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O Equador: semanário de revista, critica, propaganda pela democracia, artes e letras

por Maria Ione Caser da Costa
O Equador: semanário de revista, critica, propaganda pela democracia, artes e letras foi um periódico editado em Belém, na segunda metade do século XIX. O único exemplar preservado na Biblioteca Nacional, que pode ser consultado através da Hemeroteca Digital é o número 2, publicado em 9 de março de 1879.

Abaixo do título, foram diagramados uns pequenos arabescos e a seguir a nota: “propriedade de uma empresa”.

O periódico foi impresso pela Typographia do Diario do Gram Pará, que estava situada no número 29 da Travessa de São Matheus. O escritório da redação de O Equador estava localizado na travessa Primeiro de Março, nº 4.

A falta do exemplar de lançamento não nos permite saber o programa que a publicação desejava seguir. O artigo de abertura do segundo exemplar, aponta algumas perspectivas idealizadas pelos editores. Eis um excerto do texto:

 
Alvitrámos no nosso artigo precedente que uma de nossas mais instantes necessidades, é a de promover-se em larga esphera o espirito de associação.

Insistamos n’este ponto.

Convergem n’este momento as nossa vistas sobre as massas populares.

É claro que não ambicionamos, nem tampuco insinuamos, que o povo procure conseguir philosophar com uma ilustração equiparável á de Cusin, [possivelmente uma referência a Victor Cousin (1792-1867), filósofo francês] ou que chegue a poder historiar os acontecimentos com uma critica digna de Cantu. [menção a Cesare Cantù (1804-1895), escritor e historiador italiano].

Queremos simplesmente que o povo saiba raciocinar; que não permaneça em uma vida isolada, porque a misanthropia só serve de estacionar o seu espirito na indifferença; que bem esclareça o seu entendimento sobre os seus direitos nas funções do município; [...].

Os redatores continuam o texto promovendo as “instituições modernas”, que são as associações que determinados grupos formavam em prol da ampliação da cultura e para partilhar o conhecimento literário. Classificam as associações literárias como “o meio poderoso das classes operarias se emanciparem”.

O fascículo em questão possui quatro páginas, que estão divididas em três colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração.

Publicado aos domingos, O Equador não apresentou valor de venda para número avulso. A assinatura mensal valia 1$000 réis.

Como pode ser confirmado em seu subtítulo, O Equador tinha como tema principal a defesa da democracia, procurando também apresentar artigos sobre arte e literatura.

O conteúdo de O Equador é semelhante a outra publicação, que circulou no mesmo ano: A América, e que também pode ser consultado nesse dossiê. Além de apresentarem subtítulos idênticos, “semanario de revista, critica, propaganda pela democracia, artes e lettras”, publicaram também o mesmo folhetim.

O semanário teve como colaboradores, J. M. Latino Coelho, C. M. L. e Sousa Viterbo (1845-1910). E é do poeta Francisco Marques de Sousa Viterbo que transcrevemos a seguir o poema “As senhoras fidalgas da confraria de S. Tartufo”.

 

As senhoras fidalgas da confraria de S. Tartufo

 Podeis peccar, esplendidas senhoras,

podeis cahir da tentação no abysmo,

para o peccado velho ha o baptismo,

e para os de hoje, ó santas peccadoras,

 

há de haver umas rezas, uns bentinhos,

a benção telegraphica de Roma...

Eia, envolvei- vos n’esse casto aroma,

e embriagae-vos nos celestes vinhos !

 

Não tenhaes medo; o Christo que se adora

nas vossas perfumadas sacristias,

é um Christo que vive das orgias

e que da cruz, sorrindo, vos namora.

 

Podeis arder nos fogos da impureza,

de certo que o theologo mais fino

dirá do vosso amor que elle é divino

e que sois tal e qual santa Thereza.

 

Podeis peccar; eu sei d'uns niveos braços,

que envolveram um dia o seu vigário

e não foram pregados no Calvario

porque os salvou Nosso Senhor dos Passos.

 

Podeis peccar! Ao dar a vossa esmola,

vi tremer de vergonha a caridade;

mais que importa que chore a castidade,

se está contente Ignacio de Loyola?

 

Podeis peccar. Vós sois as carnes alvas,

sois a grave e terrivel formosura;

amaes no carnaval os Marialvas;

e, durante a quaresma, o Padre-cura.

 

Podeis peccar, podeis! Agora eu

já não tenho ninguém que me proteja;

deitou-me um sachristão fóra da Egreja,

como cão miserável como atheu.

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