BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Perola: revista humorística e litteraria, dedicada ao Bello Sexo

por Maria Ione Caser da Costa
A Perola: revista humorística e litteraria, dedicada ao Bello Sexo foi lançada no início do ano de 1895, no município de Oliveira, que pertence ao estado de Minas Gerais. O primeiro exemplar da coleção que se encontra preservado na Biblioteca Nacional é o ano 1, número 3, de 8 de março de 1895.

Impressa pela Typographia a vapor da Gazeta de Oliveira, a publicação teve como diretor Acrisio Ribeiro e como redatores Coelho Junior e Arthur Chagas. De acordo com o subtítulo, A Perola teve como base para suas publicações, a literatura, apontando, entretanto, para a ótica do humor.

Não é possível conhecer o programa de A Pérola, pois faltam os dois primeiros exemplares. Na primeira página do exemplar número 3, está um poema do escritor mineiro Bento Ernesto Junior (1866-1934), intitulado “Teu olhar”.

A Perola publicou textos literários e textos humorísticos, publicou também o que pode ser identificado como outros gêneros textuais, que são os recados, felicitações de aniversário, notas de pesar, notícias e eventos da sociedade oliveirense, além de propagandas comerciais.

A publicação atendia às diferentes necessidades da população local, dando oportunidade de comunicação entre as pessoas, principalmente por Oliveira estar a uma certa distância de Belo Horizonte, capital mineira.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados, além do exemplar citado acima, os números 4, 13 e 18 editados respectivamente em 23 de março, 15 de agosto e 4 de dezembro de 1895 e os números 20 e 21 editados em 15 de janeiro e 1º de fevereiro de 1896, respectivamente. Com o número 21, A Perola completava seu primeiro aniversário, e publicou o seguinte texto:
Completa o primeiro anno de publicação o nosso modesto jornal.

É ainda um periodo muito breve para se poder presagiar que a nossa folha assim como chegou ao primeiro marco da sua existencia, assim tambem irá no decurso do tempo assentando muitos outros.

Não nos preocupa, porem, a idéa da serie dos annos que porventura se desdobrará para o nosso despretencioso periodico, pois a utilidade da publicação de um jornal não se aquilata pelo tempo mais ou menos longo de sua duração, e sim pelos assumptos de que trata, levando se em conta os esforços empregados para corresponder ao programma em que se expõe o que do vasto campo das lettras se pretende occupar preferencialmente.

Si temos correspondido ao compromisso a que nos impuzemos quando pela primeira vez nos apresentamos, não nos cabe dizel-o; mas o que é certo é que temos diligenciado dia a dia para não desmerecermos do benevolo acolhimento com que durante o primeiro estadio de jornalista novel nos tem dispensado não só os nossos presados collegas de imprensa, como tambem os nossos prestimosos assignantes e publico em geral.

Esse é o último exemplar que está preservado no acervo da Biblioteca Nacional. Não foram encontradas, nas pesquisas realizadas, notícias sobre a continuidade do periódico.

Todos os exemplares foram formados com quatro páginas, diagramadas em três colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração. Em uma das páginas de A Perola está o soneto “A Lagrima” de Hamilton Pires

 

A Lagrima

Quando se esconde no peito a negra dôr,

Qual rôla afficta na floresta escura,

E se esvaem nossos sonhos de ventura,

Como se esvae da roza o puro odor.

 

Ha uma esperança sem vida e sem calôr,

Que nos arrasta o corpo á sepultura,

Se a lagrima, essa perola tão pura,

Não nos trouxer á face o seo frescôr.

 

E quando a mente, em fôgo, já delyra

E se esconde na dôr o sentimento

O peito, como a flôr, sente e suspira.

 

Eis que a esperança se oculta um momento

Ao seio da tristeza, ao son da lyra,

Quando rápido foge - o pensamento...

 

Parceiros