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A Gaivota : orgam litterario, critico e religioso

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Gaivota: orgam litterario, critico e religioso foi lançado em 5 de setembro de 1899, na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império.

“Publicação provisoriamente mensal”, teve como diretor, José Ferreira. Esse primeiro exemplar é o único existente na Biblioteca Nacional. De acordo com o expediente, os responsáveis pretendiam passar a publicar quinzenalmente ou semanalmente. Para isso contavam com o apoio do público na recepção e nas assinaturas.

Foi impresso pela Imprensa Sul America, situada na rua Senador Euzebio, nº 48 e a correspondência para A Gaivota deveria ser endereçada para Antonio Cezar de Miranda, na rua Frei Caneca, 169.

O exemplar avulso foi vendido por 100 rs. Os valores cobrados pelas assinaturas eram diferenciados. Na cidade do Rio de Janeiro valiam 4$000 e 6$000 para semestral e anual respectivamente. Nos outros estados, os valores passavam para 5$000 para a assinatura semestral e 8$000 para a anual.

Não foi possível encontrar nas pesquisas informação sobre a continuidade da publicação. A descontinuidade de uma publicação era fato comum naquele período, pois os proprietários e editores contavam muitas vezes com a sorte, além do árduo trabalho, para conseguirem entrar na seara do jornalismo. Na página 4, em coluna intitulada “Por troça”, os editores mencionam fato acontecido com um título anteriormente lançado, A Fortuna. Informam que “os assignantes se é que os tinha esta hora estão espiando os seus magos cobres por um óculo, porem consolem-se com os seus colegas do Andarahy Grande que tiveram a mesma sorte com A Muza, orgam de muita farofa e muito barulho, mas que naufragou ao terceiro numero”.

Neste primeiro exemplar os responsáveis d’A Gaivota, expunham os objetivos da publicação:
Publico!

O jornalsinho que sahe hoje pela primeira vez e que toma o modesto titulo de A Gaivota, é o producto sagrado dos esforços de um grupo de rapazes que confiando na tua bondade não recuaram ante as difficuldades.

Ahi o tens: lê essas paginas simples, mas onde palpita o amor pela arte divina, onde transparece a grande esperança que depositamos no futuro; medita e não nos esmagues com o pezo atroz da tua indifferença.

Prova que no teu coração existe a particula santa, onde não se extinguio ainda o culto ao bello; por um instante ao menos conjura para longe de ti a maldicta politica e deixa que teus olhos fatigados já de lerem os sensaborões artigos partidários, repousem sobre as nossas paginas queridas.

E seguem apelando para o sentimento do público. Tentam conquista-los a partir de palavras amáveis. Esperam, dessa forma, conseguir futuros leitores. Para isso dialogam com o público, respondendo a um possível questionamento: “onde está então o seu programma?”. E, como resposta, informam que o subtítulo da publicação já responde a este questionamento. A literatura, a crítica e a religiosidade serão os pilares que sustentarão suas páginas. E seguem na conquista dos novos leitores:
Não nos abandones; não consintas que para o futuro façamos parte dessa phalange immensa de desilludidos!...

Torna-te nosso amigo para que o nosso jornal possa em breve augmentar o formato, e passar a ser publicado semanal ou bi-semanalmente, emfim; não deixes, que das nossas frontes fuja essa doirada esperança...

- Publico, auxilia-nos!

Os colaboradores de A Gaivota foram Antonio C. de Miranda, J. Ferreira, J. Maciel da Roza, Miguel Nigro e Trocista. E o soneto que ilustrará A Gaivota é de Maciel Rosa, intitulado “Primeira folha”.

 

Primeira folha

(a minha boa mãe)

 

Este livro é só teu, Replecto e cheio

De ti para o fazer no azul sacrario,

De tua alma eu roubei o alampadario

E me abriguei a sombra do teu seio.

 

É um livro de amor... Há quem o compare-o

- Ante as azas da dor onde eu formei-o

Ao dolorido e tremulo gorgeio

De um prisioneiro e timido canario!

 

Para estes versos quasi fibra a fibra

Eu transportei minh’alma sobre ledo

Canticos de amor que ante de nós se antolha.

 

Por entre a historia que em seu seio vibra

Palpita em cada pagina um segredo

Soluça uma illusão em cada folha.

 

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