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O Lidador: órgão dos interesses do povo

por Maria Ione Caser da Costa
Não se tem notícia sobre o lançamento do primeiro número de O Lidador: órgão dos interesses do povo, editado na cidade de Ponte Nova, Zona da Mata mineira. O único exemplar existente na Biblioteca Nacional, datado de 24 de novembro de 1892 é o de número 3 e foi impresso pela Typographia d’O Lidador. Ele pode ser consultado na Hemeroteca digital.

O expediente, colocado logo abaixo do cabeçalho, informa que a publicação é semanal, com a pretensão de publicar 52 números anuais, então, o título terá começado a circular duas semanas antes. No atual estágio das pesquisas, não se conhece por quanto tempo ele circulou.

Tito Bhering, Tito Maximiliano de Carvalho Bhering, foi o redator e José Francisco o proprietário. A publicação não apresenta editorial. O texto que abre a edição disponível na BN é de autoria do poeta português Guerra Junqueiro (1850-1923), e fora publicado anteriormente no periódico português A Illustração: revista de Portugal e do Brazil, no ano 6, número 24, de 20 de dezembro de 1889, em ambas as versões com o mesmo título, “Instruí”. A escolha e utilização deste texto parece indicar a importância da educação na prevenção à criminalidade. Numa interpretação bem ampla, o texto corroboraria a idéia proposta no subtítulo da revista, intensificando as atitudes que serviriam para dignificar “os interesses do povo”.

Editado em quatro páginas, não apresentava ilustrações. S máscara gráfica variava no número de colunas, dependendo da página: três e quatro. A última página é dedicada aos anúncios, impressos dentro de boxes ornados.

Entre os colaboradores de O Lidador estão nomeados Aristoteles de Souza e Cesar de Carvalho, este último com o poema Desengano, transcrito abaixo:

Desengano

Lacerava-se o peito aquella esp’rança!
Fazia-me soffrer muita amargura!
Muita vez preferi a sepultura
Á tanto soffrimento, á tanta dor!

Era a hydra á rugir dentro em meu seio!
Era a lava incendida de um vulcão!
Era a garra do abutre a lacerar-me,
Era o inferno no proprio coração!

Era em cada minuto um’agonia,
Em cada instante curto uma tortura!
Incessante pensar em cada dia,
Em cada hora o horror da desventura!

Quando entanto a perdi, quando inflexível
Tu disseste que não, que não me amavas,
So então conheci quão mais pesares,
Desengano cruel! Tu encerravas!

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