BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

Machado de Assis

por Maria do Sameiro Fangueiro

banner_personagens_038_machado_assis


Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e morreu na mesma cidade, em 29 de setembro de 1908. Era filho de Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado de Assis. Romancista, contista, poeta, teatrólogo e crítico literário, com uma obra extensa e admirável, é considerado um dos mais importantes escritores brasileiros. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897, e seu primeiro presidente.


Traduziu Victor Hugo e Edgard Allan Poe. Colaborou em diversos jornais e revistas. Em 1855, com apenas quinze anos, estreou na literatura com seu primeiro poema intitulado “Ela”, publicado na revista Marmota Fluminense, cujo proprietário, Francisco de Paula Brito, que acolhia novos talentos,fez de Machado de Assis seu colaborador efetivo. No periódico O Espelho (1859-1860) colaborava como poeta e crítico teatral, assinando sua coluna, Revista dos Theatros, com o pseudônimo M-as. Publicou naquela revista o poema “A d. Gabriella da Cunha”, escrito em 22 de dezembro de 1859.  Colaborou nos jornais Correio Mercantil e no Diário do Rio de Janeiro, usando vários pseudônimos. Escreveu para a Semana Illustrada, onde além do seu próprio nome, assinava também como Dr. Semana. Como contista, publicou no Jornal das Famílias “Confissões de uma viúva moça”, em abril de 1865. Em 1864, publica seu primeiro livro de poesias, Crisálidas. Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. De janeiro a março de 1878, publicaria, em folhetim, na revista O Cruzeiro, o romance Iaiá Garcia, editado como livro no mesmo ano. No ano seguinte, começou a escrever na revista A Estação, onde publicaria, entre outros trabalhos, o romance Quincas Borba. Foi colaborador desta revista até março de 1898. Foi cronista do jornal Gazeta de Notícias, entre 1881 e 1897. Escreveu Dom Casmurro, considerada sua obra prima, em 1899. São conhecidos de sua autoria 205 contos, sendo o primeiro, de 1858, “Três tesouros perdidos” e o último, de 1907, “O escrivão Coimbra”.




Círculo vicioso


Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
__ “Quem me dera que fosse aquella loura estrella,
Que arde no eterno azul, com uma eterna vela!”
Mas a estrella, fitando a lua, com ciúme:


__ “Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega columna á gothica janella,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bella!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:


“Miseria! Tivesse eu aquella enorme, aquella
Claridade mortal, que toda luz resume!”
Mas o sol, enclinando a rutila capella:


__”Pesa-me esta brilhante aureola de nume.
Enfara-me esta azul e desmedida umbella…
Porque não nasci eu um simples vagalume?”


Em: O Esfolado, n. 1, set. 1904.


 

A. D. Gabriella da Cunha


Pára! Colhe essas azas um instante;
Olha que senda decorrente vens!
Pára! É o marco final do caminhante,
E mais espaços a vencer não tens!


Lembra as visões e os sonhos do passado…
Vão longe, longe – quando, artista em flôr,
Nem tinhas o caminho calculado,
Que mais tarde havias de transpôr.


Contaste acaso em tua mente outr’ora
Tantas corôas futuras e tropheus?
Ou sonhaste uma vez erguer-te agora
Alto, tão alto pela mão de Deus?


Não podeste medir todo este espaço,
Nem podeste pensar que um dia, aqui
Viria o povo, em um festivo abraço.
Sagrar-te os louros triumphaes, a ti.


Foi sorpreza do genio – e do destino
Que a tua senda de futuro abriu,
E que uma folha de laurel divino
Em tua fronte pallida cingiu.


Talvez de artista no teu largo manto,
Como gotas de sangue em niveo chão,
Noite de espinhos orvalhou com pranto
E mareou de dôr muita ovação.


Faz uma flôr de cada espinho acerbo,
Tira de cada tréva um arrebol:
Para fazel-a – abre os labios, VERBO!
Para tiral-o – abre os teus raios, Sol!


Em: O Espelho, n. 17, dez. 1859.




Parceiros