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O Palladio: órgão litterario e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
Publicação semanal, O Palladio: orgão litterario e noticioso, foi lançado no município de Bagagem, Minas Gerais, localidade hoje conhecida como Estrela do Sul. O local acolheu bandeirantes, desbravadores e aventureiros, em busca das riquezas que se escondiam em suas terras e nas águas do rio. Presumivelmente mais um dos derrames de nossas preciosidades minerais que se esvaíram para fora do país, em nome da colonização portuguesa.

O único exemplar de O Palladio: órgão litterario e noticioso existente na Biblioteca Nacional é o publicado no dia 25 de setembro de 1886, com a designação numérica de ano 1, número 11. Seu primeiro exemplar foi lançado possivelmente em julho daquele ano. Uma observação em caixa alta colocada logo abaixo do título informa que o periódico era publicado aos sábados. Retrocedendo no calendário pode-se supor que o primeiro exemplar teria sido publicado no dia 17 de julho. Mas corre-se o risco de ter havido alguma falha.

Em 1901, Bagagem passa a se chamar Estrela Azul em homenagem ao principal achado da região: um belíssimo e valioso diamante que recebeu o nome de Estrela do Sul, tendo sido encontrado por uma escrava.

O Palladio foi propriedade de Dias d’Oliveira e T. Goulart e foi impresso pela Typographia d’O Palladio. Toda a correspondência deveria ser encaminhada aos cuidados de T. Goulart.

Acima do expediente, uma nota: “Será considerado assignante quem não devolver em tempo esta folha”. Muito comum naquela época a prática de, ao se editar um periódico, distribuí-lo a um determinado grupo de pessoas, informando o valor da assinatura. Sendo do interesse de quem recebeu a publicação, continuar a fazê-lo periodicamente, pagava-se a assinatura, caso contrário, fazia-se a devolução e estava-se desobrigado do pagamento.

Com quatro páginas, o periódico foi diagramado em quatro colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração. O valor da assinatura anual era de 8$000 e a semestral valia 4$500, devendo o pagamento ser feito adiantadamente.

Além das notícias habituais e acontecimentos ocorridos na localidade, O Palladio publicou matérias basicamente voltadas para o literário, como folhetim, poemas e crônicas além de algumas charadas.

No número 11, o único exemplar preservado na BN, publica na seção folhetim o último capítulo de “O Romance de uma velha” de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) e a informação de que no número seguinte iniciará “O Garimpeiro” de Bernardo de Guimarães (1825-1884).

A página voltada para os patrocinadores, publicou anúncios dos mais variados produtos e serviços, tais como: invernada, armazém, linhas para costura, escritório de advogados e clínica medico cirúrgica, onde não era cobrado às pessoas menos necessitadas (“pobres”). O anúncio referente à linha de costura da marca Leão apresenta o desenho da figura de um leão e o seguinte texto: “linha Leão. A maior novidade da época é a revolução que está causando a linha marca Leão. Dos fabricantes James Chadwik & Brother que trabalham com machinismos da força de 1500 cavallos e a sua linha é geralmente conhecida na velha Europa. Está á venda em todos os armarinhos bem afreguezados. Unicos agentes Victor Northmann & C.”

Colaboraram neste fascículo de O Palladio Joaquim Manuel de Macedo, Luiz Guimarães e Augusto Cunha, de quem selecionamos o soneto “Último desejo”, publicado na página dois.

 

Ultimo desejo

Se eu tenho de morrer na flor da idade,

Se o fim de minha vida é já chegado,

Se tenho de morrer, triste, isolado,

Sem ter de mim ninguém, dó nem piedade,

 

Se tenho de finar-me abandonado

Sem ter um raio só de felicidade...

Se o mundo vou deixar na mocidade

Sem ter na extrema hora um anjo ao lado;

 

Acaba então, Senhor, o meu tormento

Que na terra demais eu hei vivido

O calix esgotando ao soffrimento!

 

Leva-me então, meu Deus, que arrependido

Só quero no meu ultimo momento

Me perdoeis de haver em vós descrido!

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