BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

Jorge de Lima

por Maria do Sameiro Fangueiro

banner_personagens_029_jorge_lima


Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos Palmares, AL, em 23 de abril de 1893 e morreu no Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1953. Era filho de José Mateus de Lima, dono de engenho, e de Delmina Simões de Mateus de Lima. Ao longo da vida seria político, médico, biógrafo, romancista, poeta, tradutor, ensaísta e pintor. Iniciou seus estudos em sua cidade natal, completando-os em Maceió, no Instituto Alagoano. Em 1911, foi para Salvador, onde começou o curso de medicina, que seria concluído no Rio de Janeiro, em 1915.. Neste mesmo ano, voltou a Maceió, onde se dedicou à medicina, literatura e política. Foi professor e diretor da Escola Normal e do Liceu Alagoano. Em 1919, ganhou a eleição para deputado estadual pelo Partido Republicano de Alagoas, assumindo a Presidência da Câmara durante dois anos.


Escreveu seu primeiro poema aos 14 anos, “O acendedor de lampiões”. Seu primeiro livro de poesias, O Mundo do Menino Impossível, foi publicado em 1925.Em 1929, apareceu o poema “Essa Negra Fulô”, publicado no livro Novos Poemas. Em 1930, voltou ao Rio de Janeiro e foi lecionar medicina na Universidade do Brasil e na Universidade do Distrito Federal. Montou seu consultório particular na Cinelândia, que virou ponto de encontro de intelectuais como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Voltou à vida política se elegendo vereador, em 1935. Em 1948, ocupou à Presidência da Câmara dos Vereadores.


Ao se converter ao catolicismo, em 1935, seus poemas passaram a refletir sua religiosidade. Nesta épocapublicou Tempo e EternidadeInvenção de Orfeu e Livro de Sonetos. A Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe o Grande Prêmio de Poesia, em 1940. Candidatou-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras em 1944, não obtendo êxito. Em 1952, foi fundada a Sociedade Carioca de Escritores, sendo Jorge de Lima escolhido como seu primeiro presidente provisório. Em 1975, foi homenageado pela Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, com o tema Imagens poéticas de Jorge de Lima. No desfile, a escola obtendo o segundo lugar.





Poema relativo


Vinde ó bem-amada,
junto á minha casa
tem um regato (até quieto o regato.)


Não tem passaros, que pena!
Mas os coqueiros fazem
quando o vento passa,
um barulho que ás vezes parece
bate-bate de azas


Suponha, ó bem-amada,
se o vento não sopra,
podem vir borboletas
á procura das minhas jarras
onde ha flores debruçadas,
tão debruçadas que parecem escutar.


Todos os homens têm seus crentes
ó bem-amada:
__! os que prégam o amor do proximo
e os que prégam a morte dele.


Mas tudo é pequeno
e ligeiro no mundo, ó amada,
só o clamor dos desgraçados
é cada vez mais imenso.


Vinde ó bem-amada.
Junto á minha casa
tem um regato até manso.


E os teus passos podem ir devagar
pelos caminhos:
aqui não há a inquietação
de se atravessar o asfalto.


Vinde ó bem-amada,
porque como lhe disse
se não há passaros no meu parque,
poder ser se o vento
não soprar forte
que venham borboletas.
Tudo é relativo
e incertono mundo
. Tambem tuas sobrancelhas
parecem azas abertas.


Em: Bazar, ano 1, n.4, nov.1931.



Parceiros