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Heliopolis: revista de artes e letras

Em abril de 1913, vinha a lume na cidade de Recife, o primeiro exemplar de Heliopolis: revista de artes e letras.

Publicação mensal, a revista era editada por um corpo redacional cujos nomesse tornariam importantes nos círculos intelectuais da região. Agrippino da Silva, Mario Linhares, Costa Rego Junior, Silva Lobato, Raul Monteiro, Rodovalho Neves, Ulysses Sampaio, Paulino de Andrade, Eladio Ramos, Mariano Lemos, Humberto Carneiro e Tenório de Cerqueira são personagens que freqüentam o expediente. Em todas as edições seus nomes apareciam em local de destaque, envoltos em arabescos floridos. Cada número publicado esteve a cargo de uma comissão composta por três membros do corpo redacional.

O expediente trazia o valor para compra. O número avulso valia $500, a assinatura semestral saía ao preço de 3$000, e a anual, 5$000. E informava também que “A correspondencia destinada á HELIOPOLIS, deve ser dirigida á Associação Cristã de Moços de Pernambuco, á rua da Aurora, n. 65, 1º andar”.

No primeiro exemplar, após um anúncio de página inteira, sobre o Autopiano, que com “pouca muito pouca pratica é possível tocar-se artisticamente”, lê-se um “Regulamento”, impresso em duas colunas, modelo gráfico seguido no restante das páginas da publicação. Eram dezesseis tópicos, que vinham assinados pelos doze componentes do corpo redacional. No regulamento estão dispostos o passo-a-passo seguido nos trabalhos de edição de Heliópolis. Um dos tópicos afirma que “a revista não terá director, porem, sim, um thesoureiro, que será acclamado na reunião inicial a cargo do qual ficará o serviço de arrecadação de assignaturas”.

Após mais uma página de propaganda, anunciando Royal, “a mais perfeita das machinas de escrever" aparece o editorial, com o título “Pórtico” assinado, por Mário Linhares.

A Heliopolis, que vem satisfazer uma das mais fortes necessidades do meio, surge apparelhada para as justas ensarilhadas do Pensamento, revestida da intransigencia dos mais sãos e dignificadores princípios.
Não a anima o sôpro de fúteis e surrateiras velleidades; infamma-a o esto da lucta em quese empenham, golpeantemente, todos os espíritos impulsionados pela força dos idéaes superiores.
O Recife que foi, em tempos outros, o cérebro do norte, para falar na expressão corriqueira da giria e, si attendermos a opinião de Sylvio, teve a primazia no paiz como emporio da intellectualidade patria, em que, primeiro, se focalizaram todas as grandes correntes scientificas e philosophicas, irradiando-se depois, com intenso fulgor, por todo o continente como o centro de um systema planetario, - dorme, hoje, o somno de chumbo de um marasmo desalentador. [...]
Dest’arte, - blindados d’esse nobre arrojo e d’esse poder moral que suscita as sublimes dedicações e, adstrictamente, sobreavisados do assalto inopinado de todos os revezes, - é que emprehendemos a cruzada santa que a Heliopolis é o gonfalão que se desdobra ás caricias da luz.
E partimos... partimos, - affrontando, qual uma vela afoita, os maroiços das paixões -, cheios de fé, para as incertezas do futuro, levando nalma a fortalecedora esperança de ter, como im supremo conforto, nas horas de quebrantamento, o viatico da sympathia publica.


Heliopolis circulou mensalmente no primeiro e segundo anos, com uma média de 25 páginas cada edição, incluindo as páginas especiais. Algumas páginas eram impressas a cores, com um suplemento em papel acetinado, e uma folha de cartolina especial. Nestas páginas eram apresentados retratos desenhados a bico-de-pena por Lob (Silva Lobato), J. Plnhelro ou Craion (Abelardo Mala), com o título "os de casa”.

Nos anos seguintes, a periodicidade mudou. Em 1915 foram publicados três números correspondentes aos meses de abril, julho e outubro. Em 1916, a revista apareceu nos meses de janeiro, abril e agosto. Naqueles anos o número de páginas foi um pouco maior, quarenta páginas em média. Em 1917 ocorreram somente duas publicações, em janeiro e abril. O exemplar de abril recebeu o número 29 e foi o último a ser publicado na coleção. A despedida aparece no editorial:

Detenhamo-nos um pouco.
Olhemos, agora, para o passado...
Quatro annos rolaram sobre os nossos esforços, sobre o dispendio das nossas energias creadoras. Na larga trilha percorrida ha vestígios da nossa passagemm ha signaes evidente dp ímpeto da nossa alvoroçada juventude.
Mas que fizemos no decorrer desse período?
- Quase nada, dirão.
Talvez nos façam justiça...
Alenta-nos, porem, o desejo de fazer muito, anima-nos a esperança dp muito que ainda podemos fazer na continuação do sulco aberto no campo inculto das letras.
Nem toda a semente se perde; alguma cousa ha de medrar... Em torno de HELIOPOLIS ha um zumbido de inveja, um alarido de despeito; ha boccas que ironizam e mãos qie se crispam em gestos de ameaça. Nos ares ha pedras que procuram a nossa cabeça...
Percebemos a grita dos nullos:
- Quatro annos de vida numa revistaq literária! É de mais. Ainda nenhuma chegou lá. Ninguem conseguiu, ainda, esse milagre, em Pernambuco. É preciso hostilizal-a, propagar-lhe a ruína, a decadência...
Enquanto gritam e esbravejam, nós caminhamos impertubaveis e socegados, embevecidos no nosso sonho de arte e de belleza.
Aonde nos levará nosso destino?
Ao longe, na meia-sombra ao amanhã, alguém nos acena com um sorriso nos lábios.
E é para lá que orientamos os nossos passos...


Além dos colaboradores já mencionados, escreveram em Heliopolis Antonio Drumond, Assis Chateaubriand, Belmiro Braga, Faria Neves Sobrinho, João de Lourengo, Julio Maciel, Lins e Silva, Odilon Nestor, Olegario Marianno, Otávio de Freitas, Silveira Carvalho, dentre outros.

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