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Ensaio escolastico dos estudantes do Athenêo Turvano

por Maria Ione Caser da Costa
O Ensaio escolastico dos estudantes do Athenêo Turvano foi uma publicação com periodicidade mensal, lançada no Rio de Janeiro em dezembro de 1859. Trouxe em suas páginas estudos filosóficos e discursos proferidos por vários padres e cardeais, além de artigos de história e geografia.

O mensário foi impresso pela Typographia de A. Gonçalves Guimarães & Comp., que estava situada na rua do Sabão, nº 82. A rua do Sabão foi considerada ponto de encontro de escritores e editores, pois lá estavam localizadas livrarias. Atualmente o endereço corresponde ao lado ímpar da avenida Presidente Vargas, no centro da cidade.

Os ensaios que compõe a publicação possuem raiz escolástica, voltados para a teologia e buscavam desenvolver nos jovens os estudos filosóficos, marcados pela relação existente entre fé e razão. Eis o editorial:

 
Bem longe está de nosso intuito o querermos dar de nossa publicação uma idéa de jornal litterario, que por certo seria mal cabida; somos fracos, e novos no exercicio do pensamento, ainda que fortes e grandes na ambição de conhecimentos uteis: por isso como devemos á nossos leitores um programma, que abranja a totalidade de nossas vistas, na tarefa emprehendida, que bem defina nossa intenção, buscamos desempenhar esse dever, fazendo preceder este artigo aos discursos com que foi mimoseada a sociedade em sua installação por tres de nossos collaboradores.

Ensaio Escolastico foi a epigraphe, que de preferencia adoptamos. Ella symbolisa os mal seguros passos, que dirigimos para os amenos campos da litteratura, e da sciencia, onde oxalá colhessemos nós uma flôr... um aroma; symbolisa mais um desejo ardente de saber, que se agita em nosso espirito no correr progressivo do seculo presente, e nada mais. Ainda trajados com as vestes de aprendiz, submettemos de bom grado, nosso insignificante trabalho á correcção amiga; porque o aprender é o nosso fim, e entregaremos, entretanto, a um solemne desprezo a critica insensata, que tiver a sua penna molhada no veneno da detracção e nós prosseguiremos ávante, porque é á braços lidando com a provação, é que a humanidade marcha, como diz o illustre poeta (*), nosso patrício:

Porém máo grado á fúria, e á tempestade

A humanidade marcha; - e Deos a guia.

(*) Suspiros Poetico do Dr. Magalhães.

As estrofes do poema mencionado no editorial do Ensaio escolastico foram destacadas do poema “Suspiros poéticos e saudades” de Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811- 1882).[*]

O Ateneo Turvano foi inaugurado possivelmente em março de 1859, tendo como diretor Joaquim Carlos Bernardino e Silva (1937-1897), que foi o responsável pela publicação. Ensaio escolástico contava também com a colaboração de professores e alunos, dentre eles, Aureliano de Souza Cunha Carvalho, Delfim Antonio de Medeiros, Américo Brasileiro da Costa Moreira, Vicente de Mello César, João Augusto Diniz Junqueira, Leopoldino Antonio Chaves, J. F. Joviano, José Barbosa Torres e Antonio Leite R. Almeida.

Em suas páginas, além de artigos sobre teologia e filosofia, são encontrados textos que incentivam o desenvolvimento científico e o progresso dos alunos, tendo como base fatos históricos e grandes nomes do passado. Publicação iluminista, pretendia incentivar os alunos a sentissem necessidade de continuar contribuindo para o crescimento da nação.

A Biblioteca Nacional possui os quatro primeiros exemplares, tendo o quarto sido publicado em 02 de março de 1860. O número 1 saiu com 4 páginas e os seguintes com 8 páginas cada. Cada uma delas foi diagramada em duas colunas separadas por um fio simples. Sem qualquer ilustração, com numeração seguida, num total de 28 páginas.

A seguir um excerto do poema de J. F. Joviano, intitulado “Um canto á minha filhinha”, que pode ser lido na íntegra no endereço citado.

 

Um canto á minha filhinha

Innocente creatura

Vem minha mágoa adoçar;

Dentro d’essa alminha pura

Meu pranto quero entornar,

De saudade e desventura.

 

Porque tão doce sorriso

Te provoca minha dôr?!

Formastes erroneo juizo:

Pensas que fallo de amor,

Eu fallo do paraiso.

 

Vem, meu anginho querido,

Teus labios encontra aos meus...

Vem suffocar meu gemido;

N’esses effluvios dos céos

Eu me esqueço o que hei perdido.

 

Assenta bem direitinha;

Anda, dá-me tua mão.

‘Stais com medo? coitadinha!...

Ponde-a no meu coração,

Minha innocente filhinha.

 

Vê como bate apressado

Contra as paredes do peito?

Parece que está cansado!...

Ou não sentes d’esse geito

O seu bater demudado?



 

[*] Conferir íntegra do poema http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000076.pdf 

 

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