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O Lidador: periódico artístico, litteraio e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
O Lidador: periódico artístico, litteraio e noticioso foi lançado na antiga província de Maceió provavelmente em agosto de 1880 e impresso em tipografia que estava localizada na rua do Commercio, n. 49. A correspondência pertinente ao jornal deveria ser dirigida ao Sr. S. Espirito Santo, entretanto no fascículo não está mencionado nenhum endereço.
Publicação semanal, não apresenta nome dos editores. Uma frase colocada no cabeçalho informa que é “propriedade de uma associação.”

O único exemplar existente na Biblioteca Nacional é o de número três, publicado no dia 07 de setembro daquele ano, quando se comemorava os 58 anos da Independência do Brasil. Talvez por este motivo o fascículo tenha sido enviado para pertencer ao acervo da BN. Por sua importância, alguém decidiu enviá-lo para pertencer ao acervo da BN. Nesse período da história a distancia entre as cidades tornava tudo mais difícil. Como o título O Lidador, existem vários outros no acervo com apenas um ou dois fascículos.

No século XIX a Lei do Depósito Legal, que garante a preservação patrimonial, ainda não havia sido promulgada no Brasil. Ela regulamenta sobre o envio de publicações editadas nos países, para suas respectivas bibliotecas nacionais. No Brasil a lei “se tornou a salvaguarda da memória bibliográfica e documental, tendo iniciado ainda no governo imperial, e foi se aperfeiçoando até culminar no decreto nº 1825 de 20 de dezembro de 1907, o primeiro da República.”

O número avulso d’O Lidador foi vendido por160 rs. A assinatura na capital valia 1$500 a trimestral e $500 a mensal, enquanto que fora da capital só eram aceitas assinaturas trimestrais, que custavam 2$000.

Com a inexistência do primeiro exemplar, não é possível informar o mote que levou à criação deste título. Colocaremos, a seguir, o editorial do terceiro exemplar, que homenageia a Independência do Brasil.

Faz hoje 58 annos que nas margens do Ypirange, este monumento eterno da gloria brazileira, echoou o grito de independência; que o cherubim celeste, agitando sua plumagem d’ouro, se defundio em ondas de luz desde os alcantis da Coxilha de Sant’Anna até o magestoso rio das Amazonas; que o Leão da America do sul despedaçou a terrível jaula que, havia mais de três séculos, o opprimia.
Os sentimentos de liberdade de milhares de brazileiros venerandos, intimamente ligados aos de um grande príncipe, que reconheceu por uma intuição súbita e vasta os altos destinos de um povo, da Patria que o recebeu em seu regaço quando procurava em companhia de seu velho pai escapar aos raios de Fontenebleau, não podiam conformar-se com os novos decretos emanados da côrte de Portugal, que pretendiam fazer voltar ao primitivo estado colonial a amena terra do Cruzeiro.


Na página três está o poema intitulado “Os risos do coração”, que é assinado por J. A. Pedreira Franco.

Os risos do coração

Como a luz que além desmaia
Á tarde na solidão,
Vão-se as crenças, vão-se os risos:
Os risos do coração.

Como a flôr que, emmurchida,
Jameis ássou de botão,
Vão-se as crnças, vão-se os ridos:
Os risos do coração.

Como a planta que se dobra
Ao sopro do furacão
Vão-se as crenças, vão-se os risos:
Os risos do coração.

Como de uma ave os suspiros
Pelos mattos do serão,
Quando há perdida a plumagem,
Sua veste de verão,
Vão-se as crenças, vão-se os risos:
Os risos do coração.

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