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A Ideia: periodico litterario e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa
A Ideia: periodico litterario e recreativo foi lançado em Natal capital norte-rio-grandense no período imperial. Apenas um exemplar desse periódico encontra-se preservado e pode ser consultado na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, é o número 5, que foi publicado no dia 27 de março de 1880. Infelizmente as pesquisas não apontaram a existência de outros números em diferentes bibliotecas.

Não havia periodicidade definida para a publicação de novos fascículos. Uma nota no cabeçalho informava que “sahirá em dias indeterminados”. Também não apresentou valor para a venda de números avulsos. Imprimia apenas o valor para assinatura trimestral, que era de 1.000 réis.

A Ideia foi impressa na Typographia Conservadora, que estava localizada na rua dos Voluntarios da Patria. Não apresenta nome dos responsáveis pela publicação nem mesmo os nomes de seus editores.

O único fascículo constante do acervo possui quatro páginas diagramadas em duas colunas e não apresenta ilustração.  Além das crônicas, publica também poesias e charadas.

O artigo inicial do exemplar em questão discorre sobre educação. Retrata a importância da instrução, comparando-a ao “néctar delicioso com que a mocidade fortifica o seu espirito”.

O artigo seguinte, ainda na primeira página tem o título de “A mulher”. Improvável imaginar que no século XIX fosse possível encontrar leitura elogiosa às mulheres. Logo no início, lê-se que “tem sido a mulher decantada como a obra prima da creação, como o symbolo da paz, como a felicidade do homem e com todos os predicados que se attribuem a um ente perfeitamente sublime.”  Na sequência lê-se a negação àquelas qualidades. As palavras são grosseiras. “Nós não podemos dizer assim; a mulher exerce funções as mais importantes da sociedade e quase sempre não as desempenha satisfatoriamente.”

As mulheres tiveram que lutar bravamente para conseguir ter voz, para conseguir ter sua vontade aceita, um texto dessa natureza nos mostra o quão difícil foi (e continua sendo infelizmente, quase um século e meio depois) a luta travada pelas mulheres em busca da equiparação de seus direitos perante a sociedade.

O texto segue tecendo comentários contra elas e ao final, um pedido de perdão às leitoras: “Perdoe-nos as nossas digníssimas leitoras se alguma cousa dissemos que offendesse as suas susceptibilidades; porem parece-nos que não, não nos referimos a pessoa alguma, e confiamos muito que as nossas destinctas leitoras desempenhem os papeis que lhes forem distribuídos com a sublimidade de sua importancia”.

A seguir um poema assinado por Alvares da Silva intitulado “Nossa mãe”. Possivelmente seria o poeta Francisco Otílio Alvares da Silva que também colaborou em outro periódico, O Recreio: periodico critico, poetico e noticioso, também relacionado nesse dossiê.

 

Nossa mãe

Quem é nossa mãe? Archanjo amado,

Essência divinal, anjo inspirado,

Da creação;

Quem é nossa mãe? Ó como sôa

Este místico murmúrio que resôa

No coração!

 

Quem é nossa mãe? Um ser divino

Que sana do filhinho peregrino

A afflicção;

Quem é nossa mãe? A luz da vida

Que nos livra da procela denegrida

Da perdição.

 

Quem é nossa mãe? Mulher celeste

Que na terra carinhosa se reveste

De candura;

Quem é nossa mãe? Ente fecundo

Dos carinhos q’nos vota neste mundo

Com ternura.

 

Quem é nossa mãe? Rosa querida

Que solta doce aroma e nos dá vida

Ao coração;

Quem é nossa mae? Visão sublime

Que n’alma a esperança nos imprime

Com paixão.

 

Quem é nossa mãe? Nota queixosa

Que dos lábios infantis tão sonorosa

Se desprende:

Quem é nossa mãe? Grata miragem,

Do anjo do Senhor a pura imagem

Que nos prende.

 

Quem é nossa mãe? Rola inocente

Carpindo de seu filho em pranto ardente

O padecer;

Quem é nossa mãe? É quem na vida

Por nós vai afouta e destemida

Fenecer.

 

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