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O Folgazão : jornal para rir

por Maria Ione Caser da Costa
O Folgazão: jornal para rir foi um periódico editado no Rio de Janeiro. Seu número de lançamento, o único existente na coleção da Biblioteca Nacional foi o publicado em 26 de julho de 1863, um domingo.

Num texto inicial, colocado logo abaixo do título, vêm elencadas algumas informações sobre a publicação. Os editores informam: "O fim d'este periodico é, decentemente, provocar o riso, sem para isso tocar em pessoas ou em vidas privadas.” A frase seguinte apresenta o valor e endereço para assinatura: “Assigna-se a 500 Rs. por mez, por especial favor, na rua da Lampadoza N. 58 (typographia)”. A seguir, uma provocação aos leitores: “Tudo o que fôr gracioso acceita-se para publicar gratis”, e finalizando: “Não se vende um numero só, porém quatro de cada vez da existência da folha”.

Ainda percorrendo as características particulares na composição gráfica da publicação, vê-se, ladeando o subtítulo, dois boxes, cada um deles com uma pequena trova. A direita do título: “Gozemos a rir doçuras, / Temperos do coração; / Que manda Deos protejais / Mais esta publicação”; e do lado esquerdo: “Enquanto a Magra nos deixa / Vamos rir, vamos folgar; / Que bem asno é neste mundo / Quem não vive p'ra gozar”.

O editorial, com mesmo título do periódico, convida leitor a rir e admite, até mesmo, mentir para alcançar esse objetivo:

O nosso programma está resumido e bem claro no texto deste jornal. O preço convida a mais esta despeza do leitor de bom gosto. Rir tantas vezes em cada mez por tão insignificante quantia, vale a pena de se ser assignante. Para bom desempenho de nossa tarefa desde já declaramos, que o Folgazão tem por base mentir para fazer rir; mas mente no que não offende a pessoa alguma ou costumes. Sejão nossos juízes os 500 réis com que entrais, leitores e leitoras, para esta nova publicação, que vos pede um agazalho.


Nas páginas de O Folgazão não são encontrados os nomes dos editores ou os responsáveis pela publicação. De um modo geral os textos publicados, sempre em tom jocoso e cunho humorístico, são anônimos ou assinados por pseudônimos, o que era considerado comum naquele período e, em todos os tempos, em periódicos humorísticos. Caffé, Camarões com ovos, Chá, Chocolate, e Matte são alguns dos pseudônimos utilizados.

A página foi diagramada em duas colunas utilizando um fio simples para dividi-las. Não há ilustrações.

Com o título Fora de caçoada, a publicação encerra a edição, pedindo ajuda financeira para o periódico: “As pessoas que não quizerem, ou poderem [sic] auxiliar esta folha com a quantia de 500 rs. por mez tenhão a bondade de mandarem avisar e restituil-a na typografia. Typographia da rua da Lampadoza, 58”. Se a tipografia ainda existisse, hoje ela estaria localizada em um ponto da Avenida Passos, área central do Rio de Janeiro. Neste mesmo dossiê, no capítulo sobre tipografias, há um mapa de época, no qual é possível localizar a rua da Lampadoza.

A seguir um excerto de um poema publicado nas páginas da O Folgazão intitulado Força de vontade, sem indicação de autoria:

Força de vontade
(Lê-se com muita zanga)

Eu quero, e quando eu quero não consinto
Que o coração me diga que não quer;
Do gênio meu aos impetos não minto:
Não quero mais amar essa mulher!

Não quer, não queira – está no seu direito;
No meu tambem estou: - Ella por ella.
E que se importa o meu valente peito
Que meus olhos lhe digão – Como é bella!?

Dos olhos heide as palpebras cançadas
Trazer descidas como as lusianas:
As mesmas frestas hão de ser tapadas,
Que é para isso que ellas tem pestanas.

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