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Renascença: folha litteraria

por Maria Ione Caser da Costa
Renascença: folha litteraria, foi uma publicação, que circulou na Corte do Império do Brasil, e se dedicou a “arte da literatura”. Lançada no dia 21 de agosto de 1878, teve como redatores R. dos Santos Junior, Avellar Andrade, Athanasio de Almeida e Teixeira Duarte, que tratavam a literatura como uma arte de primeira grandeza.

O responsáveis por Renascença eram alunos do “Collegio de São João Baptista”, e alguns pertenciam também ao “Club Escholastico Litterario”. Nada foi encontrado sobre o Colégio ou o Clube. A impressão de Renascença ficou sob a responsabilidade da Typographia Cosmopolita, então localizada na rua do Regente, nº 31, atualmente, rua Regente Feijó. Sua redação funcionava à rua de S. Clemente, nº 138. Na rua São Clemente, nº 132, existia um casarão, que, em 1903 passa a abrigar os padres da Companhia de Jesus, com o Externato do Colégio Santo Inácio. Possivelmente, era esse casarão que anteriormente abrigara o Colégio São João Batista.

Os redatores iniciam a publicação com um editorial que emana profundo amor às letras, e indicam como encontrar maneiras de enobrecer, dignificar a literatura, e torna-la perene. Eis um excerto:

É uma ousadia, talvez, resolvermos começar esta tão longa quanto perigosa jornada, mas é uma esperança que nasce e uma crença que vive!
Essa resolução não é mais que a consequencia de uma inspiração sublime e de um sentimento puro e ao mesmo tempo patriotico: o anor ás lettras.
Amar as lettras é amar a patria; cultivar a intelligencia é engrandecel-a, descobrir-lhe mais largo horisonte e construir-lhe um pedestal que a leve ao apogêo de sua grandeza!
O cultivo da intelligencia, podemos dizer, é a força dos povos, o caminho da gloria e a porta da imortalidade.
Cultivemo-la, pois, procuremos a instrucção, visto ser ela o verdadeiro motor do progresso, e o homem sem ella um perfeito authomato!
Procuremol-a porque só ella eleva o homem, ennobrece sua alma e suavisa o mais rispido caracter.
Esse amor, pois, pela instrucção albergou-se em nossos corações varonis, e o desejo de adquiril-a impellio-nos a dar este arriscado passo, publicando este nosso pequeno trabalho que ousamos chamar – um jornal.

Informam ainda que o nome escolhido para a publicação foi para homenagear os grandes vultos do século XVI, como “Miguel Angelo, Raphael ou Vinci”. Pretendem continuar, com o propósito de cultivar as letras, a ciência e as arte. Os redatores finalizam o editorial com a seguinte frase: “Estabelecido o nosso programma e tendo em vista o fim a que nos propomos, esforçar-nos-emos por agradar ao publico a quem temos a honra de apresentar o Renascença, que espera merecer a proteção de que o julgarem digno.”

Os valores das assinaturas variavam da Corte para as Províncias. Nestas, a assinatura trimestral valia 2$000 e a semestral, 3$500. Na Corte os valores cobrados eram de 1$500 e 2$500 para a assinatura trimestral e semestral, respectivamente. Não apresentou valor para venda o exemplar avulso. O expediente fazia um pedido: “Aos nossos assignantes rogamos o especial favor de remetter-nos a importancia de suas assignaturas pelo correio.”

A coleção preservada na Biblioteca Nacional encontra-se na Coordenação de Publicações Seriadas e pode ser consultada pela Hemeroteca Digital. Compreende 8 fascículos com 4 páginas cada, e cada página dividida em 3 colunas separadas por um fio simples. O último fascículo da coleção saiu no dia 1º de dezembro de 1878, com um artigo inicial em que os responsáveis se dirigem “ao publico em geral e aos nossos assignantes em partiular”, avisando que “resolvemos suspender temporariamente a publicação da Renascença”. Explicam que “a época que atravessamos é de completa ebulição na vida escolástica. As bancas de exames funccionarão por toda a parte; a sciencia absorve-nos o tempo e a attenção”. Informam ainda que pretendem retornar no ano seguinte, mas as pesquisas efetuadas com este título, não encontraram qualquer outro fascículo.

Nas páginas de Renascença estão publicados vários poemas, crônicas e folhetim, na maioria das vezes assinados pelos redatores. A seguir o poema “Devaneios”, assinado por Arthur A. Araujo.

Devaneios

Quando as águias do espaço
Tombarem tristes ao chão,
E o arbusto mais viçoso
Vergar com o rijo tufão;
As aves desanimadas
Não soltarão mais seus cantos,
As plantas serão mirradas
E do céo não virão prantos.

Quando o nauta, - alma batida
Pelos vendavaes do norte,
Recuar, pois, sua barca
Ao mar iracundo e forte,
Quando a fonte estiver queda
E, jámais agua jorrar,
E minha alma fôr tristonha
D’alegria se agradar;

Então meu corpo é exangue,
Meu falar tristes gemidos,
Meu nome barco encalhado
Nos mares dos esquecidos...
A desgraça densa nuvem
Que vem dos céos destemida,
Ennegrecer de repente
Meu horisonte de vida.

E quando eu vir neste mundo
Negarem a mim pobre pão,
E eu andar pela rua
Com a voz cravada no chão;
Do olhar teu rolarão...
Umas lagrimas sentidas
Como meios applicados
Sobre almas já perdidas.

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