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Galaxia: revista artistica internacional

por Maria Ione Caser da Costa
Galaxia: revista artistica internacional teve como diretores Luys Jordão e Luys Gaston (de acordo com a grafia da época). Seu primeiro exemplar foi lançado em julho de 1896 no Rio de Janeiro. A sede da publicação estava localizada na rua da Assemblea, n. 76.

Na Biblioteca Nacional existe apenas o exemplar citado acima, e as pesquisas na web não encontraram indicativo da existência do título em outra biblioteca ou informação sobre sua continuidade.

Na capa da revista pode-se ver que as letras que compõem o título são trabalhadas com contornos, em desenhos sem serifas, compondo uma arte agradável aos olhos. Nela, além do título e subtítulo, está também a designação numérica, a relação dos artigos publicados, com seus respectivos autores e outras informações pertinentes.

Publicação que pretendia ser mensal, traz em nota que Galaxia “não contrahe compromissos de assinaturas, estabelecendo para sua venda avulsa os seguintes preços:" para a capital o valor era de 1$000 e para os Estados da União e Estrangeiro, o valor cobrado era de 2$000. Informa ainda que "A Galaxia só publicará em suas páginas os trabalhos de aquelles cuja collaboração houver sido por ella solicitada".

Nas páginas que seguem aparecem artigos e poemas, finalizados pela assinatura do responsável intelectual. Aparecem também desenhos à nanquim de alguns autores ou personagem referenciado.

Como indica no subtítulo, Galaxia foi dedicada às artes e aos autores brasileiros. São citados artistas e exposições que se destacaram em várias partes do mundo, principalmente na Europa. Publica também poemas em francês.

O número de lançamento da revista não apresenta editorial. Inicia com o poema “Mater”, extraído de Val de Lyrios, do poeta de Rio Bonito, B. Lopes [Bernardino da Costa Lopes (1859-1916)].

A seguir um artigo assinado por F. J., sobre Paul Verlaine, o “eleito da phrase em verso”, com alguns de seus poemas e desenhos à nanquim.

Totalmente voltado para as artes, a seguir um destaque da seção Vida artistica, assinada por Mario Vilhenan, depois de noticiar sobre os artistas londrinos e parisienses, dá conta dos brasileiros:
Em arte litteraria.......

Fallemos de nós, que o espaço é curtissimo.

- Para Agosto, talvez principio de Setembro, as rutilantes Paginas do Lima Campos, um dos Eleitos da collaboração da Galaxia. Lima Campos é, dos nossos prosadores o que mais se apaixona pela feitura artistica da phrase; seus periodos são preciosos metaes cortados á pulso de BenevenutoCellini, e a composição sáe-lheda pena, em ultimoretóque, inteiriça e lavorada como feita de um só blóco. Páginas seraão um successo de fina arte escripta para os Emocionaes.

- Em flavo Oitubro teremos, de Mario Pederneiras, o poemeto Job, bellissimo e raro como os chrysanthmos dos jardins de Yedo.

Os colaboradores desta edição foram B. Lopes, Gonzaga Duque, Lima Campos, Mario Pederneira e Mario Vilhena. De Izaltino Barboza (1867-1935) o esboço do quadro “Dolorosa” em página inteira. Os responsáveis pelas ilustrações foram Arthur Lucas e Luiz Caston. Escolhemos, para ilustrar a publicação, o excerto do poema “Era uma vez”, de Mario Pederneiras.

 

II

"Iam-se as Invernadas...

Foi ao Luar eburnisante e farto.

- As palpebras cerradas

Á calentura morna do meu quarto -

Que me veiu, nitida e fugaz,

Aquella nobre apparição tão doce

Como se cinzelada fosse

Ao polimento eburneo dos Luares

Por afilada petala Lilaz.

 

Aquella flor esbelta,

Em penetrante e plácida fragrancia,

Diluia nos Ares

Aromas da Elegancia

Do seu aprumo imperial de Celta,

E pouco a pouco se ampliando

Em redondeza tumida e suave

Foi efforando

Em plumeo collo de Ave;

E eu vi, tremulo e lasso

Ante a linha fidalga desse dorso

Surgir depois, alacrisando o Espaço,

A apótheose triumphal do torso.

Apoz, o  corporigido, aromal,

Vibrantemente bello,

Mais nobre mesmo e mais senhorial

Que os torreões do Sul do Meu Castello.

 

Mas... e maguado de desgosto,

El-Rey o olhar baixava,

Não pude vêr, e tanto procurava,

A belleza flagrante do seu rosto.

 

Travez do enlevo excelso, imaginario,

Eu percebia,

Na minha magua de estranho solitario,

Uns olhos em eterna Ave-Maria,

Regios e polidos

- Pontifices do amor vestindo pardo,

Em romaria a Ceus humedecidos

Da doçura aromatica de um cardo."

 

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