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O Caixeiro: periódico noticioso, commercial e litterario: órgão da classe caixeiral das Alagoas

por Maria Ione Caser da Costa
O Caixeiro: periódico noticioso, commercial e litterario sugiu pela primeira vez a 07 de março de 1880 em Maceió, capital alagoana. Além do subtítulo explicativo, ainda trazia outro informe: órgão da classe caixeiral das Alagoas.

Periódico que aparecia sempre aos domingos, tinha por fim “defender os interesses da classe caixeiral [...] procurando levantal-a do abatimento em que está”. Os caixeiros, como eram chamados os trabalhadores do comércio, eram muito explorados. A profissão passou a existir logo após o Brasil ter proclamado sua independência, - a formação da primeira sociedade de auxílio mútuo dos caixeiros é de 1826. Pesquisa de Osvaldo Batista Acioly Maciel aponta que o início desta profissão em Maceió data de 1879. Em vários estados da federação, grupos de caixeiros começaram a se organizar em torno dos direitos de sua categoria, tentando unificar com seus pares as melhorias conseguidas. São encontrados vários periódicos editados em torno dos mesmos ideiais nas mais diversas regiões do Brasil.

O Caixeiro foi impresso pela Typographia Popular do “Papagaio”, propriedade de Guilhermino Pinto d’Amorim, localizada na rua do Commercio, número 131. Em seu cabeçalho não são encontrados nomes dos editores nem dos responsáveis pela publicação.

Era vendido pelo valor de 320 rs. A assinatura na capital custava 1$000 por mês, enquanto que para fora da capital só eram aceitas assinaturas trimestrais, ao preço de 3$500. Sempre com o pagamento adiantado.

Na Biblioteca Nacional podem ser encontrados 13 exemplares digitalizados. Não temos a coleção completa. O último número desta coleção é o número 24, que foi publicado em 07 de setembro daquele ano. Não consta da coleção os exemplares de números 2, 3, 11 a 15, 18, 21 a 23. Não foi possóvel descobrir até quando o periódico circulou. A Fundação Joaquim Nabuco possui em seu acervo um exemplar publicado em 13 de março de 1892, portanto a coleção teve continuidade.

A seguir o editorial do primeiro exemplar, que também não apresenta assinatura:

É sempre motivo para regozijo de uma classe a apparição de um athléta, que na escabrosa arena do jornalismo lhe advogur o sacratíssimo principio da liberdade.
Quando e, toda parte a imprensa se levanta com um só corpo, defendendo principios diversos, não se deve estranhar que entre nós, que visamos o fututo, aconteça o mesmo.
É assim que depois de luctar com alguns embaraços, que de prompto foram vencidos, aparece hoje na imprensa alagoana – O Caixeiro, – pequeno periódico dedicado aos interesses da classe caixeiral, da qual se constitue orgão no mundo das letras.
Pequeno em tamanho, porèm colossal na idéa, ele se propõe a trabalhar com afinco em prol dos filhos do commercio, desses entes que são a guarda e muitas vezes sustentaculo de fortunas alheias, sem que nunca d’ahi lhes provenha remuneração alguma, capaz de compensar o seu labor incessante.


O Caixeiro publicou notícias diversas, folhetins, variedades, acrósticos, poesia e prosa além de uma rotina informativa do movimento dos mercados.

O primeiro folhetim publicado nas páginas do periódico, intitulado O Amante da morta, teve sua conclusão no exemplar número 17, publicado em 11 de julho de 1880, assinado por Columbino. No exemplar seguinte tem início o segundo folhetim, com o título O Calendário. Nossa coleção apresenta a falta do número 18, portanto temos a partir do segundo capítulo.

A maioria dos artigos não apresentava assinatura. As exceções são alguns poemas, que são identificados pelo nome de seus autores ou algum pseudônimo. São eles: E. de Carvalho, Frederico Severo, G., José Batinga, Martins Gomes, Paulino Fontoura, Pelino Guedes, Ricardo Guimarães, S. L., W. e X. São encontrados também poemas de Castro Alves e Casemiro de Abreu.

A seguir um excerto do poema Onze de agosto, publicado na página quatro do exemplar numero 24. De acordo com o periódico, o poema foi recitado no Teatro Santa Isabel, localizado em Recife, pelo acadêmico Herminio A. Moreira de Lemos, dedicando ao também acadêmico José Paulino Britto de Araujo. O poema em questão aborda a luta de muitos brasileiros, que iniciando seu trabalho como caixeiro, lutaram por seus direitos e conseguiram ingressar na academia, continuando, porém, na batalha por um país melhor. O Teatro Santa Isabel havia sido inaugurado em 1850 e seu nome, escolhido em homenagem à Princesa Isabel, uma das mulheres que saiu à frente na luta pelos direitos dos homens de nosso país.

Onze de agosto

Mocidade, erguei a fronte,
Vós da Patria sois porvir;
Da sciencia o vasto templo
Procurai bem construir:
- Nos pedestaes das culumnas
Ainda mesmo com’espumas
Vòs devereis escrever:
- Instrucção e Liberdade, -
Em prol das quaes, mocidade,
Não deixeis de combater!

Quando lá – na velha Europa –
Nos tempos da tyrannia,
O gigante americano
As suas leis recebia;
Os nocentes preconceitos
Da Lusitania, os defeitos,
Nos procuram legar:
Vis tradicções, mocidade,
De nossa sociedade
Vós deveis desarraigar.

Veio a aurora de Setembro
Desdobrando seus albores,
Descortinando o futuro
D’este Paiz de primores...
Nossa obra era imcompleta
Por não termos, como certa,
A sciencia p’ra beber;
Era mister no estrangeiro
Mendigar o pão inteiro
Quem não quizesse morrer!...

Eis que nos bradam – avante –
As nossas irmãs do Norte,
Dos brasileiros altivos
Cada qual faz-se mais forte.
Clamavam continuamente:
- Somos a raça potente –
- Queremos tambem saber; -
E a mocidade altaneira
Dizia – sou brasileira, -
E portanto hei de vencer!

...
Herminio A. Moreira de Lemos

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