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Boletim de Ariel: mensario critico-bibliographico: letras, artes, ciências

por Maria Ione Caser da Costa
O lançamento do Boletim de Ariel aconteceu em outubro de 1931, no Rio de Janeiro, sob a responsabilidade da Ariel Editora Limitada, também fundada em 1931. Ao título, acompanhava o subtítulo mensario critico-bibliographico: lettras, artes, sciencias.

Os primeiros exemplares saíram sob a direção de Gastão Cruls (1888-1959) e o redator chefe foi Agrippino Grieco (1888-1973), assim permanecendo até fevereiro de 1939, quando encerrou sua primeira fase, após oito anos, com pequenas interrupções. Em julho de 1973 reaparece, tendo Afranio Coutinho (1911-2000) como editor.

As informações a seguir, dizem respeito somente a primeira fase do Boletim de Ariel (1931-1939), pois as obras elencadas para fazer parte do dossiê Periódicos & Literatura, são as que foram publicadas até 1945, com conteúdo literário.

Boletim de Ariel tinha como proposta difundir a produção intelectual no Brasil da década de 1930. O nome do boletim acompanha o nome da editora, possivelmente uma maneira de fazer propaganda junto aos intelectuais, atraindo a atenção para possíveis futuros colaboradores. A publicação funcionava, portanto, como veículo de divulgação.

No primeiro exemplar, com o título “Conversa fiada”, Gastão Cruls relembra, em forma de crônica, sua mocidade. Formado em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, fez parte de um grupo de médicos que, além de partilharem entre si seus conhecimentos, se preocupavam também em propagar a literatura. Alguns do grupo “acompanhavam mais de perto o que se passava no mundo das lettras", que eram compartilhadas “nas palestras que os fortuitos companheiros de pernoite entretinham á hora do chá, por vezes já pela madrugada”. Os que mais informavam, exigiam “contribuições” para o compartilhamento das matérias expostas. O editorial de lançamento da publicação encerra com o seguinte texto diagramado em letras cursivas:

 
O Boletim de Ariel, embora com aspirações mais altas, pede muito menos a seus leitores.

Na Assistencia, contavam historias e resumiam novellas alguns médicos de bôa vontade, mas, pelo menos até aquella data, sem nenhuma projecção além do circulo de seus amigos. Aqui, se também prepondera o mesmo espirito do escorço rapido e da nota despretensiosa acerca do que mais interessante e significativo occorrer no mundo das lettras, das sciencias e das artes, tanto no Brasil como no estrangeiro, tudo se valorizará pelo nome dos seus signatarios, sempre collaboradores de realce, escolhidos entre o que de melhor houver nas nossas elites intellectuaes.

A lista de colaboradores do primeiro exemplar é a seguinte: Afranio Peixoto (1876-1947), Agrippino Grieco, Alberto Ramos (1871-1941), Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), Francisco Venancio Filho (1894-1946), Gastão Cruls, Gilberto Amado (1887-1969), Hamilton Nogueira (1897-1981), Jack Sampaio, Lourival Fontes (1899-1967), Manuel Bandeira (1886-1968), Maria Eugenia Celso (1886-1963), Mario de Brito, Miguel Ozorio de Almeida (1890-1953), Murilo Mendes (1901-1975), Roquette Pinto (1894-1954), Saul Borges Carneiro, Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima, 1893-1983) e Ubaldo Soares.

Entre 1932 e 1936 Boletim de Ariel contou também com o jovem escritor Jorge Amado (1912-2001).

O número avulso da publicação foi vendido por 1$000, e a assinatura anual valia 12$000, que deveria ser solicitada, com pagamento adiantado, no primeiro andar da rua Primeiro de Março, nº 105, onde funcionava a editora. Local que também eram contratados os anúncios para serem publicados nas páginas do periódico.

Com formato de 21,5 cm x 27,5 cm, e o número de páginas variando entre 20 e 30 laudas, divididas em duas ou três colunas. Em todas as capas, além das informações pertinentes a cada exemplar, está o símbolo da Ariel Editora, representado por um ser alado, personagem de Shakespeare em “A Tempestade”, de nome Ariel.

Um detalhe oferecido aos interessados pela publicação, motivava os colecionadores: ao completar um ano, o assinante poderia adquirir os índices das matérias publicadas, por ordem alfabética de autores, assuntos e títulos. A editora passou a vender também os volumes encadernados, como pode ser visto no início de cada novo ano: “Aos nossos leitores e assinantes: Temos o prazer de comunicar que tanto na nossa redação como nas principais livrarias desta cidade, se encontram volumes belamente encadernados, reunindo os doze números do primeiro ano do Boletim de Ariel, e que podem ser adquiridos ao preço de R$ 30$000”.

A seguir o soneto “Momento” de Augusto Frederico Schimidt.

 

Momento

Desejo de não ser nem heroe e nem poeta.

Desejo de não ser senão feliz e calmo

Desejo das volupias castas e sem sombra.

Dos fins de jantar nas casas burguezas.

 

Desejo manso das moringas de agua fresca.

E das flores eternas nos vasos verdes.

Desejo dos filhos crescendo vivos e surprehendentes.

Desejo de vestidos de linho azul de esposa amada.

 

Oh! Não as tentaculares investidas para o alto.

E o tedio das cidades sacrificadas,

Desejo de integração no quotidiano.

 

Desejo de passar em silencio, sem brilho –

E desapparecer em Deus – com pouco soffrimento

E com a ternura dos que a vida não maltratou.

 

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