BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Brisa: jornal litterario, recreativo e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
A Brisa: jornal litterario, recreativo e noticioso foi lançado no estado do Ceará em 1875. Foi impresso pelas máquinas da Typographia Imparcial e o responsável pela impressão foi Francisco Perdigão.

Os exemplares originais de A Brisa pertencem à Biblioteca Pública Estadual do Ceará, que foi criada em 1867 como Biblioteca Provincial do Ceará. Após um longo caminho, onde ocorreram mudanças de endereço e de denominação, em 1978 passa a se chamar Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel (BPGMP). Nesse período, em parceria com o Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos da Biblioteca Nacional (PLANO), programa que ainda hoje visa preservar a memória hemerográfica brasileira, localizando, recuperando e microfilmando periódicos brasileiros, a BPGMP microfilma os originais de A Brisa, que passam a fazer parte do acervo de microfilmes da Biblioteca Nacional. A partir desses negativos, hoje os fascículos podem ser consultados na Hemeroteca Digital.

Os exemplares disponíveis na Hemeroteca Digital são, o número 3, publicado no dia 16 de maio de 1875, e os números 5 até o 10, este último publicado em 04 de julho daquele ano. Tomando por base o número mais antigo da coleção e a informação da capa de ter periodicidade semanal (publica-se aos domingos), pode-se presumir que o primeiro número de A Brisa teria sido lançado no dia 2 de maio de 1875.

Publicação com quatro páginas, cada uma dividida em três colunas separadas por um fio simples. Não recebeu qualquer ilustração. Em suas páginas estão poesias, contos, charadas, folhetins, notícias de eventos católicos, além de vários relatos do cotidiano da cidade.

O número avulso do jornal fortalezense foi vendido por 300 réis, o valor da assinatura mensal valia 1$000, e uma informação no cabeçalho do periódico, indicava que o pagamento deveria ser feito adiantado.

A maioria dos textos publicados em A Brisa não possuem assinatura de quem os escreveu. Os colaboradores assinam com as iniciais do nome ou com pseudônimos. O subtítulo do periódico também não direciona a que público se destina, entretanto pode-se afirmar que o periódico é voltado para o público feminino pois em suas páginas são encontrados em vários momentos termos direcionando às “leitoras”, “bellas leitoras” ou “amaveis leitoras”. A seção “Notícias” do terceiro exemplar informa o seguinte:

Abrimos hoje espaço a um bem elaborada conferencia, sob o titulo – A mulher, o que foi, e o que é, - mimoso escripto do Sr. J. Ramos Filho, offerecida pelo auctor ao nosso amigo A. Domingues dos Santos Silva, e recitada no theatro Apollo Sobralense em 26 de julho do anno proximo passado. Este escripto, para o qual chamamos a atenção dos nossos leitores, recomenta-se não só pelo estylo profuso e ameno, como pela reconhecida elegância da penna de seu autor.

Apresentando-o ao publico, entendemos fazer ás nossas sympathicas leitoras um lindo presente.

 

Segue um pequeno excerto dessa conferência que está na seção “Litteratura” do dia 4 de julho: “A mulher será livre; será livre, sim: igual ao homem, e ambos constituirão por tua ordem irrevogavel, a família sobre o mais inabalavel alicerce – o alicerce do amor.”  Continua o artigo apontando passagens sobre a mulher através dos tempos.  A “Secção Variedades” também dialoga com as leitoras informando o que acontecia na sociedade de então.

Para ilustrar este periódico dispomos a seguir, o poema “Amor e rigor”, que é dedicado “Á “Ella...” e assinado por “Elle”. Observar as letras iniciais da última estrofe. Formam um nome, NANNINHA. No periódico as letras se destacam por terem sido grafadas na horizontal e negritadas.

 

Amor e rigor

Á Ella

 

Por que perguntas, formosa,

Si o pobre moço é poeta?

É ingenua ou indiscreta

Tua pergunta mimosa?...

 

Os poetas, minha rosa,

Não estudão frioleiras,

- Dos sallões, altas asneiras.

São p’ra elles – fria prosa.

 

Se gostas das doces notas

De afeminados sandeus;

Procura então os janotas;

 

Mas, perdão! Perdão, por Deus!

Yayá... desculpa as patotas;

- Lê estes versos, são teus:

 

Nos olhos teus, um poema,

A minh’alma leu, ditosa,

Nesse porte eras Moema,

No gesto altiva, orgulhosa!

Irene, Sapho e Marilia

Não forão bellas assim!

Há, porem entre nós ambos,

Antipathia sem fim.

 

Parceiros