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Album do domingo

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico literário Album do Domingo foi lançado no dia 7 de abril de 1878, em Porto Alegre. Foi considerado um dos mais importantes periódicos literários do estado do Rio Grande do Sul do século XIX.

Album do domingo era propriedade de Saturnino José Pinto, e contava com uma extensa relação de colaboradores: Alexandre Bernardino de Moura (?-1911), Apelles Porto Alegre (1850-1917), irmão de Apollinario Porto Alegre (1844-1904), Artur Candal (1857-1924), Artur Rocha (1859-1888), Augusto Rodrigues Totta (1845-1907),  Aurélio Veríssimo de Bittencourt (1849-1919), Carl Jansen (1829-1889), Carlos von Koseritz (1830-1890), João Damasceno Vieira Fernandes (1853-1910), Sarmento Menna, Hilario Ribeiro de Andrade e Silva (1847-1886), Inacio de Vasconcelos Ferreira (1838-1888),  José Bernardino dos Santos (1845-1892), Motta Filho, Múcio Teixeira (1857-1926), Silva de Albuquerque e Vasco de Araújo e Silva (1842-1895).

Alguns outros colaboradores aparecem ocasionalmente nas páginas de Album do domingo, como Antônio Vicente da Fontoura Xavier (1856-1922), Policarpo Guimarães e João Silvino Vidal (1850-1937).

Com circulação semanal, o periódico noticioso e literário foi impresso pela Typographia do Album do Domingo, que estava situada na “rua dos Andradas, n. 96 da H”. Esta informação colocada depois do número, no endereço da tipografia, aparece em outro local da publicação como n. 96 “(da Hydraulica)”. Possivelmente para informar que estava localizado próximo ao chafariz da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, que foi construído entre os anos de 1859 e 1865.

Album do domingo começa em abril de 1878 e sai de circulação em março de 1879, com 52 edições. A maioria dos exemplares foram publicados com 8 páginas, mas alguns fascículos apresentaram 10 ou mesmo 16 páginas. Todas as páginas diagramadas em duas colunas divididas por um fio simples. Não apresentou ilustração. Seu formato original mede 24cm x 33cm.

O valor cobrado para assinatura trimestral era de 3$000 e a semestral valia 6$000. Não apresentava valor para venda do exemplar avulso.

O editorial, onde se apresenta ao público leitor e expõe o seu programa não é assinado. Eis parte dele.
Um combatente mais na arena das lettras.

Não vem sobraçando as armas da intelligencia e da illustração; apresenta-se humilde como o soldado que faz as primeiras guardas, o poeta que ensaia os primeiros cantos, o homem de imprensa que a medo lança os primeiros artigos.

Já se vê que o Album do Domingo apresenta-se diante do publico porto-alegrense, que merecidamente gósa fóros de illustrado e cavalheiroso, sem pretenções e sem vaidades.

É um soldado para a luta que vai neste século travada entre a treva e a luz, o saber e a ignorância, o obscurantismo e o progresso; é um obreiro, que trabalhará activa e incansavelmente no levantamento da litteratura nacional ao ponto que já devêra occupar, si maiores e decididos esforços houvessem empregado para isso aquelles que o podião.

Fica, pois, estabelecido que o Album do Domingo tem por principal missão procurar desenvolver o gosto pelas lettras, e neste intuito buscou cercar-se do auxilio de distinctos collaboradores, alguns de reputação firmada, outros que se inicião auspiciosamente na carreira litteraria.

Segue o artigo afirmando que os povos devem se envolver moralmente pelo progresso da instrução, e desejando que as classes populares se instruam e passem a tomar parte “no banquete da civilisação”. E finaliza:
Tudo envidaremos para corresponder aos auxílios que nos forem concedidos; e, animados do desejo do trabalho, não abandonaremos a arena sinão quando por fatalidade nos convencermos da esterilidade de nosso esforço, do naufragio das esperanças que nos alentão hoje.

Um lugar, pois, ao Album do Domingo entre a illustrada imprensa desta capital, á qual, como de dever, apresentamos nossas sinceras homenagens.

A seguir um poema de Arthur Azevedo (1855-1908), publicado no número 15, de 14 de julho de 1878 com o título “Os cinco sentidos”.

 

Os cinco sentidos

Já não te posso vêr, ó pallida senhora!

Pódes mandar, ó Deus, um raio furibundo

a luz dos olhos meus arrebatar agora!

Já não te posso vêr... Que mais verei no mundo?

 

Já não te posso ouvir a voz melodiosa,

que me trouxera um dia a brisa perfumada...

Si o cantico celeste, ó pallida formosa,

já te não posso ouvir, não devo ouvir mais nada.

 

Ai! não me esquecerei do singular perfume

que tinha o teu cabello, aurifero thezouro!

o candido egoísmo, o fervido ciúme

que me causava o olor do teu cabello d’ouro!

 

Não posso mais gostar o mel que distilava

dos labios teus n’um beijo ardente e apaixonado.

Que mais hei de eu gostar, si o Deus dos céos avaro

roubou-me gota a gora o nectar estimado?

 

Nem mais de tua mão aos azulados veios

confiar póde á minha incognitos segredos!

nem mais, ó sensitiva, as folhas de teu seio

se hão de retrahir ao toque de meus dedos.

________

 

Leitores meus, dizei-me agora á puridade

vós que passaes a vida alegres e nutridos:

si é morta a minha triste e pallida beldade,

em que posso empregar os meus cinco sentidos?

 

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