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Ensaios litterarios do Atheneo Paulistano

por Maria Ione Caser da Costa

Em agosto de 1852, trinta anos após a Independência do Brasil, na Província de São Paulo, vinha a lume uma publicação com o nome de Ensaios litterarios do Atheneo Paulistano. Inicialmente editado pela Typographia Liberal, de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, e impresso por D. da Cunha Pinheiro foi mais um dos periódicos que se preocupou com o tema da nacionalidade brasileira e a produção de documentos que  privilegiassem o momento vivido, pretendendo contribuir para a criação de um país civilizado, dando uma identidade para o Brasil, principalmente quanto à cultura escrita e letrada. A partir do número 2 de 1857, o periódico passa a ser publicado pela Typographia Dois de Dezembro de Antonio Louzada Antunes. Quatro anos depois, outra mudança de impressor, como primeiro número de 1861 sendo editado pela  Typographia Litteraria, que se situava à rua do Imperador, 12.


Naqueles tempos, meados dos oitocentos, surgiram em São Paulo várias sociedades literárias, grupos de letrados que fundavam suas associações. Era comum entre estes grupos a publicação de suas idéias em periódicos, criando as bases para o que, nos dias de hoje, é um repositório de trabalhos preciosos de autores que se tornaram vultos importantes no cenário cultural e político do país.  Nestes impressos, podem ser encontrados: atas das reuniões promovidas pelas associações; ensaios sobre literatura, ciências, política, filosofia, direito e religião; os discursos proferidos nas datas comemorativas de suas instituições, bem como romances, contos e poesias. Um periodismo cultural que ajudou no desenvolvimento da nação brasileira e no sentimento e noção de pátria. Eis algumas dessas sociedades: Ensaio Philosophico Paulistano (1850), Atheneo Paulistano (1852), Arcádia Paulistana (1857).


O Atheneo Paulistano foi o responsável pela produção do periódico Ensaios literários do Atheneo Paulistano, que inicia seu editorial de lançamento afirmando:


Rompendo por entre os ataques do indifferentismo, transpondo os obstsculoscreados pelo receio e incerteza de seguir a senda tão risonha de seu passado, eis renascidos os “Ensaios Litterarios”. Animados de esperanças, cheios de vida proseguiráoelles em seu caminhar, se no mundo, onde são lançados no tropel dos acontecimentos, respirarem o mesmo ar benefico, que lhes afagou a infancia, dando-lhes forças para resistir aos golpes atirados pelos inimigos das lettras.


A título de informação, necessário esclarecer que no excerto acima, “eis renascidos os “Ensaios Litterarios”’ não significa que esta publicação seja continuação de alguma outra. A citação feita refere-se ao periódico do Instituto Litterario Acadêmico intitulado Ensaios literários: jornal de uma associação de acadêmicos lançado em 1846 e circulou até 1851.


O exemplar de número 2, publicado em setembro daquele ano, informa que “a Associação Atheneo Paulistano acaba de solemnisar a sua inauguração no dia do natalicio da Independencia do Brasil”, estabelecendo, desta forma sua data inaugural. O mesmo exemplar apresenta o discurso proferido na sessão inaugural do Atheneo Paulistano, pelo sr. Manoel Antonio Duarte de Azevedo, que três anos após ter iniciado os trabalhos da associação, “vê a seu lado apparecer um companheiro de viagem, para com elle compartir as lidas e as glorias”. Suas palavras brindam e saúdam a nova sociedade, e afirmam que:


O espirito de associação, esse poderoso motor do desenvolvimento e do progresso derramado por todos os povos civilisados, há tambem tocado o coração da mocidade brasileira: o indifferentismo de cada um vai cessando pelo bem de todos, e cada qual procura concorrer com o seu contingente de illustração e de talentos para a marche da civillisação do paiz.


Na Biblioteca Nacional podem ser encontrados 13 exemplares dos Ensaios litterarios do Atheneo Paulistano. Sem cores em sua impressão, eram apresentados com capas onde o título era colocado na parte superior da página, em letras decoradas, acompanhado das referências do número e ano da publicação, bem como da tipografia responsável. A diagramação das páginas era em uma coluna com texto justificados e centralizados. As páginas recebiam numeração continuada, isto é, não iniciavam com o número um a cada novo exemplar.


Vários acadêmicos colaboraram com a publicação, dentre eles: A.C. Tavares Bastos (1839-1875), A. J. de Castro Silva, Bittencourt Sampaio (1834-1895), Luiz Joaquim Duque-Estrada Teixeira (1836-1884), Ferreira Dias, F. I. M. Homem de Mello (1837-1918), J. A. Leite Moraes (1834-1895), J. T. Nabuco de Araujo [Filho] (1813-1878), T. Bastos, Machado d’Oliveira, Antonio Joaquim de Macedo Soares (1838-1905),  Costa Carvalho, J. A. Leite Moraes, José Bonifácio [de Andrada e Silva] (1763-1838), Francisco Gomes dos Santos Lopes, Antonio Ferreira Vianna (1833-1903), José Maria Corrêa de Sá e Benevides (1833-1901).


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