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A Alavanca: orgão litterario, artistico, scientifico e commercial

por Maria Ione Caser da Costa
A Alavanca: orgão litterario, artistico, scientifico e commercial foi um periódico que veio a lume no dia 5 de abril de 1900, na localidade então denominada Andarahy Grande, no Rio de Janeiro, atualmente situada entre os bairros do Andaraí, Vila Isabel e Grajaú. Era um colégio exclusivo para alunos do sexo masculino e seu endereço era rua Leopoldo, 70 .

Segundo o expediente, ele foi editado pelos “Alumnos do Collegio Rio de Janeiro”, mas um dos seus redatores-chefes era Vicente Ferreira da Cunha Avellar Filho, o diretor do colégio. Sylvio Machado e Mario Ferraz eram os outros dois editores, provavelmente os representantes dos alunos. Foi impresso por Martins & C. Typographias e Lithographias, situada na rua do Hospicio, 170. Uma propaganda do colégio pode ser observada na publicação A Chrysalis , de 18 de julho de 1900.

No acervo da Biblioteca Nacional foi encontrado somente um exemplar desta publicação, composta por quatro páginas e diagramadas em duas colunas.

Nas palavras do editorial , podemos conhecer um pouco das intenções da publicação Como tantas outras, tinha em sua pauta o combate ao atraso e luta pelo desenvolvimento do país. O nome do jornalzinho era uma metáfora disso:

Dando á luz da publicidade este modesto orgão temos em vista unicamente combater o vicio e a ignorância.
Que importa a nossa pequenez, quando temos a certeza de que, com a continuação, a boa vontade, o estudo acurado e as instruções que quotidianamente recebemos de nossos mestres, incansáveis na propaganda do bem, tudo fazem em prol do nosso desenvolvimento intellectual, para que em breve possamos vêr coroados de êxito o nosso acertado tentamen, para exemplo dos indifferentes e gloria dos nossos extremosos pais.


A Alavanca – eis o titulo do nosso jornalzinho, que irradiante de esperanças, como o céo de estrellas levanta-se austero para provar que nesta grande e abençoada terra tão prodigalisada pela natureza, onde innumeros são os portos e os rios, uberrimo o clima e importante a flora, que se estende do Oyapoch ao Chuy, dando-nos uma idéa positiva da sua fertilidade, só a instrucção jaz petrificada e vencida pela indiferença geral.

Os alunos e professores do Colégio Rio de Janeiro se mobilizavam para melhorar as condições de desenvolvimento cultural de um modo geral, bem como defendiam a dignidade de uma escola de qualidade. O editorial finalizava com um desagravo contra uma lei que desmotivava o ensino de qualidade apresentado pelo então Gymnasio Nacional, hoje o conhecido Colégio Pedro II:

A Alavanca – entendeu portanto, cumprir um dever sagrado, não sómente apresentando o seu programma, mas, ainda levantando seu protesto contra a lei que equipara os estabelecimentos particulares de educação ao Gymnasio Nacional.

Outrosim, declaramos em tempo tratar de tudo que diz respeito á lavoura, á industria e ao commercio.

Os textos, colaboração dos alunos e professores, mostram os desafios e as alegrias que vivenciavam no decorrer de cada ano letivo. A seguir apresentamos o pequeno texto do aluno Alfredo Machado, que descreve o Colégio Rio de Janeiro. Nada foi encontrado na web sobre o referido colégio, portanto, a leitura em questão nos mostra um pouco como era o colégio.

Collegio Rio de Janeiro
Eis o titulo do collegio a que pertenço, onde bebo quotidianamente luz e sabedoria para meu novel espírito e onde encontro singular amabilidade e dedicação da parte dos meus dignos professores. Situado no pitoresco bairro Andarahy Grande em um confortável prédio, offerece-nos uma chacara arborisada onde refazemos nossas forças physicas e intellectuaes, respirando um ambiente purificado pelo oxigenio expellido pelo grande numero de frondosas arvores que ao mesmo tempo preserva-nos nas horas recreativas dos ardentes raios solares.


Alfredo Machado, Álvaro Castello Branco Junior, Leonel do Carmo, Lydia de Carvalho, Lydia Marques, Manoel de Souza, Octavio Avellar, Sylvio Machado e Thereza Moura são nomes dos colaboradores encontrados nas páginas de A Alavanca.
Destacamos a seguir o poema Anthographia de Mario Ferraz.

Como é bella a açucena olorosa
- Este emblema fiel da pureza;
Como é singella e encantadora a rosa
Que encerra tanta belleza...

Como é também importante o cravo
- Espalhando no ar o seu odor,
Do lyrio eu sou um escravo.
- Captivou-me o perfume d’esta flor.

- Como é poética a violeta triste,
Que o ambiente conserva perfumado,
E o deleite ás nossas vistas assomado.

Ainda uma outra flor mais existente...
Que apezar de inodora é mui querida:
É a camélia, esta flor que exorna a vida.

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