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Luiz Delfino

por Maria do Sameiro Fangueiro


Luiz Delfino dos Santos nasceu em 25 de agosto de 1834, em Desterro, hoje, Florianópolis, e morreu em 31 de janeiro de 1910, no Rio de Janeiro. Foi médico, político e escritor. Filho de Tomás dos Santos e de Delfina Vitorina dos Santos, e irmão de José Delfino dos Santos (1843-1918), advogado e político. Foi casado com Maria Carolina Puga Garcia dos Santos, com quem teve um filho, Tomás Delfino dos Santos (1860-1947).

Jovem, foi morar no Rio de Janeiro, não sendo possível precisar o ano em que chegou à cidade, entretanto, fez seus estudos superiores na Academia Imperial de Medicina, concluídos em 1857. Sua vida foi dedicada à medicina e à vida literária. Somente em 1891, com mais de 50 anos, ingressou na vida política, elegendo-se senador pelo estado de Santa Catarina. Seu mandato foi de 1891 até 1983.

Colaborou com várias publicações, entre elas a Revista Popular, onde foram localizados dois poemas intitulados A Virgem da Floresta,na edição de n.9, de 1861, página 55-7, e A Abelha, na edição de n.12, páginas 180-2. Em O Beija-flor encontramos o poema Órfão do templo, onde o poeta faz sua estréia, em 1852.

Luiz Delfino teve seus poemas publicados também em Vida Moderna , A Semana, Brazil moderno, O Paiz, e Revista Brazileira, entre outros periódicos. Em A Estação: Jornal Illustrado para a Família, o soneto “O Forte” é dedicado a Machado de Assis, na página 23, da edição de 28, da edição de 28 de fevereiro de 1883.

Foi consagrado pelo periódico A Manhã, em seu suplemente literário intitulado Autores & Livros de maio de 1942. Em 1898, a revista Vera-Cruz deu a ele o título de Príncipe dos Poetas Brasileiros, por ocasião dos festejos comemorativos do primeiro aniversário do periódico. Ocupou a cadeira de n. 7 da Academia de Letras de Biguaçu. A Academia Catarinense de Letras, fundada em 2003, escolheu-o como patrono da cadeira de n. 20.

Três de seus livros foram editados postumamente: em 1927, surge Algas e Musgos, em 1935,Íntimas e Aspásias e Imortalidades, em 1941.

A Biblioteca Nacional possui em seu acervo os títulos, Algas e Musgos; Luiz Delfino: melhores poemas; Os melhores poemas de Luiz Delfino; Poemas escolhidos; Poesia completa : sonetos, Tomo I e, Poesia completa : poemas longos, Tomo II.

O crítico literário Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992), faz referência aos poemas de Delfino, intuindo que “ostentam caráter parnasiano, mas de um parnasianismo algo diverso do praticado pelos maiores da corrente em nosso meio: é, com efeito, plástico e sonoro, por vezes até com complicações sinestésicas que poderiam dar-lhe laivos simbolistas.”

Em 1984, Ubiratan Machado (1941- ) escreveu o livro Vida de Luiz Delfino, publicado pela Editora UFSC, em comemoração ao sesquicentenário do nascimento do poeta, obra que também está no acervo da Biblioteca Nacional



Natureza interrogada


Rosas, jasmins, bons dias; açucenas,
Festas e soes; rir, minhas feiticeiras !
Rolai, brincai, voejai... mas vede... asneiras
Em cima delas, não, gentis falenas.

Alegres todas, rancho de pequenas!...
Margaridas, corimbos das balseiras.
Grotais do bosque, relva das clareiras.
Luz perfumada das manhãs serenas.

Sombra doce do trêmulo arvoredo,
Rio a cantar às costas do fraguedo,
Veiga e céu, ninhos, pássaros, rosais...

Rosais, pássaros, ninhos, céus e veiga,
Sede-me bons, falai: quando ela chega,
Que faz ela ? que diz ?.. .que diz ? que fas ?


Extraído do suplemento literário do A Manhã, ano 2,n.16, maio 1942




Um mármore

Formosa!... Ella era o anjo do cynismo!
Era vellada a luz dos olhos magos,
Como na sombra dos vergeis dois lagos,
Que ondulam no cairel de escuro abysmo.

Não tinha amor, não tinha fanatismo,
Nem as inquietações dos sonhos vagos:
Jamais lembrou que o tempo traz estragos,
E era incapaz de dor e de heroísmo.

Era o seu corpo níveo de açucenas,
Cheiroso, como os bálsamos mais caros,
Sob a noite profunda das melenas.

Alta, flexível, sob os pés mais raros,
Quando um dia morreu... a morte apenas
Levou á cova um mármore de Páros.


Em: Brazil moderno, ano 3,n.9, mar. 1908


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