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A Borboleta: órgão litterario dedicado ao bello sexo

por Maria Ione Caser da Costa
Este é um dos vários periódico literário lançado no século XX, dedicado aos interesses femininos e editado por duas mulheres. Maria Pinheiro Lima e Anna Pinheiro Lima foram as proprietárias de A Borboleta: órgão litterario dedicado ao bello sexo. Foi produzido em Curvelo, Minas Gerais, uma cidade em que a produção agrícola do algodão, fez nascer uma importante indústria de tecelagem naquele período.

A Biblioteca Nacional possui apenas dois exemplares deste título, o terceiro e o quinto, publicados em 12 de abril e 03 de maio de 1902, respectivamente. Medem 25 cm x 17,5 cm.

Diferentemente de alguns poucos periódicos que circularam no final dos dezenove e início do vinte, dedicando-se a causa feminina, que são relativamente muito estudados atualmente, A Mensageira de propriedade de Prisciliana Duarte de Almeida por exemplo, nada ou quase nada foi encontrado nas pesquisas sobre este A Borboleta,, ou mesmo sobre suas editoras. Uma lacuna que estas discretas anotações começa a preencher.

Com quatro páginas cada exemplar, não apresenta nome ou local de tipografia. No rodapé da última página a informação de ser uma publicação semanal e que a assinatura mensal valia $500.

A Borboleta

A publicação inicia com a primeira parte de um artigo denominado A Mulher na antiguidade, assinado por um Petronio. Seria um pseudônimo utilizado por Arthur Azevedo? Petronio está na lista de pseudônimos utilizados por ele. Alguma mulher não querendo ser identificada? Refere-se a algum colaborador que o teria utilizado o pseudônimo numa homenagem ao “Satyricon”, do escritor romano Petrônio, que viveu por volta do ano 65 d.C.? Eis o texto:

Para que o homem, envergonhando-se do trabalho braçal, fizesse da ociosidade um titulo de nobreza, foi preciso que decorressem quase dois mil annos contados do diluvio. A cultura da terra, a guarda dos rebanhos e os empregos relativos a estes dois trabalhos erão as principaes occupações dos povos da antiguidade.
Relativamente ao trabalho rural, não havia differença de condições nos primeiros seculos. Muitas vezes comião o trigo que havião semeado com suas proprias mãos, e os animaes que tinhão creado e matado – os ricos, os grandes, os generaes, os príncipes e os reis.
Como os homens, erão laboriosas as mulheres. Emquanto os maridos se ocupavão na lavoura e na industria pastoril, trabalhavão ellas na cosinha, na fiação e nas roupas, e cuidavão das creações domesticas. A tarefa principal das mulheres, depois do arranjo da casa – tarefa a que satisfazião as princezas e as rainhas -, era a de fiar e trabalhar em lã.


A matéria segue esclarecendo como eram abordadas e tratadas as mulheres na antiguidade. O outro exemplar da coleção existente na BN apresenta a terceira parte do artigo que, entretanto, não está finalizado naquele número. Continua explicando que “Á medida que os homens forão afastando da Verdade, os costumes se forão corrompendo e a sociedade se foi desviando do fim que o Creador lhe traçára – a mulher foi perdendo sua grandeza, foi sendo degradada!” E conclui com a denúncia:

Nenhuma sociedade avilta impunemente a mulher – obra maravilhosa do poder e da bondade de Deus, companheira e não escrava do homem, dotada de sublimes prerrogativas, sem as quaes a humanidade não seria perfeita. A fatal consequencia de tão criminoso aviltamento é assim descripta por Troplong: - A conjuração das bacchantes, as conspirações secretas contra o pudor, os abomináveis divórcios, a regra commum dos costumes estragados, que nos são descriptos pelos historiadores, pelos philosophos e pelos satyricos, o que obrigou o Imperador Augusto a procurar remédio nas leis políticas porque as domesticas erão ineficazes – tudo isto nos demonstra o estado deplorável em que se achava a sociedade romana.


Os colaboradores de A Borboleta foram Petronio, A.D., Mme Sirey, Conego Schmid, Julia Maria da Costa, J. J. Teixeira, J. P. Soares, Maria Rita Chiappe Cadet e F. A. da Costa.

A seguir o poema Canção do berço, de Maria Rita Chiappe Cadet, uma poetisa, contista e escritora portuguesa que, sem ter vindo ao Brasil, teve aqui seus escritos utilizados nas escolas.

Canção do berço
O acalentar

É hora! O sol escondeu-se;
Já não cantam passarinhos,
Mas repousam nos seus ninhos,
Que fabricam em tanto amor!
Vem dormir, pois, minha filha,
Até quando dia fôr!

Sobre o hombro meu reclina
Esse semblante innocente,
Cerra os olhos docemente,
Gosa do somno o langor!
Dorme, dorme, minha filha,
Até quando dia fôr!

Dorme! E a fada dos sonhos
Com seus encantos te afague!
Dorme! E a illusão te embriague,
Que da vida estás no albor!
Dorme, dorme, minha filha,
Até quando dia fôr!

Amanhã, em o sol nascendo,
N’aurora as aves trinando,
Tu despertarás gosando
Maternaes mimos de amor!
Dorme, dorme, minha filha,
Até quando dia fôr!

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