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A Arte: órgão do Gremio Dramatico Arthur Azevedo

por Maria Ione Caser da Costa
Publicação que se pretendia mensal, A Arte: órgão do Gremio Dramatico Arthur Azevedo teve seu número inicial lançado no dia 12 de outubro de 1896, na cidade de Santos, em São Paulo. Foi impressa pela Typo-lithographia Ribeiro (sucessora da Companhia Predial de S. Paulo, então localizada no “Largo do Carmo - portão ao lado do Quartel”.

Foram nomeados para redatores de A Arte: João José Correa Paranhos, redator-diretor; Luiz Trindade, redator-secretário; Antonio Vieira de Almeida, redator-revisor; Durval de Carvalho, redator-remessista, e José Barroso, redator-arquivista.

O Grêmio Dramático Arthur Azevedo foi fundado por José Moreira Sampaio Júnior, que era conhecido como Juquinha, e por Antonio de Arruda Mendes, o Quincas Mendes.

A correspondência para a redação de A Arte deveria ser endereçada ao Grêmio Dramático, localizado à rua do Rosário, n. 114, atual rua João Pessoa, em Santos.

Somente os sócios do Grêmio e as "Exmas. representantes do bello-sexo que queiram honral-o com os seus autographos", poderiam encaminhar suas contribuições à publicação.

Com o título A Arte, o editorial apresenta informações aos leitores e saúda os colegas da imprensa e o público de modo geral, “fazendo palpitar festiva a bandeira do Gremio”. Eis um excerto:
De todas as preocupações humanas é a Arte a que mais impressiona os nossos sentidos, e mais deslumbramentos expande em nossa alma, porque é uma captivante manifestação do bello.

É o bello ideal sob uma forma tangivel; é a formosura typica accessivel á nossa contemplação, como o ideal da belleza eternisado em marmore - Venus de Milo a expôr a suprema correcção das linhas á admiração dos seculos que passam, deixando a sempre erecta, firme e soberana, immortal como uma deusa. [...]

O titulo que adoptamos para a nossa publicação litteraria exprime a homenagem sincera que a mocidade do Gremio Dramatico Arthur Azevedo presta á Arte.

O apparecimento deste periodico é determinado pelo desejo ardente que todos nós nutrimos de desenvolver a nossa intelligencia por meio do estudo, cultivando o romance, o conto, a narrativa, a phantasia em prosa e verso, e procurando dar ao nosso estylo a correcção e a belleza que vemos brotar espontanea da penna dos grandes mestres - Julio Diniz em Portugal, Theophilo Gautier na França, Machado de Assis no Brasil.

Novo scenario, novo proscenio abre-se aos nossos companheiros, socios do Gremio Arthur Azevedo: o corpo de redação d'A Arte convida-os a vir á luz desta nova ribalta que se chama publicidade, apresentar o resultado de suas reflexões, de seus estudos e de seu amor ás lettras patrias.

Na Biblioteca Nacional existem apenas dois exemplares de A Arte: o primeiro, já mencionado, e o outro, publicado em 24 de fevereiro de 1897, cujo número grafado no local indicado foi alterado, à tinta, possivelmente, por um antigo funcionário da biblioteca. O número 4, impresso, foi encoberto por um 5 caligrafado. Também há um borrão de tinta na data, exatamente sobre o mês de publicação.

Nesse segundo exemplar da coleção, existe outra anotação que aparece ao lado esquerdo, bem abaixo do título, com a seguinte informação: “nº 41”, que indica que este é o quarto título agrupado na mesma miscelânea. Processo muito comum desde os primórdios da organização das publicações periódicas na BN, as miscelâneas são a reunião de vários títulos que possuem, em sua coleção, poucos exemplares. Atualmente, os títulos são armazenados em pasta em cruz, para conservação; anteriormente, os volumes eram encadernados e numerava-se cada título conforme sua ordem de localização dentro da miscelânea.

O exemplar publicado no dia 24 de fevereiro contém vários artigos com palavras de desagravo, como respostas ao senhor Angelo de Souza, que teria criticado de maneira veemente o periódico A Arte. Lê-se: “Vimos sob a assignatura do snr. Angelo de Souza um artigo, no qual tentou exibir a grandeza de sua penna". Vários colaboradores escreveram sobre o assunto, e todos se sentem ultrajados pelas palavras que o tal senhor­ proferira, muitas vezes dirigindo “obscenidades aos collaboradores d’‘Arte’, empregando phrazes com sentido dubio”.

Representando valores que enalteciam a arte e a literatura, A Arte publicou em suas páginas poemas, charadas e crônicas. Colaboraram com a publicação Almerim, Alcide Vecchio, Almir Amôr, Amaro Christiano, Bambolino, Delmiro, Durval Carvalho, Luiz Trindade, Perpétua do Vale e Poncio Nazareth. Selecionamos o soneto Vespera de nupcias, de Amaro Christiano, que aparece grafado em uma dedicatória "á Antonio de Arruda Mendes":

 

Vespera de núpcias

Vai pouco á pouco éssaillusão fugindo.

- Como uma estrella despontando, altiva

No ceo da crença que alimentas, viva,

Rutila, surge a realidade, rindo...

 

Tu, francamente o pensamento abrindo,

Em cada estrella uma adorada - Diva,

Verás, que embora se mostrando esquiva,

Trazer-vos ha o desejo do infindo,

 

Nectar, que os anjos em doiradas taças

Bebem, sentindo as venturozas graças

De terem feito jus a uma jornada.

 

Tu, que caminhas como os anjos, crente,

á Deus pergunta, mas a Seus somente:

Si tens distante o porto da chegada!...

 

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