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O Echo: periodico litterario, noticioso e recreativo, fundado por um grupo da mocidade do bairro do Engenho-Novo

por Maria Ione Caser da Costa
O Echo: periodico litterario, noticioso e recreativo, fundado por um grupo da mocidade do bairro do Engenho-Novo foi publicado no ano de 1893, na antiga capital federal do Brasil, o Rio de Janeiro. Longe do centro urbano, que naquela época, estava em pleno desenvolvimento, a publicação é lançada no bairro do Engenho Novo, zona norte do Rio, informação que os responsáveis pela publicação escolhem colocar no subtítulo.

Um grupo de jovens inexperientes na arte da imprensa, se vê interessado no progresso de seu bairro, e se une para publicar um periódico. No dia 15 de janeiro de 1893 lançam o primeiro exemplar. Naquele período, muitos se dedicavam a esse ofício, entretanto, poucos obtinham êxito, tendo em vista as inúmeras publicações que não foram além do primeiro exemplar.

Mesmo se colocando como inexperientes, os responsáveis por O Echo, conseguiram perseverar, com publicações mensais, por quase dois anos. O último exemplar preservado no acervo da Biblioteca Nacional é o ano 2, número 11, publicado em 29 de setembro de 1894. Não foram encontradas informações sobre a continuidade do título.

Constam no acervo 11 exemplares do ano de 1893, com falta apenas do número 4, do mês de abril, e, de 1894, dos números 1, 3 e 4, de janeiro, março e abril, respectivamente. Todos os fascículos seguem o mesmo estilo de diagramação: três colunas separadas por um fio simples e sem qualquer ilustração.

A partir do segundo ano de publicação, O Echo diminui seu extenso subtítulo para periodico litterario, noticioso e recreativo, deixando de fazer menção ao grupo de fundadores do periódico.

Toda a correspondência deveria ser endereçada para a rua Vinte e Quatro de Maio, n. 110, próximo à Estação do Sampaio. A partir do número 5, a redação e administração de O Echo passa a ser na rua do Pinto, n. 5, no bairro do Santo Cristo. Em maio de 1894, no número 5 do segundo ano da publicação, passa a ser editada na rua Camarista Meyer, n. 5, no bairro Boca do Mato.

A seguir um excerto do editorial de O Echo, periódico essencialmente literário, que teve como proposta, não escrever sobre política, apenas defender a república e o país.

 
Cumpre-nos primeiramente saudar aos illustres campeões das letras patrias, aos bravos batalhadores da Imprensa que tanto ennobrecem com o fulgor de sua intelligencia o nome desse gigante americano que se chama – Brazil.

A esses benemeritos da patria, que, unidos fraternalmente por um mesmo impulso generoso, tomaram a si a sagrada missão de manter a integridade do torrão brazileiro, pedimos que sejam benevolos para connosco, pois não temos experiencia das praticas jornalísticas, - começamos hoje a ensaiar as nossas armar para entrarmos desassombrados na arena da Imprensa.

Assim, pois, nas columnas do nosso modesto jornalzinho procuraremos concorrer com o nosso contingente, pequeno, é verdade, mas franco e leal, para que a patria brazileira continue a trilhar altiva na senda do progresso e da civilização.

Nosso principal intuito é lutar para que a litteratura patria, já quasi vencida pala politica, não seja esquecida pela nova geração de brazileiros, que se educam em nossas escolas; e zelar pelos interesses e pelo bom credito da briosa mocidade brazileira, enlevo e esperança da patria. [...]

Á arena, pois, bravos rapazes! Á arena da imprensa, mocidade brazileira, lutemos para reconquistar a litteratura pátria, quasi perdida e morta! [...]

Avante, pois! Não haja desanimo. A estrada é escabrosa, mas é a que o patriotismo nos manda trilhar.

Alea jacta est.

 Alea jacta est, locução latina, que pode ser traduzida por: A sorte foi lançada. E para tal empreendimento uma nota, logo abaixo do título informava: “Acceitamos a collaboração dos que quiserem honrar as nossas columnas”.

Os valores cobrados para a assinatura trimestral foram de 1$500 para a capital e 2$000 para os demais estados.

Algumas tipografias, em períodos distintos, foram responsáveis pela diagramação e formatação de O Echo. A primeira foi a Tyipographia J. Barreiros, localizada na rua S. José, nº 35, a Typographia Econômica, localizada na rua da Alfandega 330 e a Imprensa Commercial, situada na rua do Hospicio, nº 216.

O Echo publicou contos, crônicas, charadas e enigmas. A maior parte dos textos não possui autoria. Nota-se, pelas explicações colocadas em cada novo fascículo lançado, que havia uma rotatividade dos editores, pois, de um modo geral, não são especificados no expediente. Alguns dos colaboradores são Augusto E. de Souza, Eduardo Peixoto, L. C., Sargento Quaresma e Thesourinha. A seguir, o poema assinado por Aristoteles de Souza, que recebeu o título de “13 de Maio”.

 

13 de Maio

Não temos mais escravos. Brado enorme

Que acorda a Patria adormecida,

Como a onda rugindo enfurecida

Desperta a selva secular que dorme!

 

Lavou-se a velha macula – a desgraça,

Riscou-se d’entre as leis o negro artigo,

Já não soluça mais sob o castigo,

Já não geme ao lathego uma raça.

 

Os heroes do martyrio, os opprimidos

Surgem do solo, rapidos e formosos,

Surgem clamando altivos e generosos:

- Nós somos cidadãos, nós os redimidos.

 

Conquista o teu logar na Humanidade,

Patria! Em teu seio pousa a liberdade!

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