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A Vanguarda: orgam do Centro da Mocidade Livre-pensadora

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Vanguarda: orgam do Centro da Mocidade Livre-pensadora surgiu no dia 22 de janeiro de 1905, em Curitiba, capital paranaense. O órgão foi resultado da união de alguns professores e alunos do Ginásio Paranaense, ligados à loja maçônica Luz Invisível, que partilhavam o pensamento anticlerical, como uma resposta provocativa ao Círculo da Mocidade Católica, que havia sido criado.

A Vanguarda adotou como epígrafe uma frase do líder republicano francês Léon Gambetta (1838-1882), “O clero, eis ahí o inimigo!”

Circulou de 1905 a 1906, tendo 14 números publicados. O último saiu exatamente um ano depois, no dia 22 de janeiro de 1906. Todos podem ser consultados na Hemeroteca Digital.

No longo editorial de lançamento, com o título “Carta aberta”, assinado pelo literato curitibano Euclides Bandeira (1876-1947), o escritor inicia dirigindo-se aos distintos jovens do Centro da Mocidade Livre-Pensadora: “Á juventude talentosa e altiva, que ao sol esfralda o pendão escarlate de campanha em pró do Livre-Pensamento, pouco tenho a dizer.” Bandeira, segue o editorial se congratulando com seus pares por tomarem posição na linha de combate contra os janizaros do Vaticano, e utilizando as “armas dignificadoras da Imprensa”. Finaliza afirmando que “A Vanguarda pertence á mocidade que se bate por uma éra nova e que ha de vencer porque [...] o espirito do futuro está onde está o coração da mocidade.”

A seguir, o texto de abertura do último fascículo publicado. Com o título “Elles e nós”, escreveu o seguinte texto:
Ha um anno fundou-se nesta capital, uma associação ultramontana, intitulada: Circulo da Mocidade Catholica.

Teria, dizia-se, o seu órgão na imprensa, para diffundir os santos ensinamentos da religião catholica.

Na mesma epoca fundámos o nosso Centro, tendo para orgão A Vanguarda, prompta para enfrentar a mocidade catholica que surgiria brilhante, cheia de fé, rebatendo, pelo seu jornal, as calumnias que porventura os livre-pensadores assacassem contra os virtuosos representantes de Christo.

Mas, enquanto o beaterio, cheio de esperança, olhos fitos nos jovens combatentes, aguardava o apparecimento do novo orgão da “boa imprensa”, este não só nunca surgiu, como o Circulo morreu de mal de sete dias.

Triste decepção, cruel ironia da sorte: não ter a clericalha gente capaz de tomar a defesa dos santos ministros do Senhor.

Pobre mocidade catholica!

Emfim, ha males que veêm para bem, diz o proloquio. [...]

Emquanto morria o Circulo Catholico, o seu antagonista seguia impavido a sua rota, preenchendo a sua missão de combater o romanismo criminoso.

Tal facto, vem demonstrar, mais uma vez, que a mocidade paranaense é livre-pensadora, queiram ou não os desiderios et caterva.

A Vanguarda, completa o seu primeiro anno: um anno de luta contra os esbirros do Vaticano.

E se nesse anno, assistiu com prazer avançar o livre-pensamento, se presenceou com satisfação o jesuitismo perder terreno, teve o profundo pezar de ver desapparecer, no Paraná, um velho batalhador, Albino Silva, a quem A Vanguarda, rende homenagem de saudade e gratidão.

Com essas palavras o periódico afirmava que seus membros eram anticlericais e estavam dispostos a combater as afirmativas da religião católica. Os militantes do Centro Livre-Pensador eram os expoentes da nova geração literária paranaense

Os fundadores do Centro foram Albino Silva (1850-1905), Aluisio França, Augusto de Faria Rocha, Cícero Cirne Carneiro, Gastão Pereira Marques, José Guahyba, Raul Gomes (1889-1975), Roberto Faria e Savino Gasparini. A seguir, um soneto “Á Lucta”, de Cicero França (1894-1908), publicado no número 4, de 12 de março.

 

Á Lucta

Moços! Guerra de morte aos sotainas malvados,

Aos vendilhões do templo, aos vis exploradores

Da consciencia do Povo, aos corvos vendedores

De missas; de Jesus os preceitos sagrados.

 

Profanando, crueis, façamos! Os furores

Esmaguemos da hydra, assim que a cães damnados.

Por todo o mundo então seremos abençoados,

Toda Terra nos ha de, ouvir-me, atirar flores...

 

Luctemos sem temor, que teremos Victoria

Pois a raça maldita inda enxovalha a Historia

Ante a Luz... A Razão seja o nosso phanal.

 

Combatamos em prol da lucida Verdade

Com as armas mais leaes... Á lucta, Mocidade!

É preciso extinguir este cancro social!

 

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