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Chrysalida: folha litteraria, critica e teatral

por Maria Ione Caser da Costa
Chrysalida: folha litteraria, critica e theatral foi lançada no Rio de Janeiro em 12 de junho de 1873. A responsável pela impressão foi a Typographia Fluminense, que estava localizada na rua Nova do Ouvidor, nº 20.

Logo abaixo do título aparece diagramada a nota: “publica-se 4 vezes por mez e assigna-se nesta typographia”. Presume-se, portanto para ter periodicidade semanal. O exemplar descrito acima é o único encontrado no acervo da Biblioteca Nacional, que pode ser consultado na Hemeroteca Digital. Por este motivo não é possível confirmar a periodicidade.

Exemplar diagramado com seis páginas, cada uma delas dividida em três colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração. De acordo com o expediente, o número avulso do semanário foi vendido por 200 réis e a assinatura trimestral valia 2$000.

Chrysalida foi um periódico informativo, publicando artigos sobre literatura, teatro, artes e as ciências. Seu editorial assinala preocupação com a camada mais pobre da população e critica os periódicos que não o fazem. Eis um excerto do editorial que está assinado por “A Redação”:

 
A imprensa sabem todos que é a grande alavanca da civilisação. Ha no Brasil folhas destinadas unicamente a dar o resumo das cotações da praça, ou, repletas de gravuras, em grande formato, nitidamente impressas, por calculo no estrangeiro, abundantes de tudo quanto não é nosso, quer em estylo, quer em descripção de costumes, poesia &c, &c.

As primeiras são monotonas e as ultimas, mais ou menos inuteis, são caras e não podem portanto alcançar o grande fim: - disseminar pelas camadas menos favorecidas a educação e illustração.

Nosso grande empenho, para o qual envidaremos todos os esforços humanamente possiveis, será circunscrevermo-nos dentro de assumptos puramente nossos, em pequeno formato, e não difficultando a leitura da Chrysalida áquelles que desejão aprender. Se para aprender tão grande é a luta, como acima esboçamos para ensinar não é menor. [...]

A uns e outros e aos nossos charos leitores garantimos que a – verdade – será a nossa divisa; e se algum dia, porém, errarmos, por que entre nevoas se occulte ella, restar-nos-ha a consolação de que a procurámos ardentemente. [...]

Quem presta-nos auxilio fará obra humanitaria, pois, pão para o espirito vale tanto como o que se dá ao desgraçado para matar-lhe a fome.

A redacção da Chrysalida tem a subida honra de comprimentar aos seus leitores.

Nas colunas de Chrysalida estão textos que abordam temas culturais. A seção “Chronica”, traz notícias dos teatros e da arte de representar. Mas inicia com informação de que “cahirá ao már”, pela primeira vez, o Corveta Trajano, “o primeiro navio de classe construído segundo o systema inventado pelo insigne constructor brasileiro Trajano Augusto de Carvalho” (1830-1898), tendo sido o primeiro a ser construído no Arsenal da Marinha da Corte.

A seção “Theatros”, traz as últimas notícias do Teatro de S. Pedro d’Alcantara, que acabara de passar por mais uma reforma; do Phenix Dramatica, e seu diretor Jacinto Heller; do Teatro Cassino, que havia sido inaugurado em 1872, e do Teatro Alcazar. O Alcazar Lyrique foi um teatro de variedades que funcionou na rua da Vala, atualmente, rua Uruguaiana, exibindo comédias francesas e operetas.

A seção “Poesias”, apresentou três poemas de uma pessoa que assina por J. R. T. E a seção “Lembretes” e “Variedades”, publicou assuntos diversos, dentro do âmbito cultural. O fascículo termina com um artigo intitulado “Sphinge” e conta com o folhetim “Alda”, sem autoria. A seguir a poesia “Adeus!”, assinada por J. R. T.

 

Adeus!

A ti, que em nuvens retratei nos sonhos

A ti, que em sonhos retratei nos céos,

A ti, que adoro com amôr de fogo

A ti, meo anjo, meu amôr, adeus!

 

Já dei-te a vida, já te dei meus cantos;

Dei-te minh’alma transbordando amôr;

N’harpa gemente da soidão do exilio

Por ti, cantando, morrerei de dôr.

 

A’ ti as lagrimas do martyrio infindo

Os tristes dias que arrebata a morte;

E quando a luz se apagar de todo

Á ti, morrendo, pedirei meu norte.

 

Mas quando vires scintillar a estrella,

E quando triste desmaiar a flôr,

Pela flôr murcha, pela branca estrella

Lembra-te, ó bella, de meu santo amôr.

 

Se ouvires triste suspirar a brisa,

Beijando meiga teus cabellos louros,

Sonha minh’alma a te seguir ao longe,

Louca buscando teus gentis thesouros.

 

A ti, que em nuvens retratei nos sonhos,

A ti, que em sonhos retratei nos céos,

A ti, minh’alma de paixão repleta,

A ti, a vida n’este extremo adeus!

 

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