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A Violeta: dames et fleurs

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário A Violeta circulou nos oitocentos, trazia abaixo do título a inscrição: dames et fleurs. Foi editado no estado de São Paulo e era dirigido às mulheres. Seu primeiro exemplar saiu no dia 11 de agosto de 1849.

Na publicação não constam os nomes dos editores, portanto, não é possível saber se a responsabilidade da publicação esteve a cargo de uma mulher. O que pode ser notado, ao ler alguns artigos é um caráter bastante conservador e machista, muito comum ao período de circulação da publicação: o sexo feminino é comparado à fragilidade de algumas flores, cabendo a elas apenas se preparar para as funções de esposa e mãe.

Os primeiros exemplares foram editados pela Typographia do Governo. A partir do número 5, de 3 de setembro de 1848, passa a ser publicado pela Typographia de Viuva Sobral (possivelmente uma continuação da Typographia de Silva Sobral), sendo Luiz Antonio Corrêa o impressor responsável.

O editorial assim se apresentou ao público leitor:

 
É imperdoavel a nós outros, que presamos o bello sexo brasileiro, e que presamos a instrucção e distracção litteraria das nossas patricias, ainda não curamos de um trabalho, que lhes seja util, e ao mesmo tempo totalmente dedicado: é imperdoável tal falta: - mormente quando ja em algumas Provincias do Imperio, algumas pessoas á isso se tem dedicado, como se vê na Bahia com a publicação do – Beija-Flor – e no Maranhão com – o Ramalhete das Damas.

Para supprirmos tão grande lacuna, vamos dar começo a uma empreza, que por grande arreceamos podel-a sustentar, mas cujas vantagens ninguem de certo negará. Se acaso não preencher-mos a missão, que nos imposemos, pela falta de conhecimentos e gosto, sirva de desculpa ao nosso arrojo a bondade dos nossos desejos. [...]

O nosso fim, com a publicação deste jornalsinho não é alardearmos de escriptores publicos — que para tanto não somos ousados - o nosso fim é innocente e proficuo: - é levar, senão idéas e conhecimentos ao menos o gosto das lettras ás nossas patricias, que bem merecem, que dellas e do desenvolvimento da sua intelligencia nos occupemos, e por isso e movidos somente por esse desejo emprehendemos a publicação da Violeta. Queremos que as nossas patricias tenhão no seo cestinho de costura – no seo toillete de cheiros – e no seo gabinete de estudo um estimulo, que as mova a não só curar dos enfeites do corpo, como tambem dos ornamentos d’alma, e do espirito, que é o unico ornamento apreciável, e duradouro.

Cada exemplar de A Violeta foi composto por quatro páginas, divididas em duas colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração, apenas alguns arabescos com motivos florais separavam as matérias.

Publicou vários poemas - tendo como foco principal o amor ou a mulher, folhetins e artigos, sempre assinados por iniciais ou anônimos.

O primeiro folhetim, publicado em fascículos, foi “Um Pai”, assinado por A. B., que conta uma história de amor e discórdias entre os membros da uma família.  A seguir o folhetim "Conversa entre uma filha da Cidade de São Paulo, e outra da cidade de Santos", assinado por F. V., compara a vida social de Santos com a paulistana.

A coleção de A Violeta tem doze números, e todos foram digitalizados, podendo ser consultados na Hemeroteca Digital. O último saiu em 23 de outubro, e o editorial foi uma despedida.

 
Pela Determinação da Providencia as cousas mundanas tem um termo derradeiro: - e a Violeta, seguindo a ordem geral das cousas, tem tambem seu fim. [...] A vida da nossa Violeta foi uma vida regular – nasceo; - enfeitou os prados e os jardins das lettras, e aromatisou os toilletes de suas Patricias – e agora que tem decorrido tres mezes de uma existencia florida e balsamica, como as demais violetas, fenece e morre. [...]

Gratidão e reconhecimento aos seus assignantes, que a alimentarão na vida. –

Saudade.. gratidão.. amor e respeito ao publico, que bondoso a acolheo, e a escudou com a sua protecção. –

Sobre os números digitalizados, vale uma observação: além dos 12 exemplares da coleção, foi acrescido mais um, o número 15, entretanto é apenas a duplicação do exemplar 11, editado em 15 de outubro.

Dos poemas publicados nas páginas de A Violeta: dames et fleurs, o destaque abaixo é para o poema “Tres dezejos”, que teve como autoria uma pessoa que assina somente com a letra “S.”.

 

Tres dezejos

Se as tuas faxes mimosas,

Eu vejo, quaes lindas rozas,

Por entre alvuras da neve,

Perdoa, ó virgem, dezejo

Furtivo, tímido beijo

Sobre ellas poisar de leve.

 

Se vejo os teus langues olhos,

Que deixão ler sem refolhos,

Na tua alma innocentinha:

Desejo vel-os erguidos

E sempre, e sempre embebidos

Por entre as fragoas da minha.

 

E quando em sonhos doirados

Nos teus labios encantados,

Eu vejo sorrir-me a sorte:

Quero eterno o teu sorriso,

Seja-me embora preciso

Trocar-se meu somno em morte.

- S -

 

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