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Arvore nova: revista do Movimento Cultural do Brasil

por Maria Ione Caser da Costa
Foi no mensário Arvore nova: revista do Movimento Cultural do Brasil que a professora, escritora e jornalista Cecília Meireles iniciou sua vida literária, publicando poemas e textos poéticos, como se pode ler na segunda coluna da página 6, na edição do dia 15 de junho de 1928, da revista Festa.

Lançada no Rio de Janeiro em agosto de 1922 Arvore nova teve como diretores o intelectual Rocha de Andrade e o escritor e poeta Tasso da Silveira (1895-1968), ambos jovens paranaenses. Sylvio Peixoto ocupava o cargo de diretor-gerente. A redação e administração estavam localizadas na rua dos Ourives, número 29, segundo andar, atual rua Rodrigo Silva. Foi impressa pela Typographia do Anuario do Brasil. A partir do terceiro número, o periódico passa a ter outro endereço de redação e administração: rua do Sachet, número 18, sobrado, atualmente Travessa Ouvidor. Naquela rua funcionaram diversas tipografias, através dos tempos.

Tasso da Silveira havia publicado anteriormente, em parceira com Andrade Muricy (1895-1984), America Latina: revista de arte e pensamento, que circulou de agosto de 1919 até fevereiro de 1920. Após Arvore nova, desta vez em companhia do intelectual português Álvaro Pinto (1889-1957), e contando novamente com a colaboração de Andrade Muricy, foram os responsáveis pela criação de Terra de sol: revista de arte e pensamento, que circulou de janeiro de 1924 a junho de 1925. Posteriormente retornando a parceria com Andrade Muricy, lançaram a revista Festa: mensário de pensamento e arte, bem mais duradoura. A maioria destes títulos podem ser consultados neste dossiê.

Das quatro edições de Árvore nova, três podem ser consultadas através da Hemeroteca Digital. São os fascículos de números 2 e 3, lançados em setembro e outubro de 1922, respectivamente, e o que recebeu a designação numérica de ano 2, número 1, editado em janeiro de 1923.

No formato de 28cm x 19cm, a revista teve como capista e ilustrador, o artista plástico português Fernando Corrêa Dias. Suas capas, em papel cartão na cor ferrugem traziam impressos o título seguido do subtítulo, a data de publicação e número recebido e o sumário. O papel utilizado para impressão não era de boa qualidade. Cada exemplar, com uma média de 60 páginas, mantinha a numeração sequencial dos fascículos de cada ano. Ao passar para ano 2, recomeça a numeração de páginas com o número 1. Nas páginas iniciais dos dois primeiros fascículos são publicados, emoldurados por cercaduras, anúncios da época: tipografias, remédios, fábricas, oficinas de encadernação, e um espaço reservado às novidades literárias de seus editores.

Os valores para venda avulsa e assinatura variavam do Brasil para o exterior. Aqui o número avulso era vendido por 1$500 e para o exterior era cobrado 2$000. A assinatura anual valia 18$000 e 24$000 respectivamente, para o Brasil e fora dele. A assinatura semestral valia 9$000 para o Brasil e 12$000 para o exterior.

Com uma produção material extremamente cuidada, Arvore nova agregou uma legião de brilhantes colaboradores: A. Carneiro Leão, Afranio Peixoto, Andrade Muricy, Antonio Salles, Carlos Frederico, Enrique Loudet, Felix Weingartner, Joaquim Nabuco, Manuel Laranjeira, Mario Mendes Campos, Peregrino Junior, Pontes de Miranda, Renato Almeida, Rocha Pombo e Sérgio Buarque de Hollanda; dentre os poetas: Cecilia Meirelles, Arnaldo Damasceno Vieira, Hollanda Cunha, Ildefonso Falcão, S. Galeão Coutinho e vários outros.

São publicadas também fotos de esculturas, bustos e maquetes desenhados por Alfredo Andersen e Antonio Carneiro. Uma das ilustrações feitas por Andersen, publicada no exemplar número 2 é do escritor e poeta Silveira Netto (1872-1942), pai de Tasso da Silveira.

Uma das principais colaborações de Afranio Peixoto para Arvore nova, de acordo com o texto de apresentação de seus editores, é o trabalho no qual “Afranio traça a biographia e estuda a obra immortal de Castro Alves” que teve como incumbência organizar as comemorações do cinquentenário do poeta, e ao “esforço que desenvolveu pela glorificação definitiva de Castro Alves”. Com assinatura de A.P., é publicada no segundo exemplar, sob o título de A Glorificação de Castro Alves, “a brilhante introducção que elle escreveu para as ‘Obras Completas’ do maior poeta epico que até hoje produzimos. ”. O texto reproduz o fac-simile da assinatura do poeta baiano.

Não existindo no acervo o primeiro exemplar da revista, não é possível conhecer o editorial de lançamento. Analisando os exemplares existentes no acervo, nota-se que a publicação tem interesse na busca pela afirmação da nacionalidade brasileira, apresentando a produção artística de jovens artistas, com destaque para as artes e a poesia. Os poemas são impressos em página inteira, centralizados e um pequeno desenho adorna a página.

Arvore nova publica também artigos sobre literatura e contos com temas que abordam o movimento modernista que estava em ascensão, principalmente a partir da Semana de Arte Moderna, acontecida em São Paulo em fevereiro daquele ano. O subtítulo dado a revista Árvore nova comprova isto.

A revista promove, ainda, um intercâmbio com autores argentinos. Como acontecera com América Latina, título publicado pelo grupo anteriormente, prevalece o diálogo com a revista argentina Nuestra America.

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