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Memorias da Associação Culto á Sciencia

por Maria Ione Caser da Costa
A publicação Memorias da Associação Culto a Sciencias foi lançada na Província de São Paulo no dia 10 de maio de 1859. Foi um dos muitos periódicos sob a responsabilidade de uma agremiação literária, que buscava dar destaque ao campo intelectual no século XIX. Os primeiros exemplares foram impressos pela Typographia Litteraria e a partir do número 9, de agosto de 1860, passa a ser impresso pela Typographia Imparcial de J. R. de Azevedo Marques.

A agremiação literária “Associação Culto à Ciência” foi a responsável pela publicação das Memórias. No editorial são apresentados os objetivos da publicação e o envolvimento de seus editores com a formação da nação brasileira. Eis um excerto:

 
Em seo caminhar constante, a humanidade váe deixando gravadas em lettras indeleveis no pedestal dos seculos, os seus esforços apról da civilisação e do progresso.

A lei do aperfeiçoamento humano se ostenta mais brilhante em cada geração, que se succede, e se alguma vez se esconde por entre os nevoeiros de uma épocha, é apenas para recuperar novas forças em suas lides incessantes, e adiante apresentar-se mais luzente. [...]

Filha d’uma geração que lá se váe cheia de tradições gloriosas, deixando o seu nome eterno para toda a posteridade, não podia a mocidade acadêmica contemplar muda e fria os esforços de seus antepassados, o quadro sublime da humanidade em seu progresso. [...] Assim, muitas associações scientificas se tem formado n’esta cidade, e não pequenos auxilios já tem prestado á causa das lettras, lançando d’essa maneira um brado de indignação contra o indifferentismo da actualidade, e o imperio do materialismo que reina garboso em nosso paiz. [...]

Aquelles, porém, que comprehenderem a puresa de nossas intenções, conheceráõ que são apenas ensaios, daráõ os devidos descontos ás nossas faltas e tão sómente com a consideração d’estes ficaremos contentes.

Deus nos ajude em nossa missão, e corôe com a victoria os nossos esforços.

A “Associação Culto á Sciencia” teve seu início no dia 11 de agosto de 1857, por iniciativa de alguns jovens “em cujo peito ardia o sacro amor da sciencia” e tendo como ponto de partida a “necessidade do cultivo das lettras e do desenvolvimento intelectual”. José Bonifácio de Andrada e Silva (1827-1886), o moço, foi presidente honorário da Associação depois de formado.

Na Biblioteca Nacional estão preservados os 15 primeiros fascículos editados, que podem ser consultados na Hemeroteca Digital. Foram 5 exemplares no ano de 1859, 5 em 1860 e 5 em 1861. Houve duplicidade na numeração dos quinto e sexto fascículos, em novembro de 1859 e em abril de 1860: ambos receberam o número 5. Não é possível afirmar se o título teve ou não continuação.

A capa das Memórias teve uma apresentação simples, em preto e branco, composta apenas pelo nome do periódico, a designação numérica, seguida do artigo inicial. A publicação teve periodicidade irregular. O número de páginas também não foi o mesmo para todos os exemplares, variando entre 12 e 20 páginas, com uma peculiaridade, a numeração das páginas foi sequencial.

A “Associação Culto á Sciencia” teve como membros Albino Pinheiro Siqueira, Antonio Alves Velloso de Castro, Antonio Gonçalves de Andrade, Constantino José Gonçalves, Florêncio Carlos de Abreu e Silva (1839-1881), Francisco Nepomuceno Prates, João Antonio de Barros Junior (1832-1912), José Bonifácio, Luiz Fortunato de Brito Abreu Sousa Menezes Junior, Manoel Pereira de Sousa Arouca, Maximiniano de Souza Bueno e Pedro de Araujo Leite. Além destes, também colaboraram nas Memórias: Américo Lobo (1841-1903), Campos Salles (1841-1913) e Rangel Pestana (1839-1903).

Publicou contos, ensaios e romances. Dentre os romances destacamos o “A Quebra do juramento” de Florêncio Carlos de Abreu e Silva, que foi publicado em capítulos, assinado com a letra S. Somente na conclusão aparece o nome F. C. de Abreu e Silva.

Nas páginas de Memorias da Associação Culto à Sciencias está o poema “No Baile” de J. A. de Barros Junior.

 

No Baile

Que folha mimosa

Tão linda que eu vi!

Ao vêl-a tão pura

Não sei que senti.

 

Que mimo do céo

Que doce magía

Que folha cheirosa

Que aroma espargia!

 

Ao vêl-a tão pura

Amei sua côr

Seu viço innocente

Com mui puro amor.

 

Meu Deus! Nem se quer

A pude beijar

Com tudo no peito

Sagrei-lhe um altar.

 

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