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O Escolar: publicação quinzenal

por Maria Ione Caser da Costa
Lançado em Joinville, município localizado ao norte do estado de Santa Catarina no dia 15 de novembro de 1907, a publicação O Escolar, foi mais uma que tentou sobreviver num cenário de dificuldades, peculiares a todos que se esforçavam para instruir e informar através do jornalismo.

O periódico era de responsabilidade do Collegio Municipal de Joinville, criado após a promulgação da Lei n. 636 de 12 de setembro de 1904, que permitia contratar professores para dirigir os colégios, visando diminuir o distanciamento existente na área da educação, entre o interior e os grandes centros urbanos.

Na Biblioteca Nacional só podem ser consultados dois exemplares desse título. O mencionado acima e o número 21, publicado no dia 7 de novembro de 1908, que trouxe o subtítulo de quinzenario litterario, critico e noticioso. Faltam, portanto, 19 números entre uma publicação e outra.

Importante colocar também que esses dois exemplares não constam do acervo físico da BN. Seus originais fazem parte do acervo da Biblioteca Pública de Santa Catarina, órgão responsável pela conservação, gestão e disponibilização ao público do patrimônio bibliográfico e documental daquele estado. Sendo a BN a depositária legal das obras publicadas no Brasil, e preocupada em integrar ao seu acervo o maior número de títulos faltosos possível, foi criado em 1978 o Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros (PLANO), que teve como objetivo geral localizar, recuperar e preservar as coleções hemerográficas do Brasil.

A partir de então, esse e vários outros títulos passaram a ser microfilmados pelo PLANO, e disponibilizados no acervo, com consulta feita a partir do microfilme, na Coordenadoria de Publicações Seriadas da BN. Nos últimos anos, graças às novas tecnologias, O Escolar: publicação quinzenal é um dos muitos títulos que podem ser consultados através da Hemeroteca Digital do Brasil.

Tendo como redatores José Barreto e Godofredo Torrens, O Escolar foi vendido ao preço de 200 réis o número avulso, a assinatura para a cidade de Joinville valia 400 réis, e para outra parte do país o valor cobrado era de 500 réis.

Com colaboradores diversos, e para conseguirem se manter, os responsáveis vendiam também espaços para anúncios, pelo que cobravam 50 réis por linha.

Sua redação funcionava na rua Conselheiro Mafra. O primeiro exemplar foi impresso pela Typographia Schwrtz e o vigésimo primeiro pela Typographia C. W. Boehm. Assinado por J. Barreto o editorial de lançamento assim inicia:
Surge hoje para entrar no batalhão da imprensa, este modesto jornalzinho que como creio, não será deixado sem acolhimento por aquelles que apreciam as lettras embora que nelle sejam ainda muito rudimentares.

Como sabe o publico em geral, a ideia de creal-o de ha muito nos preocupava, sendo porém por parte daquelles que conhecem esta arte apresentando os maiores obstaculos e consequencias; mas de tanto batalhar vemos que a nossa ideia conseguio tornar-se uma realidade.

O fim que traz-nos este jornalzinho é unicamente de podermos nos exercitar esclarecendo a nossa intelligencia, e é por isso que começamos apresentando aos bondosos leitoresdo "Escolar"alguns artigos da nossa lavra.

Confiantes no patriotismo do povo desta grande terra e de todo o Estado contamos com o seu franco apoio afim de que possamos colher os louros da victoria em nosso desederatum.

O Escolar foi lançado no dia em que era a Proclamação da República completava maioridade, e, por esse motivo, o primeiro artigo homenageia o 15 de novembro.

O outro exemplar, o de número 21, inicia com uma crônica assinada por Olavo Bilac. Na crônica Bilac aplaude a ideia do Jornal do Commercio de promover um concurso junto ao público para premiar o melhor Pavilhão. Era a Exposição Nacional de 1908, que aconteceu no bairro da Urca, Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas.

Em sua crônica, Bilac aponta que cada participante do concurso, muito possivelmente, dará seu voto para o pavilhão de seu estado de origem, e isto, para ele, é de menor importância. O que lhe chama a atenção é que "no Rio de Janeiro que era ainda ha pouco tempo uma cidade de pardieiros e de tapéras, a architectura está sendo amada, estudada e praticada como merece".

Destacamos a seguir o soneto de Balthazar Mendonça intitulado 'Esperança morta'.

 

Esperança morta!

Segue o meu barco como a caravana

Que perseguida, busca lenitivo...

- Sinto no peito a magua soberana,

Filha do amor que me tornou captivo...

 

Somente o vasto mar, raivoso, altivo,

Vê este pranto que, sincero emana

Dos olhos de quem d'antes fôra esquivo

A uma dôr igual, pungente, insana...

 

- Alvoradas bellas, sorridentes,

- Os horisontes claros, resplendentes,

Que sonhei debuxados no fururo...

 

Vi converditos em cerrada noite:

Arrancados do vento pelo açoite,

A navegar em vão, sem palinuro!

 

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