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A Abelha: folha litteraria e recreativa

por Maria Ione Caser da Costa
A Abelha: folha litteraria e recreativa foi mais um periódico editado por mulheres. Lançado a primeiro de setembro de 1901, no Rio de Janeiro, teve Ernestina Fagundes Varella e Maria Luiza F. Varella e Silva como diretoras.Ernestina era irmã do poeta Fagundes Varella.
A Abelha foi diagramada em quatro colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustrações, à exceção do desenho de duas abelhas ladeando o título. A redação localizava-se à Praça da República, n. 6.

As palavras do editorial demarcam o caminho traçado para o percurso da publicação:

Folha redigida e dirigida por senhoras. A ABELHA que hoje apparece, não vem adstricta á programma prestabelecido mas tratará de todos os assumptos de utilidade publica, e especialmente dos que dizem respeito á mulher.
Não queremos dizer com isto, que quebraremos lanças em prol da emancipação politica da mulher, bonita utopia, que o bom senso e a rasão tem esconjurado para sempre!
Pugnaremos, sim, pela liberdade da mulher; uma liberdade relativa; a livre posse de sua personalidade, mas uma personalidade illustrada e enobrecida pelo estudo e pelo trabalho.
Os diversos systemas de ensino, merecer-nos-hão especiaes cuidados.
Baniremos das columnas do nosso jornal, a política, esse abysmo que não tentaremos sondar; e se por acaso, no decurso de nossa vida jornalística a ella alludirmos, fal-o-hemos tão sómente no interesse das caudas que advogamos.

E encerram manifestando a satisfação em propor ao público leitor momentos de agradável leitura, colaborando, assim com o entretenimento e informação para as mulheres daquele início dos novecentos.

Na medida de nossas forças, buscaremos proporcionar aos nossos leitores, breves momentos de leitura amena e proveitosa.
As columnas da A Abelha estarão francas áquellas dentre as nossas patrícias que quiserem ampliar o circulo de sua actividade, affirmando as brilhantes qualidades com que foi dotada á mulher brasileira.
E assim, com estes despretenciosos intuitos, entregamos á publicidade, a nossa humilde folha, certas da indulgencia e generosidade do nosso publico illustrado.

Na Biblioteca Nacional encontra-se somente um exemplar, o mencionado acima. Nas pesquisas efetuadas para o título, também não foi possível detectar a presença de qualquer outro número em outras bibliotecas.

Uma informação no expediente dizia que “Esta folha sahirá provisoriamente nos dias 1º e 15 de cada mez passando depois a sahir todos os sabbados. ”

Como a maior parte dos periódicos que circulavam no final do século XIX e início do XX, os leitores tornavam-se assinantes na medida em que deixavam de devolver o exemplar recebido, portanto, era muito comum encontrarmos notas semelhantes em periódicos daqueles anos com o seguinte teor: “Rogamos ás pessoas a quem enviarmos o primeiro numero deste jornal, o favor de devolvel-o, caso não nos queiram honrar com a sua assignatura. ”

A Abelha publicou poesias, contos, crônicas e um folhetim assinado por Guimar Torrezão. Ao contrário do comum dos folhetins, publicados geralmente ao pé da página, este aparece em duas colunas da página três. A quarta página é repleta de propagandas.

As colaboradoras deste exemplar, além das editoras citadas acima foram: E. V., Fagundes Varella, Helena Rubini, Guiomar Torrezão, M..., Martha e Nerina.

A seguir um soneto de Fagundes Varella (1841-1875), publicado na página 3, na seção Variedades.


Visões da noite

Passai, tristes phantasmas! O que é feito
Das mulheres que amei, gentis e puras,
Umas devorão negras amarguras
Reposam outras em marmoreo leito!

Outras no encalço de fatal proveito
Buscão á noite as saturnaes escuras,
Onde empenhando as murchas formosuras
Ao demônio do ouro rendem preito!

Todas sem mais amor sem mais paixão
Mais uma fibra tremula e sentida
Mais um leve calor nos corações!

Pallidas sombras de illusão perdida
Minh’alma está deserta de emoções
Passai, passai, não me poupeis a vida!


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