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Paula Brito

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Francisco de Paula Brito nasceu no Rio de Janeiro, na rua do Piolho, n. 148, atual rua da Carioca, em 2 de dezembro de 1809, e morreu na mesma cidade, em 15 de dezembro de 1861. Era filho de Jacinto Antunes Duarte e de Maria Joaquina da Conceição Brito. De família humilde, aprendeu a ler e escrever com sua irmã mais velha.


Começou a trabalhar como aprendiz de arte gráfica na Tipografia Nacional, antiga Imprensa Régia, aos 15 anos. Depois trabalhou na tipografia de Pierre Plancher na qual experimentou diversas funções: compositor gráfico, diretor de prensa, redator, tradutor e contista. Em 1830, comprou de seu primo, Silvino de Almeida Brito, uma loja de encadernação de livros, na praça da Constituição, onde é hoje a praça Tiradentes. Transformando o negócio em livraria e editora, tornou-se então o primeiro editor do país. A loja se tornaria em ponto de encontro de intelectuais como Machado de Assis, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Casimiro de Abreu, Bruno Seabra, Laurindo Rabelo, Araújo Porto Alegre e políticos como José Maria da Silva Paranhos, Eusébio de Queiroz. A livraria foi o centro cultural da cidade, onde aconteciam encontros, palestras e consultas de literatos e políticos.


Durante trinta anos, Paula Brito escreveu em diversos jornais sátiras políticas, poemas, peças teatrais e orações. Fundou em 1833, o jornal O Homem de Cor, um dos primeiros a discutir o preconceito racial no Brasil. A partir do terceiro número, o jornal passa a ser chamado de O Mulato, ou O Homem de Cor. Lançou, em 1835,o semanário A Mulher de Simplício ou A Fluminense Exaltada, periódico em versos, onde também era discutida a questão racial. O conto intitulado “O Enjeitado” foi publicado no Jornal do Commercio, no ano de 1842. Em 1849, aliou-se a Próspero Ribeiro Dinis para editarem o jornal A Marmota na Corte. Em 1852, tornou-se o único proprietário deste jornal, e, em 1954, mudou o título para A Marmota Fluminense. O periódico mudaria de nome mais uma vez, passando a se chamar A Marmota, até 1861, ano de sua morte. Em 1859 publicou Anônimas, livro de poesias. Foi tradutor de fábulas do escritor francês Pierre Lachambeaudie.




A locomotiva e o cavallo


Rival da Locomotiva
Um Cavallo buscou ser,
Suppondo que mais do que ella
Elle podia correr.


N’um caminho em que tomavam
Ambos igual direcção,
Disse ao Vapor o Cavallo’,
Brioso escavando o chão:


Por mais que queiras não pódes
A palma ter da victoria,
Nem fazer com que o teu nome
Como o meu brilhe na historia.


Do fogo que te alimentas
As linguas vejo sahir:
É nesse arsenal de guerra,
Que tens de te consumir.


- “Devéras, tu te apresentas
Como meu competidor?
Pretendes lutar? – lutemos,
Disse ao Cavallo o Vapor.


Máo grado a desproporção
Entre um e outro querer,
Junto da Locomotiva
Põe-se o Cavallo a correr.


Um enche os ares de pó,
Outro de negra fumaça!
Não há triumpho entre os dous,
Pois um ao outro não passa.


Exhausto, porém, de forças,
O Cavallo cahe e morre;
Que faz a Locomotiva?
Com mais fogo inda mais corre!


__________


Quando a proterva ignorancia
Foge do seculo á luz,
No abysmo se precipita
A que seu erro a conduz.


Sempre que a velha rotina
Ao progresso der conselho,
Será bom que não se esqueça
De se mirar neste espelho.


Foge do seculo á luz,
No abysmo se precipita
A que seu erro a conduz.


Sempre que a velha rotina
Ao progresso der conselho,
Será bom que não se esqueça
De se mirar neste espelho.


Em: O Espelho, n. 3, set. 1859.



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