la neste mesmo ano (1928). O sucesso foi imediato. A autoria de Horácio Campos, no entanto, só passou a ser citada nas gravações seguintes, após demanda do mesmo. Houve regravações em 1929, 1939 e 1951 pelo mesmo Chico Alves. Posteriormente foi gravada em diferentes ritmos, por intérpretes como: Mário Gennari Filho (1953), Pixinguinha (1954), Luiz Bonfá (1954), Pascoal Melilo (1956), Romeu Fernandez e Inezita Barrozo (1961). Outras músicas de Horácio Campos foram “Dentinho de ouro”, “Os 18 de Copacabana” e “Luizinha”, em parceria com Henrique Vogeler.


Colaborou para o jornal A Manha (1926-1953?), de Apparicio Torelly, diretor-proprietário, periódico de cunho humorístico e satírico. Usou o pseudônimo de Furnandes Albaralhão, no “suprimento de Portugali”, onde parodiava autores portugueses e brasileiros. Em 1930, no livro intitulado Caldo berde, reuniu o resultado dessas sátiras. Esta obra é considerada rara. Na década de 1960, a revista A Pomba publicou alguns trechos desse livro. Nos dias de hoje, trechos dela podem ser acessados virtualmente. É de Horácio Campos o poema “Aos meus desaffectos”, publicado na Boneca, e o poema Falta de energia, publicado na revista A Escola:


 

Aos meus desaffectos...


Essa attitude vossa... Com franqueza!

Quando me olhais, do vosso olhar ferino


Sinto que um estylete muito fino


Tenta em mim penetrar com subtileza...


Que vos fis, afinal? Tanta crueza

Porque, no vosso olhar? Eu raciocino.


Sondo o passado... Em vão! Não descortino


Culpa que me condemna a tal dureza!


Se se trata de méra antipathia,

Não julgueis por meu rosto repellente


Minh’alma cheia de melancholia...


Se a questão é de cara... eu perco a linha.

E lembro que entre vós ha muita gente


Que tem a cara bem peior que a minha!


Em: Boneca, ano 1, n. 1, jun. 1928

 

Falta de energia


Na sala de visitas, fartamente,
Por electrica luz illuminada,
Numa conversa mais que animada,
Dois namorados palram ternamente.

Uma sogra antiphatica e doente,
Numa velha poltrona recostada,
Tenta, quase a dormir, entendiada,
Libertar-se do somno impertinente.

Mas, eis que a sala, súbito, escurece.
É que houve falta de energia electrica.
Tudo na escuridão de desapparece.

Desperta a sogra, receiosa e fria,
E do seio da treva enorme e tétrica,
Bróta, de um beijo, a musica macia.

Em: A Escola, anno 1,n.1(out.1915)

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