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A Violeta: orgam do Gremio Litterario Julia Lopes

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico intitulado A Violeta foi lançado em 1916 em Cuiabá, capital do estado do Mato Grosso, recebeu o subtítulo de orgam do Gremio Litterario Julia Lopes e pode ser considerada uma das principais revistas femininas que circulou no início do século XX.

Escrita no interior do Brasil, o periódico cuiabano foi organizado, redigido e dirigido por mulheres, abrindo espaço para que elas escrevessem sobre os mais diversos temas, como literatura, sociedade e saúde. Divulgava moda, fomentava o papel da mulher na vida doméstica e seu bem estar e também tinha um conteúdo político, social e econômico.  Utilizavam também um espaço para defender a escolarização e a profissionalização do sexo feminino. Publicou poesias, contos, notícias e artigos de opinião.

A Violeta se destacou na imprensa por ter publicado, ininterruptamente por exatos 34 anos, o que a diferenciou de várias outras publicações de sua época, mesmo aquelas das grandes metrópoles.  Seu último número datado em 31 de março de 1950.

Inicialmente sua periodicidade era quinzenal, tornando-se irregular, pois ora saía semanalmente, ora mensalmente, ora quadrimestralmente, tendo em alguns meses sua circulação interrompida, de acordo com “as finanças do Gremio”. O número de páginas também variou bastante, oscilando entre 8 e 20 páginas.

Sua redação estava localizada na rua Dr. Joaquim Murtinho, e foi impressa pela Tipografia da Livraria Globo, situada na rua 13 de Junho, nº 13. Os valores para a assinatura mensal valiam 1$000 para a capital e 1$200 para fora da capital.

As idealizadoras de A Violeta fundaram um Grêmio Literário em 26 de novembro de 1916, homenageando Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). O Grêmio tinha a finalidade de criar um local onde pudessem “cultivar as letras femininas patrícias”, sendo o responsável pela criação e manutenção da publicação.

No decorrer dos anos que circulou, A Violeta contou com várias redatoras, entre as sócias do Grêmio Literário que se revezaram na direção da revista. As principais colaboradoras foram Amélia de Arruda Lobo (1898-1977, que também assinou seus artigos como Solange, Aurora, Dolores, A. Lobo, Amelinha, e Amelinha Lobo), Ana Luiza da Silva Prado (ora utilizando o pseudônimo de Zilah Donato), Antídia Alves Coutinho (1904-1978), Benildes Borba de Moura (1914-2010) e Maria Santos Costa. Contava também com a cronistas Maria Dimpina Lobo Duarte (1891-1966), que utilizava os pseudônimos de “Arinapi”, “ D. Marta”, e “M.D” e Maria de Arruda Müller (1898-2003) que também assinava como “Mary”, “Chloé”, “Vampira”, “Consuelo”, “Sara”, “Lucrécia”, “Ofélia” e “Vespertina”, além de “Maria Müller”, como abreviação de seu nome que tinha a responsabilidade da publicação.

A coleção digitalizada da Biblioteca Nacional inicia com o número 32 do segundo ano, no dia 15 de maio de 1918. Existem alguns números anteriores na Coordenadoria de Publicações Seriadas que ainda não estão digitalizados. Neste setor o primeiro exemplar é o de número 6, do dia 28 de fevereiro de 1917.

O poema selecionado para ilustrar esta página no dossiê, é um soneto que tem o título “Projecção” e é de autoria de Gilka da Costa de Melo Machado.

 

Projecção

Eu sinto que nasci para o peccado

Si é peccado, na Terra, amar o Amor;

Ternuras me atravessam, lado a lado,

Numa ansiedade que não posso expôr.

 

Filha de um louco amor desventurado,

Trago nas veias lyrico fervor,

E si meus dias a abstinencia hei dado

Amei como ninguém pode suppôr.

 

Fiz do silencio meu constante brado

E ao que quero costumo sempre oppôr

O que deve, no rumo que hei traçado.

 

Será maior meu goso ou minha dor,

Ante a alegria de não ter peccado

E a magua da renuncia deste amor!

 

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