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A Vida de hoje: chronica de litteratura e sport

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Vida de hoje: chronica de literattura e sport foi editado pelo jornalista e poeta Adolfo Araujo (1873-1915) em São Paulo, presumivelmente no ano de 1896.

A coleção que pode ser consultada na Hemeroteca Digital é composta somente por dois exemplares, os números 19, publicado em 12 de setembro de 1897 e o 60 de 16/17 de setembro de 1889. Os originais não estão preservados na Biblioteca Nacional. Pertencem à coleção particular de Canuto Mendes de Almeida - professor, jurista e jornalista, e foram microfilmados na década de 1990 pela Divisão de Arquivos do Estado de São Paulo (DAESP) em convênio com o Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros da Biblioteca Nacional (PLANO), programa criado em 1978 com o objetivo de preservar a memória hemerográfica brasileira, através da identificação, localização, organização, recuperação e microfilmagem de periódicos.

Os fascículos de A Vida de hoje resistiram as intempéries causadas pelo tempo e/ou mal-uso, que ameaçaram sua integridade física, dificultando a leitura, mas ser consultados na Hemeroteca Digital, que promoveu a digitalização dos fascículos a partir de seu negativo matriz, que estão guardados na sala cofre da Biblioteca Nacional.

O título se apresenta em letras vazadas com sombreado, seguido das palavras do subtítulo dispostas de forma despojada. Na parte inferior do título, à direita, está a assinatura do diretor e fundador, Adolpho Araujo.

Adolfo Araujo fez sua carreira literária e jornalística na capital de São Paulo. Em maio de 1906, algum tempo depois de editar A Vida de hoje, funda o jornal A Gazeta, que segundo ele, foi o primeiro jornal de São Paulo que utilizou a reportagem fotográfica. Colaborou também nos periódicos paulistas Comercio de São Paulo, A Illustração Brasileira e A Pauliceia.

A Vida de hoje iniciou sua publicação como semanário, passando posteriormente a bissemanário de literatura, esportes e costumes. Foi diagramada em três colunas e apresentou ilustrações.

Sua redação estava situada num sobrado da rua Direita nº 9. Os exemplares foram vendidos na Charutaria do Café Brazil, na Charutaria Castellões e na Charutaria do Café do Ponto.

O periódico teve como slogan "a única folha elegante de São Paulo". Em julho de 1899, transferiu-se para o Largo do Rosário e sua última sede foi a rua Direita nº 4, para onde se mudou em julho de 1902 permanecendo até o fim de suas publicações, em 1904.

A Vida de hoje teve como missão divulgar poesia decadentista, tendo à frente seu diretor Adolfo Araujo, um poeta simbolista, e contava também com a colaboração de outros apaixonados pelo assunto: José de Freitas Vale (1870-1958), Manoel Batista Cepêlos, Alfonsus Guimarães (Afonso Henrique da Costa Guimarães, 1870-1921), Wenceslau de Queirós e Júlio César da Silva.

O soneto a seguir escrito por Adolpho Araujo, com o título “Captiveiro de psyché”, foi publicado no número 19, de A Vida de hoje.

 

Captiveiro de psyché

(Papeis velhos)

 

Psyché, victima imbelle e zelosa da cega

Ira de Venus, verga e enlivecida fronte;

Ao vento o croceo manto ondeado prega a prega,

O olhar perdido além nas enfestas do monte.

 

Chora... E o pranto lhe vae como de pura fonte

Jorrando aos borbotões; o solo em bagas réga...

E por não ter a quem seus infortunios conte,

Conta-os aos céus e ao vento as torturas entrega.

 

Zephyro passa e a voz lhe escuta. Nos espaços

Detem-se commovido e rapido, nos braços,

Ergue a gentil Psyché, desenastrada a coma;

 

Em brisas lhe converte a langurosa queixa

E, levando-a depois, pelo ether fino deixa

Um rastilho subtil de delicioso aroma...

 

https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/113/1/45000011699_Output.o.pdf

 

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