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Revista da Palestra Litteraria

A Revista da Palestra Litteraria foi editada no Rio de Janeiro, mais exatamente no bairro Todos os Santos, como informado no topo da publicação. Possivelmente o bairro onde viviam os redatores da revista. Nessa localidade viveu também, boa parte de sua vida, o escritor e cronista Lima Barreto (1881-1922), que, em seus romances e crônicas descreveu as rotinas e particularidades de Todos os Santos.

Todos os Santos, um bairro do subúrbio carioca, longe do núcleo original da cidade, buscou uma fase de progresso intelectual, com a publicação de jornais e revistas, por moradores letrados que se preocupavam com o fazer da imprensa. Muitos títulos de periódicos suburbanos são encontrados no acervo da Biblioteca Nacional. Seus editores tentavam se fazer conhecer. Alguns periódicos lançados nos bairros suburbanos tiveram vida longa, outros, como é o caso da Revista da Palestra litteraria, teve vida efêmera.

A publicação foi lançada possivelmente em 1885 com outro nome: Palinuro. O único exemplar da Revista Palestra Litteraria preservado na Biblioteca Nacional é o ano 2, n. 2, de 24 de julho de 1886. Em seu editorial se apresenta como sendo o primeiro, numa continuação do título Palinuro, como pode ser confirmado a seguir:

 
A PALESTRA LITTERARIA, impulsionada pela força de vontade e esclarecimento intellectivel de seus associados, envida prosseguir sobranceiramente. Immersa nas mais nobres aspirações, em marcha ininterrupta, no caminho que lhe traçou o brilho inextinguivel do progresso, procura abranger um numero ilimitado de conhecimentos, para que possa, mais tarde, guiada por espiritos investigadores e pertinazes, tocar á méta da perfectibilidade.

Hoje ella vos apresenta um precioso fructo do seu evoluir constante – o 2º numero do Palinuro que passou, por denominar-se – e cumpre gostosamente um dever, imposto pela veneração e saudade, effectuando uma sessão solemne comemorativa aos eminentes poetas Victor Hugo e Castro Alves.

Segue o editorial, engrandecendo aos que se dedicam a estudar e difundir a “História Litteraria”, mesmo que “espíritos apoucados e cérebros não favorecidos pela lucidez intelectual”, tentem destruir “os alicerceres do edificio das lettras”. Apontam também que empreender uma publicação de tal ordem é um triunfo e um estímulo à mocidade, “uma semente lançada ao solo da litteratura”.

Existem dois exemplares de Palinuro no acervo da Biblioteca Nacional que estão microfilmados. Por ainda não estarem digitalizados, a consulta deve ser feita na Coordenadoria de Publicações Seriadas, através do rolo de microfilme.

Revista da Palestra Litteraria teve como redatores José Ricardo d’Albuquerque, Julio Camisão e Alberto Ourique, sendo impressa pelas máquinas da Typographia Winter, então localizada no número 91 da rua do Hospício.

Com oito páginas divididas em duas colunas, separadas por um fio simples, a publicação não apresentou ilustração. Seus textos, em prosa e verso, totalmente voltados para a literatura, homenageiam, nesse único fascículo, o poeta brasileiro Castro Alves (1847-1871) e o romancista, poeta e artista francês Victor Hugo (1802-1885), denominando-os como “apostolos incansaveis da liberdade!”.

Revista Palestra Litteraria publicou artigos e poesias de Americo d’Albuquerque, Carlos Lima, Elisa d’Albuquerque, Gervasia Pires, João Filgueiras, Leoncio d’Albuquerque, Luiz Nobrega e Maria Velluti. A seguir um poema/homenagem escrito por Elisa d’Albuquerque com o título “A José de Alencar”.

 

A José de Alencar

Das lettras no firmamento,

Espalha vivo brilhar

O deslumbrante talento,

O sol José d’Alencar.

 

Mostrando o vasto proscenio,

Onde o artista talhará,

Aclarado pelo gênio,

O guerreiro Ubirajára;

 

E na fronte refulgente

Como esplendores d’aurora,

Formão corôa luzente

Luciola, Diva e Senhora.

 

Suas obras primorosas

Formão brilhante poema.

São quaes joias preciosas

“Minas de Prata,” “Iracema.”

 

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