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O Badalo: orgão dedicado às pessoas que soffrem de hypocondria

por Maria Ione Caser da Costa

Lançado no Rio de Janeiro, em 27 de outubro de 1881 e editado pela Typographia da rua do Hospício, O Badalo foi uma publicação dedicada ao entretenimento, com tom humorístico e levemente jocoso, como se constata já no subtítulo “orgão dedicado às pessoas que soffrem de hypocondria”. O terceiro exemplar apresenta novo endereço para correspondência: “o escriptorio da Redação acha-se funcionando á rua Sete de Setembro n. 215 (sobrado)”.


Na primeira página, a seção Prelúdios, que aparece assinada por “a redação”, enumera algumas informações que confirmam o caráter debochado dos textos:


Prevenimos aos interessados que aceitamos qualquer BOLA, desde que exceda a 20:00$...


A nossa folha será publicada ano dia seguinte `véspera da sahida de cada numero...


O BADALO faz saber ao publico que nada tem de comum com a “Gazeta de Noticias”...


Os Srs. emprezarios de theatro só tem direito a boas noticias emquanto mandarem annuncios para mais de uma coluna...


O BADALO será posto à venda em alguns lugares, deixando de o ser em outros...


Nesta typographia compra-se a 200 reis cada exemplar dos números anteriores do BADALO...


O valor de venda, que aparece logo abaixo do título é mais uma oportunidade de fazer troça: “dois vinténs é barato”. Ao lado, aparece a observação de que a venda é avulsa, não havendo, portanto, preço para assinaturas.


Nota-se que o programa dos editores é voltado para o humor e a sátira. Não são encontrados os nomes dos editores nem dos colaboradores, a exceção de uma quadra poética com a assinatura de Laurindo Rabello, famoso como poeta lírico e também como autor de versos satíricos e pornográficos.


Em seção denominada Materia paga, sempre na última página dos exemplares, lê-se o aviso de que as matérias e textos publicados ficam sempre no anonimato, com os autores escondidos por pseudônimos. O grupo apontado como pessoal técnico é formado por Bacharel Pilheria, Drs. Gargalhada e Rizada e Commendador Sorrizo. Na função de repórteres estão relacionados Jovial do Prazeres e Graça. Como redator chefe aparece “o principal dos redactores”. Ao final, aparece a informação de que o periódico é “propriedade de uma sociedade anonyma com capitaes desconhecidos”.


O Badalo foi diagramado em duas colunas separadas por um fio simples, não apresentando ilustrações, exceto a imagem de uma alegoria das artes musicais que aparece na última página do exemplar de número três, fazendo propaganda de uma “polka estapafurdia”, que será lançada em breve.


A Biblioteca Nacional possui quatro exemplares deste título, sendo que apenas o primeiro apresenta uma data completa. Os segundo e terceiro indicam apenas a designação numérica e o ano da publicação, 1881. O quarto exemplar da coleção está com a parte superior cortada, sem data da publicação nem número da edição.


Em O Badalo podem ser encontrados poemas e alguns textos críticos, sempre na linha jocosséria. Preludios, Fundo do artigo, Pé na Roda, Notas Falsas, Indicações inúteis, Ouvi dizer, Obituário, Cá e lá, Repiques, Publicações sem pedido e Matéria paga são algumas seções que compõe o periódico.


Pouco mais de uma década depois, também na cidade do Rio de Janeiro, outro periódico aparece com o nome de O Badalo. As características deste novo título são semelhantes, agora com o subtítulo “periódico satyrico, humorístico, epigrammatico e debochatico”. Ele também é objeto de nosso trabalho, podendo ser consultado na Hemeroteca Digital e no dossiê “Periódicos & Literatura: publicações efêmeras, memória permanente”.


Para ilustrar, apresentamos a quadrinha assinada por Laurindo Rabelo publicada na página três do exemplar número um:


Vejam só esta cabeça!


Santo Deus! que desconsolo!


- Por fora nem um cabelo;


por dentro não tem miolo.


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