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A Alvorada: órgão litterario, critico e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
Ao longo do século XIX alguns jornais surgiram no estado do Maranhão, dentre eles, A Alvorada: órgão litterario, critico e noticioso, que apareceu em 08 de setembro de 1895. Teve como gerente responsável J. P. d’Almeida.

Com uma tiragem de 800 exemplares, foi vendido por 100 réis o número avulso e para quem se interessasse pelos números anteriormente publicados, era cobrado o valor de 200 réis por exemplar. As assinaturas no estado do Maranhão valiam 1$200 a trimestral e 2$100 a semestral. Fora do estado os valores passavam para 1$600 e 3$000 respectivamente para trimestrais e semestrais.

Cada exemplar era composto por quatro páginas. As páginas foram diagramadas em três colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração.
O texto do primeiro editorial não é assinado. Suas palavras exprimem a necessidade sentida por seus editores de presentear o público leitor com uma publicação que motivasse o gosto pela literatura.

Bem como o delicado e implume passarinho que começa a pipilar os primeiros gorjeios com que acorda o silencio das florestas, ao perpassar de brisa amena e dulcificadora, salta hoje á senda diffícil da publicidade o nosso humilde periodico, interprete fiel do puro sentir de corações juvenis, compleições frágeis, proem robustecidas do desejo que nutrem pelo aperfeiçoamento de seu espirito e engrandecimento intellectual do meio em que vivem.
A prova da necessidade de que se resentia esta cidade, de um jornal litterario que conjurasse a mocidade, despertando-lhe o gosto pelo cultivo das lettras, induz-nos á acreditar que podemos sem receio contar com a benevola proteção do publico, e tambem com a indulgencia e proteção dos nossos homens superiores.
Não temos pretensão á litteratos, que a termos seria requintada ousadia: queremos apenas, como principiantes que somos, dar expansão ás pequeninas locubrações da nossa paupérrima imaginação, que agora começa a receber os clarões da grande aureola que illumina os cérebros, dando-lhes forças para maiores commettimentos – a instrucção! [...]
Mais desejaríamos fazer, mas a notoriedade da nossa imperícia e exiguidade de nossos cabedais, não nos permitem ir além, taes as difficuldades e embaraços da laboriosa e arriscada empreza.
Eis aqui, em sucintas e ligeiras phrases, inteiramente esboçado o nosso programma.


O número 9 de A Alvorada que saiu no dia 03 de novembro de 1895, presta um tributo “ao mavioso poeta maranhense Antonio Gonçalves Dias”, exatamente um ano após seu falecimento. As quatro páginas do periódico trazem crônicas e poesias que homenageiam o ilustre poeta.

A Alvorada publicou também em formato de folhetim, o conto Machadiano “Marianna”, que havia sido publicado anteriormente na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, no ano de 1891. Machado de Assis publicou um outro conto com título homônimo no Jornal das famílias em 1871.

A seguir o soneto “No album d’um amigo” de Dagoberto Lima. O poema foi diagramado na parte central da publicação, só que verticalmente, isto é, se faz necessário virar a página do jornal horizontalmente para facilitar a leitura.

No album d’um amigo

Uns versos ,e pedis para escrever
neste teo álbum, de poesias cheio,
á mim, que desta vida já não creio,
tal é profundo, intenso, o meu soffer.

Si bem ou mal, poder corresponder
ao teu pedido, que cançar-me-veio,
a culpa é toda tua que, no enfeio,
quizeste a todo transe me metter.

Agora, o que direi, quando a descrença
baniu do peito meo a chamma intensa
do amôr, que só deixou-me dissabores?

Nada, bem vês! Pedirei, no entanto,
que em vez, amigo, deste rude canto,
tenha o teu álbum mais cheirosas flores.

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