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A Pacotilha do tio Ignacio das Mercês

por Maria Ione Caser da Costa

A Pacotilha do tio Ignacio das Mercês foi um periódico lançado na Corte em 1866, sob o subtítulo de ‘jornal de pitadas, carapuças, novidades e litteratura’. A coleção da Biblioteca Nacional, com um total de 17 exemplares, inicia com o número 6, que veio a lume no dia 26 de maio de 1866.  Falta ainda  os números 8, e do 10 ao 17. Era impresso pela Typographia Fluminense de Domingos Luiz dos Santos, com sede na rua Nova do Ouvidor, 20, local onde também funcionava o escritório da redação, associação comum naquele tempo. Circulou até 18 de novembro do mesmo ano, com o número 32, quando mudou de nome, passando a denominar-se O Pandokeu.


Na edição de número 20 de A Pacotilha, aparece a informação de que “o escriptorio da redação desta folha mudou-se da rua Nova do Ouvidor, n. 20, para a rua do Rosario  n. 116, sobrado”, passando a ser editada pela Tipographia e Lyt. Economica, localizada na rua Gonçalves Dias, 34. A partir do número 30, de 27 de outubro volta, então a ser editada pela Typographia Fluminense de Domingos Luiz dos Santos.


Inicialmente, a edição avulsa de A Pacotilha do tio Ignacio das Mercês custava 280rs. As assinaturas anuais, semestrais e trimestrais custavam 12$, 6$ e 3$, respectivamente. A partir da nona edição, publicada a 9 de junho de 1866, o semanário satírico passou a ser ilustrado, aumentando o valor das novas assinaturas, para 14$ a anual, 7$ a semestral, 3$500 a trimestral, e o número avulso 300rs,  como explica o editorial com o título ‘Carissimos leitores’, assinado por Tio Ignacio das Mercês e sua sobrinha: “custa-nos bastante, meus amigos, mas haveis de concordar que um jornal ilustrado tem uma despesa onerosa, e mesmo assim é bem modico ainda o preço”.


A edição de número 18, publicada em 11 de agosto de 1866, abrevia o título, passando a chamar-se somente A Pacotilha. No expediente aparecem os nomes de Matheus de Oliveira Borges Filho e J. M. C. Tupinambá (José Moreira da Costa Tupinambá) nas funções de proprietários e redatores. A frase Sui cuique trebuere, dar a cada um o que lhe pertence aparece como epígrafe a partir do exemplar 19 e seguintes, num espaço acima do título. Do número 25, o dístico aparece logo abaixo dele.


Entre as mudanças ocorridas na edição 18, está a da mancha gráfica do título. Ele passou a vir emoldurado, dentro de um cenário, onde são desenhados o tio Ignacio e sua sobrinha em ambientes distintos.


Tornou-se a única folha ilustrada da Corte, conforme pode ser lido no exemplar de número 29, em artigo com o título do semanário:


Cada idéa que abrilhanta-se e cresce, é um triumpho para a humanidade que vive. Protejão-nos os leitores, e a única folha ilustrada brasileira, desta côrte, prosperará brotando esperanças e plantando ambições nobres, taes como a perfectibilidade do espirito humano[1].


As ilustrações, em sua maioria são de Candido Aragones de Faria, um jovem caricaturista que iniciava carreira assinando seus quadros como Faria, e que se tornaria  um dos grandes caricaturistas do século XIX. Faria continuou ilustrando O Pandokeu, título que deu continuidade ao semanário A Pacotilha. De um modo geral, as ilustrações eram dispostas em um formato que facilitava a tipografia da época: as imagens eram colocadas nas páginas 1, 4-5 e 8, e a parte textual era dividida pelas páginas 2-3 e 6-7.


Lançado no período em que a Guerra do Paraguai estava acontecendo, os temas da publicação giravam em torno da guerra e da exaltação aos que nela se destacavam. Endeusavam o Imperador Pedro II, descrevendo-o como “o Noé dos brasileiros”.


 Nas páginas da publicação desfilam alguns artigos regulares, tais como: pitadas, novidades, parte comercial, assemblea dos quinze, revista teatral e carapuças. Há espaço para charadas e poesias. Como convém a periódicos ilustrados, o conteúdo é recheado de caricaturas e ilustrações. Os colaboradores, em sua maioria, assinavam com pseudônimo: Dom Quixote, Eufrásio das Necessidades, Lorde Cacheta, Maria das Dores, Quinquim Chico, Pedro José Ribeiro, Tio Simplicio, Tranquibernia, Omissirev Junius, Azuos Agarb, Felix Ferreira, Castor, Tio Simplicio e seus dois sobrinhos, Argos, Fibronio Tatagiba, Romantico, P. J. Ribeiro, Pedro José Ribeiro, J. L. Souza Braga, Tupinambá, Candido José Ferreira Leal e Benjamim Labottierè.



[1]http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=403962&pasta=ano%20186&pesq=

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