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O Álbum: orgam litterario e noticioso de uma sociedade anonyma de estudantes

por Maria Ione Caser da Costa
O Álbum: orgam litterario e noticioso de uma sociedade anonyma de estudantes foi editado na cidade de Caxambu, em Minas Gerais e tinha como redatores responsáveis Theodomiro Pacheco, Fost Enout e José Wolgrand Nogueira.

A Biblioteca Nacional possui quatro exemplares deste título. Curiosamente, ao contrário do habitual, eles estão guardados em espaços diferentes. O número 1, lançado a primeiro de outubro de 1900, está na Divisão de Obras Raras. Recebeu o subtítulo de orgam humorístico, litterario e noticioso, propriedade de uma sociedade anonyma.
Os outros três exemplares, números quatro, cinco e seis podem ser consultados na Coordenadoria de Publicações Seriadas. Foram lançados em 15 de novembro, 3 de dezembro e 31 de dezembro de 1900, respectivamente. Ainda não foram digitalizados.

Ladeando o título aparecem duas epígrafes: na lateral esquerda, “O Homem é o estylo”, e à direita, “Onde está o coração da mocidade, está a esperança do futuro”.
A pequena mudança no subtítulo declina a sociedade anônima, para uma sociedade anônima de estudantes, uma “robusta e laboriosa mocidade”, como pode ser confirmado no primeiro editorial, que recebeu o título de Apresentação:

O ideal de uma parcella da sociedade brasileira, que aspira á elevação absoluta do progresso: a uniformização completa de todos esses profundos sentimentos de civismo e de amor, que constituem o supremo engrandecimento deste paiz; a garantia emfim de sua estabilidade, respeito e autonomia, é que impellem a arena do jornalismo este obscuro e pequenino orgam. [...]
Caxambu necessita de há muito de um bom jornal, que saiba representar, fora dos limites de seu districto, a riqueza mineral que seu solo extraordinário encerra.
Na falta desse emprehendimento que concorreria incommensuravelmente ao seu interesse e rejuvenescimento, apparece este, insignificante e sem valor para as grandes faculdades mentaes, e difficultoso, cheio de asperezas e responsabilidades para as nossas.
Ao publico honesto, e especialmente ao deste município, a sua robusta e laboriosa mocidade, sua moderna geração, apresentamos O Album, esperando a benevolencia de seu auxilio e protecção.
E se virmo-nos sem Ella, se não merecermos, nós, seus redactores, consolados, diremos como bem disse o immortal Hugo:
“Dieu benit l’homme, non pour avoir trouvé, mais pour avoir cherché.”


Algumas diferenças tipográficas são encontradas nos exemplares localizados nos dois setores da BN, mas fazem parte de uma mesma coleção. A pequena mudança no subtítulo declina a sociedade anônima, para uma sociedade anônima de estudantes. Como pode ser confirmado no editorial acima: uma “robusta e laboriosa mocidade”.
Os exemplares da coleção que se encontram localizados na Coordenadoria de Publicações Seriadas estão num volume de miscelânea. As páginas do número 5 foram encadernadas fora da ordem lógica, necessitando de uma atenção maior para fazer a leitura de seus artigos.

Miscelânea, para quem não sabe, é uma forma de guarda de periódicos, na qual são encadernados, juntos, vários títulos.
Nestes, uma das frases da epígrafe foi mudada “Pátria e Liberdade” e “Onde está o coração da mocidade, está a esperança do futuro”, a esquerda e a direita respectivamente, na parte superior da página, ladeando o título.

Uma importante alteração no trabalho tipográfico é notada quando se folheia o sexto exemplar: ele foi impresso em letras douradas. A mancha gráfica dos textos reflete e brilha ao contato com a luz, dificultando um pouco a leitura, mas a escolha da nobreza do material, serve de anúncio preliminar de uma nobreza de intenções, aspecto que pode ser confirmado no editorial:
Com o presente numero completa um trimestre que se edita nesta aprazivel localidade, no seio do municipio, este obscuro e pequenino orgam, que a maioria de sua população recebeo com benevolencia e cortezia.

Nesse curto periodo elle guiou-se exclusivamente pela consciência de seos jovens e humildes redactores, transmitindo a seos leitores as aspirações de suas ideias que são pelo engrandecimento supremo do paiz, pela defesa da inviolabilidade de seos direitos.

Dividido em três colunas separadas por um fio simples, a publicação não apresenta ilustrações. Ela não traz o valor de venda avulsa ou de assinaturas, mas o editorial encerra informando “aos nossos generosos assignantes e conterrâneos ambicionaremos que, no bem próximo século, tenham phases duradoiras de felicidades.”

Além de notícias, O Álbum publicou crônicas, poemas e folhetins de autores conhecidos e desconhecidos, alguns deles ocultos sob pseudônimos. De Olavo Bilac (1865-1918) publicou o poema Desterro, e o folhetim Mulher. De Coelho Neto (1864-1934), publicou o folhetim No Cemitério. No número 6, apareceu o soneto Ave Maria, de Ovídio Mello. Há textos atribuídos ao português Ramalho Ortigão (1836-1915) e a Affonso Celso Jr. (1865-1918). No rol de colaboradores aparecem nomes como os de A. D. Pereira Filho (P), Avelino Costa, G. W. Tavares Bastos, H. P. Esgrich, Max, Paulo Gar.º , Rosalia Diniz, além de um Suetônio, um Coquelin e um Jornu.

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