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Galeria romantica: jornal litterario, poetico e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
Lançado no Rio de Janeiro em 31 de julho de 1864, um domingo, o periódico Galeria romantica vinha acompanhado do subtítulo jornal litterario, poetico e noticioso.

O português Antonio Vieira de Almeida Azevedo foi o proprietário do semanário, impresso pela Typographia de Domingos Luiz dos Santos, localizada na rua Nova do Ouvidor, n.20.

O número avulso de Galeria romantica foi vendido por 300rs. Os pedidos de assinatura deveriam ser pagos adiantadamente. Na corte as assinaturas valiam 10$000, 6$000 e 3$000 respectivamente para anual, semestral ou trimestral. E se a assinatura fosse para as províncias, os valores eram de 12$000, a anual, 7$000 a semestral e 4$000 a trimestral.

Uma nota na última página dos fascículos fazia dois pedidos: "rogamos a todas as pessoas que nos honrarão com suas assignaturas, hajão de reclamar nesta redacção, qualquer falta que se dê na entrega da nossa folha, afim de immediatamente darmos as necessarias providencias", o primeiro. E o segundo: "todos os senhores que quizerem obsequiar-nos com algum artigo podem dirigil-os a esta typographia."

Na Biblioteca Nacional constam apenas os quatro primeiros números de Galeria romantica que podem ser consultados na Hemeroteca Digital. Cada exemplar, composto por quatro páginas, que foram diagramadas em três colunas divididas por um fio simples.

Galeria romantica publicou romances em capítulos, poesias, charadas e crônicas. Seus textos são por vezes anônimos. Dr. Sinfronio e Figueiredo Cardozo, são alguns dos colaboradores.

No primeiro fascículo os editores não publicaram editorial, local habitualmente utilizado para informar aos leitores a razão da existência da publicação. O texto de abertura é “Fernando e Margarida”, um romance histórico, ambientado no Rio de Janeiro, cuja autoria não pode ser identificada. O romance é apresentado em capítulos, e na coleção da BN só constam os quatro primeiros números, possivelmente o nome do autor estivesse no último capítulo.

“Fernando e Margarida” foi publicado anteriormente, no dia 6 de fevereiro de 1853, no periódico O Curupira, editado no Rio de Janeiro, também em capítulos. De acordo com cronologia escrita pela professora doutora Gernana Maria Araújo Sales, o autor do romance foi Justino de Figueiredo Novais.

Do primeiro fascículo destacamos um pequeno excerto do romance: "Margarida sentou-se na sua banquinha, e abaixando a cabeça, para occultar a sua comoção pôz-se a ouvil-o cantar com uma voz doce e repassada de infinda tristeza, os seguintes versos de uma das endechas[*] de Camões."

Em tristes cuidados,

Passo a triste vida,

Cuidados cansados,

Vida aborrecida.

 

Nunca pude crer

O que agora creio.

Cegou-me o prazer

Do mal que me veio.

 

Nesta vida céga

Nada permanece;

O que ainda não chega

Já desapparece.

 

Qualquer esperança

Foge como o vento.

Tudo faz mudança,

Salvo o meu tormento.

 

Amor cégo e triste

Quem o tem padece

Mal quem lhe resiste!

Mal quem lhe obedece!

 

No meu mal esquivo

Sei como trata,

E porque nelle vivo

Nenhum amor mata.

 

[*] De acordo com o dicionário Houaiss, “endecha” é uma "composição poética sobre assunto melancólico, formada de estâncias de quatro versos de cinco sílabas".

 

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