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Minerva: jornal scientifico, litterario e critico

por Maria Ione Caser da Costa
Minerva: jornal scientifico, litterario e critico foi mais um periódico editado no Rio de Janeiro, quando ainda era a corte do Império Português. Seu primeiro exemplar, lançado num sábado, dia 1º de junho de 1867, trouxe um subtítulo informativo sobre o que seria publicado em suas páginas, além da informação de ser um semanário.

Tendo como redatores e proprietários os senhores A. Oliveira Fernandes Junior e Francisco Moreira Sampaio (1851-1901), Minerva foi mais um periódico que uniu, em prol da literatura e da cultura, literatos, médicos, advogados e estudantes aplicados, que resolveram empreender na área jornalística.

Os editores se apresentam como jovens inexperientes, mas determinados no caminho que decidiram percorrer. O editorial, assinado por “A Redação”, inicia com uma letra capitular, decorada com folhas e frutos. Eis um excerto:

 
É sob esta epigraphe, debaixo da protecção da poderosa deosa da sabedoria, que ousamos nos apresentar no prélo para encetar as lides do jornalismo.

Conhecemos perfeitamente que a tarefa a que nos propomos é ardua e difficil; porém fiados no auxilio de um publico tão benevolo quão illustrado, atrevemo-nos a publicar este pequeno jornal, esperando sua acceitação.

Se nos falta a intelligencia precisa, sobranos a vontade, que, auxiliada pelo publico Fluminense, mais facilmente transporá os obstaculos que se no possão antolhar. [...]

Se a critica nos offerecer fel em troca do suor por nós derramado, a nossa consciencia, juiz recto e justo, far-nos-ha agradecer a offerta, e louvará a nossa missão.

Somos jovens ainda, e os erros partidos de onde não existe a sciencia são desculpaveis.

Agradecemos a todos aquelles que nos honrarem com suas assignaturas.

As assinaturas, realizadas com pagamento adiantado, poderiam ser adquiridas na rua de São José nº 15, endereço da Typographia e Lithographia Esperança, responsável pela edição de Minerva, ou na rua Sete de Setembro nº 146. O valor do número avulso era de 300 réis, e a assinatura anual valia 1$000.

No acervo da Biblioteca Nacional estão armazenados os oito primeiros exemplares dessa coleção, sempre publicados aos sábados. O número 8 saiu no dia 27 de julho, e não foi possível verificar se o título teve continuação.

Cada exemplar, confeccionado com quatro páginas, sendo que cada uma delas foi diagramada em duas colunas, separadas por um fio simples. A exemplo da letra capitular que inicia o editorial de lançamento de Minerva, todos os artigos publicados na sequência, também utilizam uma bonita letra capitular para iniciar o texto.

Publicou contos, traduções, charadas, poesias e ensaios versando sobre vários assuntos.  Os colaboradores foram A. C. Motta, Eugenio Pradel, F. Moreira Sampaio, Germano da Costa, J. A. Raposo, Noemi e S. Lobo. A seguir a poesia “Crenças na vida”, de J. A. Raposo.

Crenças na vida

A vida é um sonho, ligeira passagem
Que traz á imagem bem doce illusão,
A cova no chão, jazigo final
É negro signal para o meu coração.

Se vejo n’um bosque soberba cascata
Surgindo da matta, mostrando a natura
Bem perto e escura eu vejo para mim
A cova sem fim, final sepultura.

Se ouço nas mattas cantar uma ave
Com dôce e suave trinar amoroso,
Eu sinto orgulhoso meu peito pulsar
Alegre bradar oh! Deus Poderoso!

Eu amo, não nego, porém eu não devo
Do alto relevo tirar essa flôr
Tributo-lhe amor, amor muito santo
Que exalo n’um canto ferido de dôr.

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