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Periódicos & Literatura

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O Cenáculo

por Maria Ione Caser da Costa
O Cenáculo veio a lume no início da era republicana, em abril de 1895, em Curitiba, capital do estado do Paraná. Foi impresso pela Typographia da Companhia Impressora Paranaense, depois denominada Impressora Paranaense, situada na rua do Riachuelo, número 19.

Periódico literário, que circulou até 1897 e que teve como fundadores os literatos paranaenses Dario Vellozo (1869-1937), que fez parte do Movimento Simbolista do Paraná, Silveira Netto (1872-1942), Julio Pernetta (1868-1921), e Antonio Braga.

Estes ilustres autores, juntamente com outros jovens também interessados na leitura de autores consagrados, iniciaram ainda em 1893, um grupo de estudos que se chamou ‘O Cenáculo’. Denominados cenaculistas, tornaram-se responsáveis pela publicação de vários periódicos, sempre primando por uma forte noção de progresso.

A publicação se apresenta em quatro tomos. O tomo 1, que forma um primeiro volume físico, corresponde ao primeiro ano da revista e foi composto por 9 fascículos. O volume tem uma média de 280 páginas e oferece na falsa folha de rosto uma dedicatória à Biblioteca Nacional assinada por Andrade Muricy, com data de 1920. Os segundo e terceiro tomos, correspondem ao segundo ano, 1896, e foram encadernados em dois volumes. O quarto e último tomo, correspondendo ao terceiro ano, foi publicado em 1897. Todos os volumes, denominados pelos editores como tomos, apresentam um índice nas últimas páginas de cada volume.

No verso da página que antecede a folha de rosto aparece o seguinte: “Dogma: o sentimento pelo sentimento. Divisa: A Moral – por princípio, a Sinceridade – por norma, o Aperfeiçoamento – por fim.” Cada exemplar apresenta uma página ilustrada com o busto de um personagem referenciado naquele fascículo.

Dario Vellozo assina, em nome da redação, o editorial que apresenta a revista ao público:

Encetamos com o presente fascículo a publicação do Cenaculo. Fundada embora despretenciosamente por modestos moços estudiosos, - unidos por intima affinidade de ideias e sentimentos, - não apresentaríamos comtudo esta revista á leitura e acceitação vossas, se não lograssemos contar com a valiosa collaboração de conspícuos pensadores e eméritos jornalistas.
Anima-nos a dulcida esperança de apresentar ao Paiz alguns elementos por onde se possam inferir de nossa cultura intelectual.


Seus editores e colaboradores, partilhando arte e literatura, desejam a reestruturação da cultura, garantindo um crescimento no desenvolvimento regional e nacional. Intitulam-se um “grupo de esforçados seguidores da Arte*” que escolheram a literatura como caminho para o crescimento do país. No editorial do primeiro número de 1896, Dario Vellozo, em nome dos redatores, aponta que:

Queremos o SENTIMENTO PELO SENTIMENTO e a VERDADE PELA VERDADE. Queremos o auxilio e apoio dos que labutam valorosamente para que o Paraná se não conserve alheio ao movimento scientifico-litterario do Brazil, para que o Paraná tenha litteratura, para que o Paraná reaja contra a fratecida inércia do indifferentismo sem nervos, concorrendo com robustos elementos para a autonomia da Patria, reagindo contra o derrocar de nossas tradições, contra o cosmopolitismo que nos avassala, que nos corrompe, que nos submerge, esmaga e destroe.


Lucia Miguel-Pereira, crítica literária e ensaísta, em seu livro História da literatura brasileira: prosa e ficção (de 1870 a 1920) atribui a “breve floração” do simbolismo, ao Rio de Janeiro, segundo ela, “sempre acolhedor às novidades” e ao Paraná. A autora imputa a “ação da revista Cenáculo” e “ao prestígio de seus principais colaboradores Emiliano e Julio Perneta, Dario Veloso e Silveira Neto”. Ainda sobre O Cenáculo, a autora afirma que: “folhear-lhe a coleção é respirar a atmosfera da época, sensível na primazia – em quantidade e qualidade – da poesia sôbre a prosa.”

Um grande número de colaboradores escreveu em suas páginas. Além dos seus fundadores, podemos nomear: Albino Silva, Alfredo Munhoz, Arthur Bahia, Carvalho de Mendonça, Chicorro Junior, Claudino dos Santos, Elyseo Montarroyos, Edmundo de Barros, Emilio de Menezes, Ernesto Luiz de Oliveira, Iwan Gilkin, J. J. de Carvalho, Jean Itiberê, Leoncio Correia, Justiniano de Mello, Nestor de Castro, Ricardo de Lemos, Rocha Pombo, Victor do Amaral e Romário Martins, considerado o maior expoente do paranismo, um dos responsáveis na elaboração e criação da revista Illustração paranaense, que pode ser consultada neste dossiê.

* Cf O Cenáculo. Respigas. Silveira Netto, pag. 26 (1895) (não digitalizado).

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