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A Encrenca: critico, humoristico e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário A Encrenca: critico, humoristico e noticioso foi lançado em Caxias do Sul, um município do estado do Rio Grande do Sul, no dia 11 de outubro de 1914. Foi impresso na “Officina a Rua Julho de Castilhos n. 37”.

O título do periódico aparece grafado no alto da capa, com letras negritadas em caixa alta, e uma leve inclinação para a esquerda. Diagramado a seguir, as informações da designação numérica e cronológica e o local de publicação. Na linha de baixo, separados por fios duplos, estão o subtítulo: critico, humoristico e noticioso, ladeado por duas informações: "Redactores diversos" e "Orgão das Zonas".

O conteúdo do periódico está diagramado em três colunas. De um modo geral, todos os fascículos apresentam na coluna central da capa, um poema, enquadrado por contornos em arabescos e desenhos uniformemente traçados.

O subtítulo informa aos leitores o viés que seus editores pretendiam seguir, o humor, presente em toda publicação, e a crítica aos costumes da sociedade de então. Tudo encabeçado por um título que aguça a curiosidade: A Encrenca. O editorial com o mesmo título da revista assim anuncia:
O programma da nossa adoravel filhinha "A Encrenca" synthetisa-se nas palavras que, como divisa, o arlequim Dominico mandàra pintar no pano de boca de seu theatro – Castigat ridendo mores. [Segundo o Dicionário de Português Michaelis, a frase latina significa «corrige os costumes sorrindo].

Realmente, é este o seu escopo: corrigir os costumes, debaixo de troça.

Assim pois, está lançado no seio da carinhosa sociedade de Caxias, a nossa Encrencasinha, que rindo, surge sob um céo tetrico, pavoroso, tragico, ...

Infelizmente, não é possível continuar a leitura do editorial, pois a publicação está danificada, faltando alguns pedaços nas bordas.

Os artigos publicados não são assinados, ou são informadas apenas as iniciais ou pseudônimos, mantendo o anonimato dos colaboradores e dos proprietários. Os textos iniciais receberam a assinatura SIN-DI-K, em letras maiúsculas e em negrito. No nº 7, publicado em 22 de novembro de 1914, uma nota informa que “Colhe hoje mais uma primavera o nosso amigo Aristeu Leitão, director da A Encrenca”, única informação encontrada nas páginas da publicação que remete ao nome de um dos diretores.

As seções de A Encrenca eram regulares, em sua maioria, que são: Collumnas floridas, Chroniquetas, Instantaneos, Janellisces, As visinhas e Echos da semana. Não apresentou ilustrações, além dos contornos e arabescos que circundavam os poemas.

O semanário A Encrenca apresentou 31 edições que circularam de 11 de outubro de 1914 a 30 de maio de 1915. Dessas, estão preservadas 27, que foram microfilmadas e digitalizadas pelo Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, e cedidas para consulta através da Hemeroteca Digital. A Biblioteca Nacional não possui os originais.

O número avulso de A Encrenca foi vendido por 200rs, e a assinatura mensal, que precisava ter o pagamento antecipado, valia 600rs. Em todas as edições existem páginas reservadas para anúncios publicitários: Padaria Familiar, Hotel Bella Vista, Typographia de H. Sartori, Café America, Alfaiataria Moderna de Luiz Rossi, são alguns exemplos.

Impresso sempre aos domingos, no dia 9 de maio de 1915, no número 28, depois de três semanas sem ser publicado, traz impresso na primeira página, a seguinte informação:
Ao publico

Devido a uma desharmonia de vista, entre os proprietarios deste modesto hebdomario, foi suspensa a sua publicação, dos três números ultimos, mas, tendo sido solucionado dignamente o incidente. A Encrenca, e continuará a ser publicada com o mesmo programma Castigat ridendo mores, visto não ter soffrido solução de continuidade. Assim sendo, pedimos desculpas aos nossos assignantes, por tal falta, e declaramos para os devidos fins, que toda a pessoa que receber a nossa modesta folha, e não a devolver a redacção, desta data em diante, será considerado assignante.

Caxias, 1 de maio de 1915.

A Redacção

Três semanas após, estariam publicando o último número da coleção. Do primeiro exemplar selecionamos o soneto de E. Mazza com o título Longe.

 

Longe

Longe de ti, de teu olhar distante

passei os dias como se passasse

vendo perto e risonho o desenlace

do meu amor feliz, dulcificante.

 

Via-te sempre embora que fugace

fosse a ilusão que eu tinha nesses instantes

quandodorminfo eu era de flagrante

pegado em sonho te beijando a face.

 

Via-te sempre, até me parecia

que a proporção que a sorte me levava

para longe, mais perto inda te via.

 

No entanto agora, que eu voltei e avara

paixão tornou-se de outro amante escrava

que tamanha distancia nos separa.

 

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