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Silveira Netto

por Maria do Sameiro Fangueiro

Manuel Azevedo da Silveira Netto nasceu em Morretes, PR, em 04 de novembro de 1872, e morreu no Rio de Janeiro em 19 de dezembro de 1942. Foi escritor e poeta. Deixou a cidade onde nasceu e foi viver em Curitiba. Ali entrou para a Escola de Belas-Artes de Curitiba, iniciando seus estudos de gravura e desenho. Entretanto, tinha um sonho maior que era o de estudar na Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Porém, este sonho não pôde ser realizado.


Em 1891, prestou concurso para a Fazenda Federal onde começou a trabalhar.  Casou-se em 1893. Desta união nasceram vários filhos, um deles o poeta Tasso da Silveira (1895-1968). Conheceu Dario Vellozo (1869-1937), Julio Pernetta (1869-1921) e Antonio Braga, além de outros intelectuais da época, e juntos criaram um grupo que chamaram de Cenáculo. A finalidade deste grupo era o de ler, discutir, estudar e produzir textos e poesias de “estética simbolista”. Debatiam obras de autores nacionais já notórios, como também autores estrangeiros, com o mesmo propósito.


Após dois anos da composição do grupo, e com os mesmo objetivos, criaram a revista O Cenáculo (1895-1897),1  sendo considerada uma das mais importantes publicações de cunho simbolista daquela época. Colaboraram nesta publicação não só poetas brasileiros como também poetas portugueses, franceses e italianos, todos com um só propósito: divulgar a poesia simbolista.


Silveira Netto mudou-se para o Rio de Janeiro em 1896. Aí, freqüentou ambientes culturais o que o permitiu conhecer, conviver e relacionar-se com outros escritores e poetas tradicionalmente simbolistas como Nestor Vitor (1868-1932) e Cruz e Souza (1861-1898). Em 1900, publicou Luar de Hinverno, livro de poemas. Tempos depois surge Ronda crepuscular.


Em O Cenáculo, Silveira Netto colabora com um de seus poemas intitulado Dhulia. E em Arvore Nova escreve o poema Ao meu lar.


 

Dhulia


Não sabes a amargura que padeço
Olhando o CEO que outrora nós olhamos.
Um só dia feliz, e por tal preço
A’ dor sem nome a vida inteira damos.

E penso agora, e pallidoestremeço:
Porque se muda o sonho que adoramos
Neste destino tristemente avesso
Em que, descrentes, todos nos choramos?

Cantos funéreos com teo nome rezas
Pela camara ardente de meo seio,
Como um réquiem de todas as tristezas;

E a sinistra lembrança me consome
De ver, há tanto, a magoa de permeio
Nesta existência cheia de teo nome.
Em: O Cenáculo, Anno1,tomo 1, jun.1895 OBS. este título não está pronto

 

Ao meu lar


Amores... quem os tenha, pela vida,
Grandes e immensos (que saudade, Amor!)
Que os acarinhe até ao delirio e á dôr,
Como o naufrago á taboa foragida...

Amor de Pae – a terra promettida;
Amor de Mãe – adoração em flôr.
Almas de noivos, -- todo o céu do amor
Numa curva de beijos sobre a vida...

Amor de almas irmãs, amor de amigo,
Onde a bondade humana, doce abrigo,
Vae sua tenda de arabe assentar...

Amor de esposa e filhos, graça pura!
De outro não sei que, de maior doçura,
Abra-me os braços para eu repousar...

Em: Arvore nova, anno,n.2,set.1922


Contraste sublime

Que olor pode exhalar a flor ameaçada
Do caustico solar suas pet'las abater?...
Que jub'lo pode ter, na vida--- grande estrada.
Um triste coração sentindo se a morrer?...

Nada! So tristeza e suspiros, e só nada.
Um grito de agonia, um riso d'extorcer
Ah! Mas que contrast'a mundana gargalhada;
Cresta o sol ardente...o'rvalho faz viver:

Então, a flor crestada, outr'ora tão louçã,
Recebe da Natura, às pet'las magoadas,
O bafejar da tarde, o pranto da manhã:

Assim o coração, --- o anjo lutador---
Recebe d'outro anjo, ás queixas orvalhadas,
O balsamo de "filho", as lagrimas do amor.

Em: A Idéa: orgam do Club dos Estudantes. Anno 1,n.4,nov.,1888.

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