BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Encrenca: critico, litterario e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário A Encrenca que recebeu o subtítulo critico, litterario e noticioso, foi publicado pela primeira vez no dia 14 de novembro de 1915 em Manaus, capital do estado do Amazonas, na região norte do Brasil.

A Encrenca, publicação manauara, não apresentou nomes de autores ou editores responsáveis. Também não foi encontrado em suas páginas o nome da tipografia encarregada de editar a publicação. Todos os artigos são assinados por pseudônimos, mantendo-se assim, no anonimato.

O expediente, que aparece publicado nas terceiras páginas de cada fascículo, nomeava os responsáveis pela publicação como “Director: Encrenqueiro; Redactor: Encrencado; Gerente: Encrenquinha.”

Periódico totalmente jocoso, trouxe ainda as seguintes informações no expediente: “os convites para duellos devem serem dirigidos ao Dr. Come Gente”, ou ainda: “Acceita-se correspondencia sobre namoros e farofas de coiós renintentes.”

Outra nota do expediente indicava os locais em que os leitores interessados poderiam adquirir suas assinaturas: “As correspondências destinadas a este jornal, devem virem competentementes assignadas e depositadas em nossas caixas no kiosque Estrella d’Alva á Avenida Eduardo Ribeiro e no botequim do Pimpão á Estrada Epaminondas.” Todas as informações, sempre carregadas de chacotas e enigmas, eram mantidas no anonimato.

O número avulso de A Encrenca foi vendido por $200, mesmo valor cobrado pelos números atrasados.

A seguir o editorial. Dele pode-se observar que seus autores almejavam apenas brincar com os leitores, sem, contudo, ofendê-los:
Sahe pela primeira vez em Manáos a luz da publicidade este jornalzinho de feição moderna, estylo novo e verve aguçada com um ‘smartismo’ sem jaça, prompto para descobrir os d Juans baratos e ‘tutti quanti’ que appareça por esse mundo de nosso Deus do Céo.

Aqui de nossa tenda de trabalho faremos tudo para que as nossas gentis ou nossos amaveis leitores não se molestem com a nossa linguagem, porque será sem offensa a quem quer que seja.

Ao mesmo tempo agradecemos aos nossos leitores o bom acolhimento que nos derem sobre o nosso apparecimento.

A Encrenca teve uma vida longa, se comparado aos inúmeros títulos de periódicos da época, onde as condições de impressão e circulação não favoreciam publicar alguns poucos fascículos. Do periódico em questão, foram lançados trinta e dois exemplares, tendo o último sido publicado em 21 de janeiro de 1917, portanto, mais de um ano após seu lançamento. Durante este período apresentou somente algumas falhas na periodicidade. A coleção da Biblioteca Nacional está quase completa, falta apenas o número 7.

Publicação domingueira, trazia em suas páginas anedotas, notícias do dia-a-dia, apresentadas sempre de um jeito bem-humorado, para iniciar a semana com as novidades que movimentavam o povoado naquele início do século XX.

Destacamos a seguir o poema publicado no último exemplar da coleção com o título de Prato do dia e assinado por Ali-Kat.

 

Prato do dia

Esta moda das senhoras

Nem mesmo sei explicar

São saias de pescaria

E são botas de montar.

 

Creio que com mais um anno

Da moda que a Moda anda

As botas servem de calças

E as saias servem de tanga.

 

Selecionamos também outro poema, um soneto. Este assinado por Antidio de Azevedo, com o título de A Partida.

 

A Partida

Quando era triste a tarde! E que atroz amargura!

Naquella hora sinistra enchia a minha vida,

Quando o velho relógio, a uns tres metros de altura

Lembrava em alta voz o instante da partida!

 

Eu li nos olhos teus a mesma desventura,

Egual á que inda traz minh'alma assim ferida,

Quando, com tanta graça e intermina ternura,

Dizias-me um adeus cruel de despedida!

 

Mostrava a tua face a sombra de um desgosto

E o meu ser revelava o causticante espinho

Da dôr descommunal que enluta os dias meus!...

 

E lagrimas de fogo inundaram meu rosto,

Quando, já longe, á curva estreita do caminho,

Agitavas a mão de neve num adeus!

Parceiros